15.

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Aurora estava cochilando no chão do quarto, quando Eliza foi chamá-la para ir a aula particular com o falso Moody. Já era um pouco mais que seis da tarde e a garota era a única de seu quarto que tinha deixado o largo pátio da Grifinória para poder dormir.
 
– Eu não tenho mais aula hoje. – Resmungou Aurora, com a cara amassada no tapete. – Me deixa dormir, Eliza.
 
– Nem pensar. Hoje tem aula com o Moody que não é Moody e você não pode faltar, nem se atrasar. – Lembrou Eliza, ouvindo outro resmungo sonolento sair da boca da Viajante. – Foi você quem inventou de ter aulas com ele, querida. Agora sem reclamar, pode ir levantando desse chão.
 
– Tá bom, tá bom. – Aurora se deu por vencida e levantou.
 
– Você não vai ir para aula com esse uniforme todo babado, ou vai? – Perguntou Eliza, assim que viu Aurora correr para a porta. A garota voltou no mesmo instante e caçou uma muda de roupa no malão desorganizado dela.
 
– Eu já ia esquecendo. – Disse Aurora enquanto arrancava o uniforme de qualquer jeito do corpo e o substituía por uma calça jeans clara e uma blusa de mangas longas azul marinho.
 
– O que estava fazendo dormindo no chão? – Eliza percebeu que com a pressa de acordar Aurora, não tinha comentado sobre o estado em que a tinha encontrado.
 
– Eu quis dar uma variada. – Aurora tinha tomado tanta poção para dormir que não tinha conseguido chegar na própria cama. – Eu estou fazendo uma lista de todos lugares onde eu já dormir.
 
– Então já pode tirar o tapete sujo de terra da lista. – Eliza deu um sorriso carregado de sarcasmo, enquanto Aurora sorria sem graça.
 
– Eu já vou indo. Até mais tarde, Eliza. – Disse Aurora e abriu a porta do quarto para sair.
 
– Até, querida. E não mate ninguém. – Eliza disse em um tom um pouco sério de mais, mas o que ela podia fazer? Não conhecia Bartô, mas pelo histórico de apoiador de Voldemort, ela não esperava muitas coisas boas vindo dele.
 

...
 

Assim que Aurora pôs os pés na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, Bartô não hesitou em trancar a porta e distribuir feitiços pela sala para que ninguém visse ou ouvisse o que estavam fazendo.
 
– Chegou cedo, senhorita Mayne. Tem certeza que quer continuar com isso? – O falso Moody ergueu uma sobrancelha em sua direção. Era a aula em que Aurora finalmente colocaria as maldições imperdoáveis em prática.
 
– Eu tenho sim, professor Moody.
 
– Pegue a varinha. Nós vamos conversar com o feitiço de controle mental. – Disse Bartô, colocando um vidro com um aranha dentro em frente a Aurora. – Quero que faça essa aranha dançar.
 
– Certo. – Aurora concordou com a cabeça e, meio hesitante, elevou sua varinha na direção da aranha. – Imperio!
 
A aranha demorou um pouco para ser controlada, mas foi certeiro, logo o pobre bichinho estava dançando de um lado para o outro.
 
– O que mais eu devo obrigá-la a fazer? – Aurora tentou manter a voz o mais neutra possível. Estava hesitando de mais e esse ainda nem era o feitiço mais doloroso de se fazer.
 
– Isso por enquanto está ótimo. – Disse Bartô e então uma ideia um tanto inesperada passou por sua cabeça. – Acha que é capaz de fazer isso comigo? De me fazer dançar pela sala como fez com essa aranha?
 
Aurora concordou, e tomada por uma determinação incontestável, levantou a varinha para impostor.
 
Imperio!
 
Bartô demorou menos que a aranha para começar a dançar pela sala, não porque sua mente era mais fraca, mas porque Aurora não hesitou em querer que ele fizesse aquilo. Aurora não estava mais com pena. Na verdade, sentiu certo gosto em fazer aquilo e imaginou como seria se ela obrigasse Bartô a admitir o que estava fazendo naquela escola, mas Eliza já tinha dito que ela não deveria fazer mudanças grandes na história.
 
– Eu consegui. Você dançou. – Disse, assim que desfez o feitiço.
 
– Muito bem. – Bartô concordou orgulhoso. – Acha que é capaz de lançar a maldição da tortura, Cruciatus?
 
– No senhor? – Aurora ficou confusa. Ele é louco?
 
– Na aranha. – Respondeu Moody e Aurora soltou um “Ah, tá” envergonhado.
 
– Está bem. – Aurora se virou para aranha e estendeu a varinha no ar, mas não conseguiu dizer as palavras.
 
– Não consegue? – Bartô soou nada surpreso.
 
Se ele me achar fraca, não vai me ensinar mais. Aurora temeu em seu interior. Fred não vai durar se eu for inútil.
 
Crucio!
 
A aranha imediatamente começou a se debater. Era um visão horrível para Aurora, mas Bartô não pareceu se incomodar.
 
O feitiço não durou muito, já que as tremedeiras incomodaram tanto Aurora que ela não foi capaz de prosseguir.
 
– Precisa se manter firme quando for lançar a maldição cruciatus, não pode parar toda vez que vítima se contorcer de dor. – Repreendeu Bartô. – Seus inimigos não vão hesitar quando for sua vez.
 
Aurora não soube dizer se foi o tom que ele usou ou olhar com que a olhou, mas pôde jurar que aquilo tinha sido algum tipo de ameaça.
 
Eliza, alguns centímetros atrás de Aurora, não gostou nem um pouquinho daquilo.
 
Ah, se eu estivesse viva você estaria morto. Mas Eliza se sentiu triste ao lembrar de seu estado atual. Ela nunca superou a própria morte, não importava os lugares que ela podia conhecer sendo uma guardiã, o que ela tinha deixado para trás era muito mais valioso.
 
– Vamos, querida, você consegue! – Eliza a encorajou.
 
Crucio!  
 
O inseto se contorceu de dor, mas dessa vez, Aurora não fez menção de parar, continuou assistindo a pequena criaturinha sofrer, mesmo que aquilo a fizesse se sentir horrível.
 
– Termine a lição agora. – Mandou Bartô Jr, indiferente. Ele não acreditava realmente que Aurora teria forças para aquilo.
 
– Você não precisa fazer isso, querida. – Eliza tentou intervir, mas ela conhecia Aurora, sabia que ela não iria mais voltar para trás, não quando a vida de todos e de Fred, dependiam dela.
 
Avada Kedavra! – Com a voz alta e clara de Aurora, uma luz verde brilhou, levando consigo a vida do pequeno e indefeso animal.
 
A respiração de Aurora se tornou pesada, a tristeza invadiu sem hesitar, o seu peito, mas um brilho diferente tomou o seu olhar. Era determinação. Aurora agora sabia que estava pronta para enfrentar o que viria a seguir.
 
– Meus parabéns, senhorita Mayne. Você conseguiu. – Bartô parabenizou, genuinamente impressionado.
 
– Obrigada por me ensinar, professor Moody.
 
– Eu ainda estou curioso...por que você quis aprender isso? O que vai fazer com os meus ensinamentos? – Perguntou Bartô em um tom quase sonso.
 
Aurora ainda carregava coragem em seus olhos quando levantou o rosto para o comensal.
 
– O senhor sabe porque. – Disse Aurora e aquilo foi o suficiente para Bartô entender -mas talvez ele tivesse entendido errado, porque disse:
 
– Você igualzinha ao seu avô. Vejo um grande e brilhante futuro guardado para você, Aurora. – Disse Bartô. Seu sorriso e o orgulho com a qual proferiu aquelas palavras fizeram o corpo de Aurora paralisar por alguns segundos.
 
O que ele quer dizer com isso?
 
– Fico feliz em saber, professor. – Aurora disse, ainda sustentando o olhar de coragem, ainda que usava agora fosse falso.
 
– Está dispensada por hoje. Amanhã trarei um animal maior para treinarmos.
 
Aurora concordou com a cabeça e saiu andando. Não podia ficar nem mais um segundo ali. Sua avó lhe devia uma bia explicação.
 
Você é igualzinha ao seu avô. Ela repassou a voz de Moody diversas vezes em sua mente.
 
Meu avô foi um comensal?
 
Não, claro que não. Eu devo ter entendido errado.
 
Se meu avô fosse um comensal, ninguém citaria ele como um “bom Auror” assim como citavam sua avó Louise.
 
Louise. Será que minha avó também esteve do lado errado?
 
Não, a senhora Weasley não seria amiga dela se isso tivesse acontecido.
 
Talvez ela não soubesse.
 
– Aurora, o que aconteceu? – Fred se aproximou preocupadíssimo ao ver a expressão de pânico que Aurora nem sabia que carregava.
 
– Nada, Fred. Eu não quero conversar. – Disse Aurora tentando desviar de Fred, mas ele insistiu se colocando a sua frente. – É sério, Fred, me deixa passar. Eu tenho que ir ao Corujal.
 
– Só depois que você contar porque está com essa cara. – O rosto de Fred se tornou sério de um jeito que Aurora não estava acostumada a ver e aquilo a deixou mais incomodada.
 
Será que ele sabe sobre meu avô?
 
Seu amigo não se preocupou em te contar. Aurora lembrou das palavras de Jhonny e se sentiu estranha pelo sentimento de traição que surgiu em seu coração.
 
O que importa? O avô dessa realidade não é meu avô de verdade. Eu nem conheci meu avô. Retrucou, e foi o suficiente para que aquele sentimento desaparecesse.
 
– Eu estou bem, Fred. Será que dá para sair do caminho agora?

Traveler - Fred Weasley. Onde histórias criam vida. Descubra agora