CAPÍTULO XVII
— Quisera que o senhor pudesse ver meu castelo. É realmente encantador. — JiangCheng lançou um olhar cativante para Wei Ying. — Tenho certeza de que gostaria muito dele. Fica perto do mar e…
Wuxian não retardou o passo e continuou a rodopiar no compasso da dança. Todavia, perdeu a noção do ambiente que a cercava. Não mais enxergou as luzes brilhantes do salão e os outros pares que dançavam. Não mais ouviu os acordes das violas e alaúdes. Não mais sentiu o aroma de iguarias misturado ao perfume das damas ricamente ataviadas. Em vez disso, viu-se transportado para o cenário de sua infância, e reviveu-o com tal nitidez, que era capaz de identificar cores, sons e fragrâncias.
— Pode-se sentir o cheiro da brisa marinha até mesmo no meio do roseiral.Aquelas palavras escaparam de seus lábios com tanta naturalidade, que Wuxian nem se aperceberia de sua indiscrição se JiangCheng não lhe apertasse o braço de leve.
— Mas como sabe disso? — ele perguntou, surpreso.
— Saber o quê? — Wuxian replicou, dissimulando seu constrangimento com um sorriso.
— Ora, como pode saber que no castelo de Jiang há um roseiral e que, mesmo enterrando o nariz nas pétalas de uma rosa, a gente ainda sente o cheiro do mar?
— É elementar, meu caro . Estou certo de que, Yunmeng, todo castelo que se preze deve ter um roseiral. Se o seu castelo fica perto da praia, então o cheiro do mar provavelmente chega até o roseiral, não é?
Wuxian encolheu os ombros e riu.
JiangCheng riu também e assentiu, pois tinha como lema nunca contradizer um ômega. A explicação de Yiling Laozu era perfeitamente lógica e simples; ainda assim, ele havia flagrado um brilho nostálgico em seus belos olhos prateados. Era como se, por um momento, Wei Ying estivesse realmente vendo o jardim do castelo e ficasse entristecido.
Aquele ômega tinha seus segredos. JiangCheng logo adivinhara isso quando haviam sido apresentados no pátio do palácio. E agora queria ser o primeiro a desvendar todos esses mistérios.
Até o fim da dança, Wuxian evitou olhar para o conde e concentrou-se para não errar os passos. Por mais que tivesse se empenhado em dar-lhe uma explicação convincente, percebera uma sombra de dúvida no olhar dele. JiangCheng estranhara sua atitude. Disso Wuxian tinha certeza. Em que o jovem mestre estaria pesando agora?, perguntou-se, apreensivo.Quando a dança terminou, JiangCheng fez menção de lhe oferecer o braço, já planejando qual seria sua próxima manobra para cativá-lo. Foi quando viu Hanguang-jun postado à sua frente. O alfa fez-lhe uma mesura e sorriu-lhe de modo polido. Porém, seus olhos permaneceram frios.
— Sinto interrompê-los, Jovem mestre, mas receio ter que privá-lo da companhia de meu esposo por alguns momentos.
JiangCheng ignorou a animosidade que permeava a voz de seu anfitrião. Sorriu educadamente.
— Não se incomode comigo. Ficarei mortificado, mas tratarei de me consolar com uma taça de seu excelente vinho, Hanguang-jun.Assim, Wuxian e Lan Zhan se afastaram. O conde acompanhou-os com o olhar. Era um homem que sabia apreciar o prazer dado por um ômega, mas que, a despeito de qualquer coisa, gostava dos ômegas por si mesmos, ao contrário de outros sujeitos. Porém, nutria por Yiling Laozu um sentimento que jamais devotara a outro ômega: uma espécie de cumplicidade, um vínculo inexplicavelmente forte. Seria difícil afastá-lo do marido a quem tanto parecia amar, o conde refletiu, mas nunca se sabia. Não, naqueles tempos incertos, nunca se sabia…
Eles cruzaram o amplo salão em silêncio. A postura dura de Lan Zhan e sua expressão furiosa desencorajaram a abordagem de um ou outro convidado mais falastrão que desejasse manter uma conversa.
— Há algo errado? — Wuxian afinal perguntou.
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As duas vidas de Wei Wuxian
FanfictionO Duque Hanguang-jun precisava consumar aquele casamento arranjado. Mas não confiava em seu ômega: Yiling Laozu era conhecido em Yiling tanto por sua beleza quanto por sua maldade! Contudo, na noite de núpcias, quando ele o fitou com um misto de ver...