XVI

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Por William


Arin e eu nos beijamos.

Isso não era algo novo, mas dada a nossa ficha, pensava que seria impossível — ou, pelo menos, impossível que ela correspondesse.

Nós dois possuíamos o desejo mútuo desse encontro de bocas. Desse prazer carnal reinventado e sem controle. Nosso desejo falava mais alto do que nosso julgamento de certo e errado.

Perdi a conta de quantas bocas beijei durante a minha vida. Aquela não era a primeira que me balançava, mas a primeira que me deixava fraco e sem poderes. Eu sentia que poderia fazer tudo por aquela mulher e, se eu olhasse minhas últimas ações, era isso mesmo que eu estava fazendo.

Era como se minha vida se dividisse em dois períodos: antes de Arin e depois de Arin. Desde que voltei da Turquia, as noites de jogos, bebidas e mulheres não existiam mais e eu só beijava Penelope porque estava, ate poucos dias atrás, preso nisso.

Meu corpo todo pedia por ela, para satisfazer os desejos dela e para lutar por um sonho que nunca foi meu. Confesso que estar no orfanato também me trazia lembranças boas da minha mãe e era disso que eu precisava depois de tanto tempo.

Aos poucos, estava me descobrindo vivo e novos desejos e metas estavam surgindo em mim. No entanto, eu não mudaria completamente do dia para a noite. Ainda não sabia o que fazer da minha vida quando aquela obra tivesse fim, mas descobriria.

Descartei dois convites, naquela noite, para pensar em tudo que aconteceu. Não sabia se conseguiria beijá-la tão logo ou se isso seria o nosso pontapé inicial. Sua reação foi confusa, mas sua resposta foi um não certeiro e Arin constrói muros ao redor de si quando quer.

Estar à uma parede de distância dela era a metáfora sobre tudo isso. Tão perto e tão longe. Era ali que ela escondia suas emoções de mim, mesmo sabendo que poderia abrir aquela porta e jamais alguém perceberia a nossa conexão — porta, essa, que ela decidiu colocar uma mobília para que eu não tentasse quebrar seu muro.

Ela é assim, desconfiada e divertida. É como se a cada dia ela também se descobrisse e, nessa parte, eu não era ninguém para julgar. Aquela garota descobriria seu lugar próximo à mim. Eu só deveria recusar... Milhares de convites noturnos com mulheres que gostam de exibir sua vida na Internet, pelos próximos dez anos. Quem sabe assim eu ganhasse uma chance?

O sono me pegou depois de pensar em como foi interessante o nosso dia. Posso garantir que até, antes mesmo, de o sono chegar, o gosto de fruta daqueles lábios e sua calidez ainda pareciam estar grudados em mim.

Esse belo pacote parecia ter se dissolvido na manhã seguinte. Não tive meu omelete preferido, visto que Daisy chegou cedo e preparou a mesa, mas minha percepção foi além. Arin estava com o olhar disperso enquanto tomava seu minúsculo café.

Seu garfo se movia pelo prato, mas nada era levado até a boca senão o suco de laranja que ela usou para disfarçar. Seu cabelo estava preso em coque com, não mais do que, alguns fios soltos. Àquele penteado era novo para mim, era como se ela até parecesse outra pessoa.

— Quando você decidir terminar sua refeição estarei pronto para irmos até o orfanato. — Decidi quebrar o gelo após repousar meus talheres e usar o guardanapo para limpar minha boca.

— Pode ir, se quiser. Hoje não posso.

Chequei aquele rosto não apenas uma, mas duas vezes. Algo estava diferente, perdido. Eu diria que até passivo, um pouco como quando Onur dava alguma ordem ou fazia algum comentário que ela não gostasse. A diferença é que Onur não estava mais por perto.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora