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Capítulo XVIII

Chegamos ao final, obrigada por lerem....

EPÍLOGO

Gusu, 25 de agosto de 1504

— Wei Ying!

Wuxian conseguiu se desvencilhar do pequeno Shizui que lhe requisitava toda a atenção e virou-se para Lan Zhan.

Ele atravessou o jardim com passadas largas e olhar radiante. Wuxian relaxou. Nos últimos dias... não, na verdade, nos últimos meses, aguardara ansiosamente a notícia que agora Lan Zhan lhe trazia. Levantou-se e aproximou-se dele.

— Nosso tormento acabou! — Lan Zhan tomou-o nos braços e rodopiaram por entre os canteiros. — Leia isto.

Com as mãos ligeiramente trêmulas, Wuxian pegou a carta que ele lhe estendia.

Altezza,

É com imenso prazer que, humildemente, comunico-lhe que, no dia vinte de agosto, Wen Chao foi levado a bordo de um navio como prisioneiro dos senhores espanhóis do reino de Nápolés. O navio rumou para Valência.

Wuxian leu e releu aquelas linhas. Sim estava acabado. Realmente acabado. Sabia que, nos próximos dois anos e meio que Chao ainda teria de vida, ele ficaria por demais ocupado em salvar a própria pele para sequer pensar em dívidas. .

Conforme o previsto, o alfa vivia na penúria e já não detinha nenhum poder. Wuxian teve um calafrio. Estava tudo acabado. As palavras ficaram pairando no ar, mas invés de trazer-lhe felicidade, pareciam prenunciar nova desgraça.

E quanto a seu tempo naquela vida? Estaria esgotado também?

Lan Zhan parou atrás dele e cingiu-o com os braços fortes, alisando sua cintura que já começava a se alargar devido à terceira gravidez.

— Finalmente estamos livres, meu amor. — Ele depositou um beijo úmido em sua nuca. — Estamos livres.

Wuxian abandonou-se a suas carícias, mas não pôde se impedir de sentir outro calafrio. Não queria olhar para o retrato, porém, foi inevitável. Os olhos de Yiling Laozu estavam pousados nele.

E diziam-lhe silenciosamente que, agora que Lan Zhan se achava em segurança, era hora de partir.

"Quero minha vida de volta."

Wuxian ficou rígido ao ouvir aquela exigência ecoar em seu cérebro, materializada na voz que ele havia se acostumado a ouvir como sendo a sua. Não!, protestou silenciosamente, fixando o retrato. Cometeu suicídio, cego de desespero e de amor por seu marido traído. Morreu por sua única e exclusiva culpa.

Os olhos no quadro dardejaram, mais exigentes, mais implacáveis.

"Devolva-me minha vida."

Wuxian meneou a cabeça. Tinha medo de estar enlouquecendo.

Li com meus próprios olhos as últimas páginas de seu diário, escritas na véspera do solstício de verão, revidou. Esse dia passou há dois rneses. Foi quando cortou sua própria garganta. Agora não pode tomar o que é meu. Não pode!

Todavia,o ômega no retrato não cedeu.

Wuxian sentiu um baque quase físico. Deixou a carta cair no chão. Apertou as mãos de Lan Zhan. Não permitiria que aquela vida lhe fosse roubada, prometeu a si mesmo. Não permitiria…

Tornou a olhar para o retrato, sem se intimidar. E, de repente, soube exatamente o que deveria fazer. Era um risco que teria que aceitar, da mesma forma como aceitara tantos outros.

Chamou sua escrava.

— Faça uma fogueira bem grande, Daria.

— Como se sente? — Lan Zhan perguntou-lhe, sem esconder a preocupação. Passou as mãos por seu ventre e percebeu que a criança estava inquieta.

— Deixe-me chamar o médico.

Wuxian segurou-o pelo braço.

— Não, por favor. Fique aqui.

Alarmado, ele se imobilizou. Velhas perguntas vieram à tona. Mas voltaram a cair no esquecimento quando se concentrou em Wei Ying, em seu calor, em seu perfume e em seu corpo, que já haviam lhe dado todas as respostas de que necessitava.

Juntos, os dois esperaram que os criados trouxessem lenha e fizessem uma grande fogueira.

— Tirem meu retrato da moldura e enrolem a tela — Wuxian ordenou-lhes.

Os servos procederam conforme suas instruções e trouxeram-lhe a tela.

Consciente do perigo, mas sabendo que devia ir até o fim, Wuxian soltou a mão de Lan Zhan e apanhou a pesada tela. No momento em que seus dedos se fecharam em torno dele, sentiu as mãos queimarem. Ouviu o riso do filho. Viu o olhar de Lan Zhan, repleto de amor. Deu-lhes, as costas e reprimiu o impulso de fitá-los ainda uma vez.

Acercou-se então da fogueira. Pressentiu o vácuo negro do outro lado do fogo, atraindo-o inexoravelmente para seu âmago. E, mesmo lutando contra ele, percebeu que sua vontade enfraquecia.
Estava perdendo a batalha.

Começava a deslizar para longe. Ciente do perigo, abandonou-se à força que a puxava. E encheu-se de amor por Lan Zhan, por seu filho e pela criança que estava para nascer. A emoção, pura e forte, fluiu dentro dele e circulou-o com uma aura de luz.

O magnetismo que o atraía foi enfraquecendo, enfraquecendo. Quando se desfez completamente, Wuxian atirou a tela ao fogo. Recuou para evitar as fagulhas que se elevavam no ar e ficou contemplando o retrato arder entre impossíveis chamas azuladas. Agora estava livre.

Quando só restaram cinzas, virou-se para Lan Zhan e estendeu-lhe a mão.

Hanguang-jun abraçou-o. Sabia que algo vital havia acabado de acontecer ali. Não compreendia do que se tratava, e nem precisava. Tudo o que precisava saber era que, de súbito, a tensão que seu esposo carregara em todos aqueles anos havia se dissipado.

— Eu te amo, tesoro — murmurou, sorrindo.

— Diga meu nome, Lan Zhan. Diga meu nome.

— Eu te amo, Wei Ying.

Wuxian retribuiu o sorriso. Trouxe o rosto dele para junto do seu. Quando seus lábios se uniram, disse silenciosamente adeus a Wei Wuxian . Tinha viajado no tempo e, agora, para o melhor e para o pior, para sempre, era Lan Wei Ying,o honesto Yiling Laozu .

Não havia nenhum outro.

(...)

Fim !!!!

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora