– Aurora, querida, vamos nos atrasar. – Louise gritou a neta do primeiro andar da casa.
As malas de Aurora já se encontravam todas no carro voador -ideia copiada do caro amigo de Louise, Arthur Weasley-, mas Aurora ainda não tinha nem sequer dado as caras. Passou os dois dias anteriores inteiros e a manhã do dia da sua viagem para Hogwarts enfurnada no quarto sem dizer uma palavra ou dar um sinal de vida. E as coisas já estavam daquele jeito há muito tempo.
O primeiro e segundo ano de Aurora em Hogwarts tinham sido maravilhosos para a garota e sua família nunca a tinham visto tão feliz, mas depois de um pouco da metade do terceiro ano, ano em que Sirius Black deu as caras -e família de Aurora tinha a teoria de que ela tinha ficado desse jeito por causa da volta do sujeito e o perigo constante em que Harry se encontrava por causa disso-, tudo mudou bruscamente. E não eram só as cartas de Aurora se tornando cada vez menos frequentes ou as notas caindo que comprovavam isso, mas também as cartas que Fred e George viviam enviando para os Mayne Carter onde contavam como Aurora tinha ficado esquisita de repente e que não estava nem um pouco disposta a contar o motivo, nem mesmo para Hermione e Angelina que eram suas melhores amigas para contar segredos que eles dois e Lino não podiam saber.
Os Mayne acharam que poderia ser apenas o cansaço da adolescência atingindo sua pequena Aurora, mas com a chegada dela em casa no período das férias, eles enfim entenderam e viram com os próprios olhos o que Fred e George tanto insistiram em explicar: Aurora já não era mais a mesma garota que tinha deixado aquela casa um dia antes do início do seu ano escolar.
E não adiantava o quanto insistissem que ela comesse, saísse de casa ou só respondesse as cartas de seus amigos, Aurora já não era mais capaz de fazer isso.
Suas férias, que costumavam se sempre divertidas e calorosas, se tornaram uma tortura não só para ela, mas para todos daquela casa.
Os gritos de Aurora acordavam todos pela madrugada, pela tarde e em qualquer horário em que ela dormia. Os móveis tinham que ser consertados com magia quase todos os dias e Andrew precisou até criar uma barreira de proteção em volta da própria Aurora para que quando ela estivesse tendo pesadelos e inconscientemente gritasse, os vasos de vidro, as janelas e as molduras não quebrassem em centenas de pedaços e a atingissem.E não havia nada, nada mesmo, que conseguisse ajudá-la a lidar com aquilo, nem mesmo o carinho dado pela sua família, nem mesmo as esperanças que Eliza dava de que ela conseguiria sim, no fim de tudo, manter Fred Weasley vivo. Porque Aurora simplesmente não conseguia acreditar, não quando em seus pesadelos ela assistia Fred morrer diversas e diversas vezes sem parar.
– Aurora, você está aí? – Perguntou Louise subindo as escadas rapidamente, com medo de que sua neta tivesse desmaiado de novo, mas respirou aliviada quando viu Aurora sentada na cama com a pequena elfa doméstica Winky parada de pé em frente a sua mais nova serva, oferecendo-lhe o suéter a qual Fred a tinha presenteado muitos natais atrás. – Você me assustou! Achei que tivesse desmaiado e batido com cabeça de novo.
– Eu estou bem. – Respondeu Aurora não querendo que Louise notasse as lágrimas se acumulando em seus olhos e se levantou, passando direto pela avó e por Winky -não sem antes agarrar o suéter-, e indo em direção ao carro voador, onde se sentou no banco atrás do motorista e deitou a cabeça no vidro para descansar mesmo sabendo que não conseguiria nem mesmo pregar os olhos quando o carro levantasse voo.
– Então você tem certeza que pegou tudo? Querida, eu não quero saber de você mandando uma coruja dizendo que...
– Eu já peguei tudo, vó. – O tom desanimado de Aurora foi o suficiente para que a avó dela se calasse um pouco enquanto dirigia, mas Aurora sabia que seu silêncio não duraria muito.
– Eu não estou dizendo que você deveria simplesmente voltar ao normal e ser como era antes, – Começou Louise a dizer, olhando a todo tempo para Aurora pelo retrovisor para poder ver sua reação. – mas se puder se esforçar só um pouquinho para sair com seus amigos para Hogsmeade e mandar cartas para nos informar de tudo, seria ótimo, querida.
– Eu vou mandar as cartas. – Afirmou Aurora, olhando pela janela os prédios e casas lá em baixo.
– Vai passear com seus amigos também, não vai? – Inqueriu Louise.
– Eu vou passear com meus amigos. – Respondeu Aurora, jogando a cabeça contra o vidro e fechando os olhos para fingir que ia dormir. Louise a conhecia bem e sabia que ela estava mentindo sobre tudo, mas não tinha nada que ela pudesse fazer além de torcer para que aquela fase acabasse.
Atravessando a plataforma 9 ¾ , Louise avistou os Weasley e quis arrastar Aurora com ela até eles, mas a morena negou alegando estar muito cansada e saiu andando sem dar mais explicações até o trem, onde planejava se sentar sozinha, mas teve seu objetivo atrasado quando Draco a chamou com um tom de voz tão alto e claro que Aurora não pode fingir que não tinha ouvido.
– Olá, Draco. Amigos do Draco. – Aurora acenou com a cabeça para todos e sentiu que sua cabeça poderia simplesmente se soltar do pescoço e cair no chão devido ao cansaço.
– Nossa! Os pobretões dos Weasley estavam certos, você está um horror. – Observou Draco surpreso.
– Não os chame assim, você sabe que eu não gosto. – Disse Aurora com seu rosto tomando pela primeira vez uma emoção que não fosse desânimo.
– É claro, me desculpe. – Disse Draco com sinceridade. Ele podia ser insolente e arrogante com muitas pessoas, mas Aurora não era uma delas. – Você já falou com seus amigos Weasley ou aquele garoto que vive com eles mas eu nunca me lembro o nome? Vai se sentar com eles? Se não for, pode vir se sentar com a gente, aposto que a Pansy pode abrir um espaço para você.
Ao ouvir isso, Pansy não hesitou em arrebitar o nariz para Aurora. Era óbvio que ela não gostava da rica e muito desejada -pelo menos antes de sempre parecer acabada- Aurora Mayne, mas já que Draco parecia adorar a companhia da garota, Pansy era obrigada a suportá-la.
– Não quero ficar, obrigada. Era só isso que você tinha para falar? Eu estou cansada. – Disse Aurora querendo logo sair dali.
– Era só isso. – Respondeu Draco, sabendo que se insistisse em demonstrar preocupação ela o afastaria assim como afastou todos os outros amigos e amigas dela. – Nós nos vemos em Hogwarts, Aurora.
– Nos vemos lá. – Disse Aurora, não demorando nem mais um segundo ali e indo em direção à uma cabine sem ninguém, onde descansou o seu malão ao seu lado e torceu para que ninguém quisesse se aproximar, mas outra vez os seus planos foram facilmente interrompidos.
– Irritada, Mayne? – A voz de Jhonny, seu mais novo amigo, soou carregada de um humor ácido. Ele também largou as próprias coisas em cima do banco e se sentou de frente para ela.
Tinham virado amigos pouco antes do fim de terceiro ano dos dois em Hogwarts, bem no ano onde todo aquele problema com o Black fugitivo aconteceu -e ano onde os pesadelos de Aurora começaram-. Aurora nunca teria feito uma amizade naquele tempo, não do jeito que estava mal, mas algo na indiferença de Jhonny a deixou confortável. Ele não era como Fred e George que viviam perguntando se ela estava bem e como podiam ajudar, ele era mais como Draco, que somente conversava sobre assuntos que não remetiam à tristeza sem fim da garota e era por isso que no fim, eles foram os únicos que ela não expulsou da própria vida.
Aurora não queria ajuda, não queria pena. Ela só queria alguém que não olhasse para como ela estava se autodestruindo, e mais, ela queria manter total distância de Fred Weasley e todos que tinham alguma ligação com ele. Para Aurora já era o bastante ter que vê-lo morrendo em seus pesadelos, ela não precisava vê-lo pessoalmente para lembrar de que o fatídico futuro do amigo poderia a vir a se concretizar se ela não fosse capaz de impedir.
– E você parece feliz de mais. – Observou Aurora, forçando uma vontade de conversar que não existia, apenas para bater a cota do dia. – O que aconteceu de tão importante?
– Eu fui a copa de quadribol. – Respondeu com certa obviedade. – Você não foi?
– Eu fui, só não foi divertido para mim. Minha avó me obrigou a falar com os Weasley.
– As vezes me pergunto o que eles fizeram para você odiá-los tanto.
– Eu não odeio, só não quero mais vê-los nem falar com eles. – Vendo que aquilo tinha soado como se ela realmente os odiasse, Aurora suspirou. – É complicado, Jhonny, eu já disse.
– Tudo bem, eu já entendi e não vou insistir, tá bom? Eu já sei, sem conversas pessoais se eu quiser continuar sendo seu amigo.
– Então, como foram suas férias? E não me pergunte das minhas.
– Por que? São pessoais? – Jhonny riu revirando os olhos. – Foram normais. E eu fui a França conhecer Beauxbatons.
– Seus pais parecem gostar muito de viajar. Por que eu nunca os vi com você? Eles não te trazem até a estação?
– É uma pergunta pessoal. Desculpe, mas não vou responder, Aurora. – Jhonny imitou da maneira mais ridícula possível a voz da menina quando dizia aquilo toda vez que ele fazia uma pergunta que ela não queria responder. – É ruim quando é com você, não é, Aurora Mayne Carter?
– Tão terrível que nem sei como vou aguentar tanto mistério. – Disse Aurora com o tom de voz extremamente carregado de ironia e então deitou a cabeça no vidro para descansar. – Eu vou dormir.
– Grande novidade. – Jhonny revirou os olhos, percebendo que ela já estava dormindo. – Bons sonhos, Aurora.
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Traveler - Fred Weasley.
RomanceAo sofrer um acidente que deveria dar um fim em sua vida, Aurora acorda em outra realidade, tendo agora uma vida aparentemente perfeita. Mas as aparências enganam, e sua vida em Hogwarts pode não continuar tão boa assim.