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CAPÍTULO IX

Lan Zhan escutava o amigo Nie Mingjue relatar sua última aventura amorosa enquanto cavalgavam de volta à cidade. Em seu íntimo ia crescendo uma inexplicável frustração, e mal prestava atenção à narrativa do companheiro. Não compreendia.
Fizera um treinamento pesado com seus melhores homens e o resultado não poderia ter sido melhor. Então por que não estava satisfeito? Por que se sentia amagro e descontente? A ansiedade torturava-o, deixava-o com os nervos à flor da pele.A causa disso só podia ser a inatividade forçada dos últimos tempos, justificou para si mesmo. E a perspectiva de continuar na inatividade durante as próximas semanas só piorava seu estado de espírito.

Embora seu contrato para defender o Grande conselho ainda vigorasse, as chances de lutar eram muito, muito remotas. O mais provável é que seus soldados fossem permanecer ociosos, apreciando as paisagens campestres.A Província agora gozava um raro período de paz. Os rumores de que o Imperador estava planejando nova campanha na China eram exatamente o que eram: rumores, e nada mais. Lan Zhan sabia que só lhe restava, por ora, treinar os soldados durante o dia e providenciar-lhes vinho e prostitutas durante a noite para mantê-los calmos.

Claro, a causa de sua insatisfação só podia ser aquele período de ócio forçado.
Entretanto, Lan Zhan mentia para si mesmo. E, no fundo, sabia disso.
- Quando eu o raptei, seu pai e seu irmão aplaudiram à soleira da porta. Chegaram até a me acenar e desejar-me boa sorte - ia dizendo Mingjue.

- Eles... o quê? - Lan Zhan virou-se para seu tenente e franziu o cenho.

Mingjue desatou a rir, colocando as mãos sobre o ventre.- Só queria ter certeza de que estava me ouvindo, Lan Zhan .

- Eu estava ouvindo, ora.

Mingjue tornou a rir. Inclinando-se, deu-lhe um tapinha no ombro.
- Pode ser que sim. Mas seu pensamento estava muito longe daqui. Posso até adivinhar a causa de sua distração.

Lan Zhan endereçou-lhe um olhar enviesado e praguejou baixinho. Tinha que dar um basta naquela situação patética.

Desde que entrou nos aposentos de Wei Ying na noite de núpcias, a imagem dele o perseguira sem trégua, povoando-lhe os pensamentos durante o dia e indo busca-lo em seus sonhos durante a noite. Sentia o cheiro dele aonde quer que fosse e, quando empunhava a espada, era a textura de sua pele que tateava na ponta dos dedos. O rosto de Wei Ying surgia-lhe diante dos olhos nos momentos mais inesperados. E ouvia-o murmurando-lhe palavras de amor que soavam como um sortilégio. Parecia viver a beira do sonho. Ou do pesadelo. Era uma agonia. Era simplesmente horrível...

- Não entendo o motivo de seu conflito, Lan Zhan - Mingjue disse, encarando-o com ar solidário. - Devia ficar contente, pois lhe deram por esposo um lindo ômega. Já imaginou se, em vez dele, lhe dessem uma megera gorda e vesga?

- Mais uma vez, ele desandou a gargalhar. - Para fazer filhos, teria então que colocar uma venda nos olhos e pensar nos ômegas de Mona Diana!

Mas Lan Zhan não achou graça na brincadeira. Não confiava em Wei Ying , a despeito de sua aura de inocência, assim como não confiava em Ning e SuShe.

Não obstante, não conseguia ficar longe dele. Como explicar a Mingjue que, em apenas algumas semanas, Wei Ying o dominara com um sentimento que ia muito além da simples paixão física? A perspectiva de perder o controle sobre si o aterrorizava.

Os olhos de Nie Mingjue brilharam travessos.- E, por falar em Mona Diana, o que acha de irmos visitá-la hoje à noite?
Talves um dos ômegas possa ajudá-lo a esquecer um pouco seu esposo. Se é que realmente deseja esquece-lo...

- Sim, é uma boa idéia. Vamos à casa de Mona Diana - Lan Zhan concordou sem muita convicção.Na verdade, a ideia não o aprazia e não aliviou seu coração. Os ômegas do bordel de Mona Diana eram bonitos, saudáveis e habilidosos. E ele não tinha vontade de se deitar com nenhum deles...Durante o trajeto até o palácio dos Lan , Lan Zhan acabou se convencendo de que talvez Mingjue estivesse com razão. Talvez um belo ômega fosse tudo o que ele precisava para desanuviar o espírito.

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora