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(Um dia antes da chegada das escolas para o Torneio Tribruxo.)
 

Aurora estava indo para o almoço com Fred, George e Lino quando esbarrou com o diretor Dumbledore e sua avó Louise no corredor.
 
– Vó?
 
– Aurora, minha netinha querida! – Louise cumprimentou, agarrando a neta em um abraço.
 
Já que Fred tinha dito na última carta que Aurora parecia bem melhor, Louise não perdeu a chance de ver pessoalmente. E além do mais, ela tinha respostas importantes para dar a sua neta.
 
– Vó, o que você está fazendo aqui? – Perguntou Aurora, ainda muito confusa.
 
– A sua avó se comprometeu em ajudar com as organizações do Torneio Tri-bruxo. – Contou Dumbledore. – Estávamos indo agora mesmo encontrar a senhorita para contar a novidade.
 
– E no que você vai ajudar? – Questionou Aurora, unindo as sobrancelhas em confusão.
 
Não era para acontecer isso da minha avó dessa realidade aparecer para o Torneio.
 
– Ajudar os alunos com a valsa, organizar o baile...essas coisas. O que foi, querida? Você não gostou da minha presença aqui? – Perguntou Louise, um tanto magoada e confusa. Parte dela ainda se perguntava se ela tinha alguma culpa por todo o sofrimento que a neta tinha passado nas férias.
 
– Claro que não é isso, dona Louise. Eu só estou surpresa. – Disse Aurora e sorriu sem graça, se lembrando de algo que tinha para perguntar. –   Você não respondeu minha carta. Será que podemos conversar depois do almoço?
 
– Eu adoraria. – Disse Louise, dando um sorriso igualmente sem graça. É claro que ela queria contar a verdade para Aurora, mas ainda assim era muito difícil falar do passado. – Bem, só preciso guardar minhas coisas no meu quarto e depois encontro você.
 
– Não! – Filch de repente gritou, se aproximando de Louise em uma corrida esquisita. – Uma dama delicada como a senhora não deveria machucar as mãos carregando uma mala pesada como essa. Deixe que eu te ajudo.
 
– Ah, obrigada senhor Filch. – Louise sorriu encantadora e tanto Filch, quanto Lino, que estava ao lado de George, suspiraram apaixonados.
 
– Lino, para com isso! – Repreendeu Aurora num tom baixo, enquanto se segurava para não gargalhar.
 
Não podia acreditar que seu amigo realmente tinha uma queda pela sua avó. É claro que Louise era linda para alguém da idade dela e que também tinha muitos pretendentes, mas não adolescentes de dezesseis anos.
 
– Estarei ao seu dispor, senhora Mayne. – Filch fez uma reverência exagerada e segurou a mala pesada, fazendo esforço para carregá-la em direção aos aposentos temporários de Louise.
 
– Bem, parece que irei com vocês para o salão principal. – Disse Louise, retomando o sorriso gentil no rosto.
 
– É bem-vinda a se sentar na mesa dos professores, senhorita Mayne. – Disse Dumbledore.
 
– Ah, deixe disso, diretor! Eu gostaria de matar a saudade do meu lugar na mesa da Grifinória. – Disse Louise com um sorriso tão animado que Dumbledore achou impossível discordar.
 
Ao se aproximarem da mesa da Grifinória, todos os olhares pousaram sobre Louise e os cochichos de todas as casas ficaram incessantes.
 
– Louise Mayne? – Angelina arregalou os olhos, surpresa, e se aproximou da mulher. – É tão incrível conhecer pessoalmente uma Auror tão habilidosa como você! Eu sou Angelina Johnson. Não sei se a Aurora falou de mim alguma vez.
 
– Angelina? Sim, sim, minha querida Aurora falou bastante sobre você. – Disse Louise, se lembrando rapidamente e dando um sorriso para a garota.
 
Aurora se sentou primeiro, depois Fred e Louise cada um ao lado dela. Lino e George dividiram o assento com Angelina, que estava de frente para Aurora e os outros.
 
– É verdade que você ajudou o professor Moody a prender vários comensais da morte? – Simas se apressou em perguntar, muito curioso, assim como todos naquela mesa.
 
Agora, até mesmo os alunos de outras casas tinham se aproximado para ouvir.
 
 – Sim. Foi uma época muito sombria, os bruxos estavam todos assustados com você-sabe-quem e muitos deles não tinham coragem de lutar contra os que o seguiam. Nós, Aurores, tivemos que nos esforçar muito para manter todos em segurança. – Contou Louise e então esticou o pescoço para olhar para a mesa dos professores. – O Alastor não mudou nadinha desde a última vez que o vi.
 
– Ele contou sobre você e o seu esposo em uma das aulas. – Disse Simas, animado. – O que aconteceu com ele? Ele foi pego pelos comensais? Soube que os jornais nunca revelaram direito o que aconteceu, cada um apenas falava suas teorias.
 
– Bem...o meu marido, ele...
 
– Simas, sei que minha avó é uma celebridade mas você não deveria fazer perguntas assim. E além do mais, agora é hora de almoçar, não fofocar. – Repreendeu Aurora, percebendo a reação estranha de sua avó.
 
– Aurora está certa, Simas. – Concordou Angelina, percebendo a reação de Louise também. – Você não pode sair por ai perguntando coisas tão pessoais assim para alguém que você mal conhece.
 
– Desculpe, senhora Mayne, eu não queria me intrometer. – Simas se desculpou, realmente envergonhado e arrependido.
 
– Eu sei que você não fez por mal, querido. – Louise sorriu gentilmente para o garoto e se voltou para a comida, lambendo os lábios ao se lembrar do sabor e se perguntar se continuava o mesmo depois de tantos anos.
 
– Mas e então, senhora Mayne. Como vai a família? Ainda são só você, a Aurora e os pais dela? – Perguntou George, de repente.
 
– Sim, por quê a pergunta, George? – Perguntou Louise, muito confusa.
 
– Eu fiquei sabendo que a senhora tem alguns interessados em serem seus pretendentes aqui em Hogwarts. – Disse George e olhou para Lino, recebendo um chute na canela por debaixo da mesa. – Au!
 
– Seja lá quem for, provavelmente ele não sabe a minha idade. – Disse Louise, soltando um risinho.
 
Não podia negar que seu ego ficava muito contente sabendo que mesmo sendo uma mulher muito madura, ainda tinha muitos pretendentes. Pena que nunca conseguiu superar seu primeiro amor e por isso, se via incapaz de achar outro parceiro, mesmo com opções ao seu alcance. Não importava o quão bonitos, inteligentes, amorosos ou engraçados, seus pretendentes conseguissem ser nenhum deles era seu marido.
 
– Ah, ele sabe sim. – Disse Fred, dando um sorriso cúmplice para o irmão. – É que ele gosta de mulheres mais velhas.
 
– Mas aposto que ele não gostaria que os amigos entregassem ele assim, não é? – Disse Lino entre os dentes. – Seria muita falta de consideração e provavelmente ele nunca mais falaria com eles.
 
– Uau, querido, você realmente entende como as pessoas pensam. – Disse Louise dando um sorriso ingênuo, mas Aurora soube na hora que sua avó já sabia quem era o tal pretendente.
 
Antes que Lino pudesse estragar o próprio disfarce com alguma afirmação esquisita, Dumbledore chamou a atenção pedindo um minuto de silêncio para apresentar a mais nova convidada.
 
– Como todos já devem ter percebido nós temos mais uma celebridade conosco esse ano: a senhorita Louise Mayne, uma das Aurores mais habilidosas que o mundo bruxo foi capaz de conhecer e uma grande ex-aluna de nossa escola. – Apresentou Dumbledore com orgulho e o salão se encheu de palmas. – Ela estará com vocês, acompanhando os preparativos para o baile de inverno e auxiliando junto com os professores, sobre como devem se portar nesse dia de comemoração. Eu espero que sejam hospitaleiros e façam a estadia dessa que é uma grande amiga minha, ser inesquecível.
 
O salão outra vez se encheu de palmas e assobios, todos comemorando a chegada de Louise, que como uma doce celebridade, se levantou e acenou para todos.
 
– Nossa, o diretor Dumbledore deve estar adorando ter sua avó aqui! Isso com certeza nos dará alguns pontos positivos quando as outras escolas chegarem. – Disse Hermione e olhou para Louise, sorrindo abertamente. – Senhora Mayne, é um prazer imenso conhecê-la. Eu sou Hermione Granger. Aurora e eu somos boas amigas.
 
– Eu também já ouvi falar muito de você, Hermione, minha querida. – Louise sorriu. – Aurora me disse que você é uma grande aluna. E você, Angelina, minha Aurora disse que você é maravilhosa no quadribol. Eu nunca tive interesse em jogar, achava muito perigoso na minha época, mas adoraria vê-la em campo algum dia se me permitir.
 
– É-é claro! É claro, sim! – Angelina disse, sem conseguir expressar sua animação.
 
– Me mande uma coruja no seu próximo jogo que eu darei um jeito de vir vê-la. Assim eu também vou poder ver minha Aurora. Eu me sinto tão triste quando ela não está em casa, sinto como se ela tivesse ido para a França de novo.
 
– Mas eu não estou, dona Louise. Você não precisa ter medo de me perder. – Disse Aurora, mas algo dentro dela doeu ao entender que aquela era uma mentira. Logo ela estaria em sua realidade original e Louise nem mesmo saberia.
 
Ela não vai sentir sua falta. Aurora se lembrou. Saber que eles não perceberiam sua ida, a fazia ter mais vontade de chorar. Ela vai ter outra Aurora, mas você não vai poder ter outra avó.
 
 
– Eu sei que não vou te perder, querida. – Disse Louise, acariciando o rosto da neta como se ela fosse sua joia mais preciosa. E para Louise, ela era.
 
Essa era a maior semelhança entre a Louise daquele universo e a Louise de sua realidade original: elas duas realmente amavam a Aurora mais que tudo no mundo.
 
– Vamos comer. Depois que conversarmos eu ainda quero te apresentar meus outros amigos. – Disse Aurora sorrindo e vendo Fred bufar. – O Fred não gosta muito deles e provavelmente você pode não gostar, mas eu ficaria feliz se você tratasse eles bem ainda assim.
 
– Eu vou tratar. – Disse Louise, tomando uma expressão séria. – Mas se eles te magoarem vão se ver comigo. Eu ainda conheço umas azarações.
 
– Está bem, dona Louise. Só não vá manchar seu cargo como Auror jogando feitiços em adolescentes. – Disse Aurora e começaram a comer.
 
– Se você não contar que fui eu, então ninguém vai saber. – Sussurrou Louise, arrancando uma risada da neta.
 
Eliza que a todo tempo se manteve de pé atrás de Aurora, se sentiu muito triste. Observar as duas a fazia lembrar da vida que tinha perdido para sempre. Era cruel e ela sabia que não deveria se torturar imaginando como a vida dela teria sido, afinal, ela não podia ter ela de volta.
 
Aurora e Louise terminaram o almoço o mais rápido que puderam, para poderem conversar logo. Se despediram de todos na mesa e se afastaram, indo em direção ao pátio que estava vazio para poderem ter privacidade.
 
– E então? A senhora chegou a ler a minha carta? – Perguntou Aurora, meio incerta. Louise bufou.
 
– Não me chame de senhora, querida, me faz sentir velha. – Repreendeu Louise e então acariciou o rosto da neta. – Eu li a sua carta. Me desculpe por não responder, mas achei que não era algo que eu deveria contar em uma carta.
 
– Qual a história do meu avô, vó? É tão ruim assim? – Perguntou Aurora, ansiosa e assustada. O olhar triste de Louise não respondeu muita coisa, apenas a deixou confusa.
 
– Seu avô e eu nos conhecemos no trem para Hogwarts. Ele estava sentado com uns amigos e me chamou quando eu passei. Muito garotos tinham olhado para mim naquele dia, mas só o seu avô falou comigo. Depois disso, ficamos inseparáveis. Ele era o meu melhor amigo, meu confidente, meu companheiro e o amor da minha vida, assim como é com você e o Fred. – Contou Louise, arrancando um olhar surpreso da neta. – Não pense que eu não notei como vocês estavam se olhando esse tempo todo. Eu sei que alguma coisa mudou entre vocês.
 
– Fred e eu estamos juntos. – Contou Aurora, mesmo não tendo certeza se deveria contar, já que não tinham tornado oficial.
 
– Todos nós estávamos esperando por isso. – Louise riu, mas voltou a se concentrar no assunto principal. – Seu avô e eu decidimos ser Aurores desde muito novos e quando a oportunidade chegou, não hesitamos. Foi quando viramos membros da ordem da fênix que ele mudou. Parecia estranho e irritado, sempre se esquivando das minhas perguntas. Eu achei que ele estivesse com medo da guerra, mas depois que ele tentou me matar eu percebi que estava errada.
 
– Ele tentou te matar? – Aurora estava completamente perplexa.

Traveler - Fred Weasley. Onde histórias criam vida. Descubra agora