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CAPÍTULO XXII

Lan Zhan abriu caminho entre as aias de Wei Ying, que, ao vê-los entrar nos aposentos, ajoelharam-se para fazer-lhes uma reverência.

— Levantem-se, rápido! Ajudem Wei Ying — ele ordenou num tom áspero, pontilhado de fadiga e impaciência.

Depositou o ômega sobre a cama e observou-o. Estava branco como um lençol, os ossos despontando sob a pele macilenta. Uma fraca pulsação na base de seu pescoço era a única indicação de que ainda respirava.

Sentindo-se impotente, Lan Zhan viu as damas de companhia cobrirem a fronte do esposo com panos úmidos. Depois que se retiraram, Daria fez menção de mergulhar um lenço de cambraia em uma caneca que continha um líquido escuro. Ele a deteve.
— O que é isso?

— Flores de arnica curtidas em aguardente, Excelência. É um remédio eficiente e não fará mal algum ao Yiling Laozu.

Lan Zhan assentiu e permitiu que ela embebesse o lenço no medicamento. Sabia que existia um forte vínculo entre Wei Ying e a jovem escrava, mas, mesmo assim, olhou-a cheio de prevenção enquanto ela torcia o lenço, derramando gotas do líquido nos lábios entreabertos do amo. A seguir, Daria massageou-lhe as têmporas e os pulsos.
— Yiling Laozu ficará bem. Só precisa de um pouco de descanso. Passou as últimas semanas dormindo numa cadeira para, velar seu pai — a escrava disse, cautelosa, lançando-lhe um olhar obliquo.

Então, naquele tempo todo, enquanto ele perambulava por Pequim como um alfa medíocre, afundando-se em temores e autopiedade, Wei Ying se exaurira cuidando de seu pai. Uma nova onda de remorso apoderou-se de Lan Zhan.
Ajoelhou-se ao lado da cama e descansou a cabeça contra o flanco de Wei Ying. Quando ele se moveu, endireitou-se com um sobressalto e fitou-o.

Preso de vertigem, Wuxian não conseguiu firmar a vista. Por um terrível instante, acreditou que se achava no Castelo de Wei.

— Lan Zhan?

— Estou aqui, tesoro. Como se sente?

Ele afagou-lhe os cabelos, sorrindo ternamente. Wuxian ficou aliviado ao ouvir aquela voz tão adorada, e suas faces readquiriram um pouco de cor. Piscou um par de vezes. Devagar, o mundo ao seu redor foi ficando mais nítido.
— O que aconteceu?

-Desmaiou enquanto vínhamos para seus aposentos. Daria contou-me que não dorme em uma cama desde que meu pai adoeceu.

Wei Ying limitou-se a fazer um gesto de descaso. Lan Zhan teve vontade de estreitá-lo.

— Ficará bem agora? Preciso me lavar e me livrar destas roupas.

Lan Zhan não queria deixá-lo, mas sua aparência era deplorável. Cheirava a suor e poeira, e suas roupas pareciam ter sido mergulhadas na lama.

Wuxian soergueu-se e recostou-se aos travesseiros.

— Não se preocupe comigo, Lan Zhan.
Daria esgueirou-se para fora do quarto, deixando-os a sós.

Lan Zhan quase disse a Wei Ying que retornaria tão logo se banhasse e vestisse roupas limpas. Porém, a recordação da última noite que haviam passado juntos, naquele mesmo quarto, voltou para atormentá-lo. De repente, sentiu-se tremendamente inseguro.

Wei Ying o acolheria em seu leito? Poderia acolhê-lo? Se a lembrança de sua própria violência lhe revolvia o estômago, o que ele, sua vítima, não sentiria?

— O que houve? — Wuxian indagou, tocando-lhe o rosto. Ele desviou o olhar.

— Não sei se deseja que eu volte para este quarto. Eu não o culparia se me repelisse.

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora