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CAPÍTULO XII

A consciência de que a vida de Lan Zhan estava em jogo renovou as forças de Wuxian. Sabia que, se demonstrasse medo ou fraqueza agora, só estaria colaborando para o êxito de Wen Chao. Assim, resolveu desempenhar o papel de esposo alegre e confiante do herdeiro de Gusu.

Enquanto se encaminhavam para os assentos que lhes haviam sido destinados, Wuxian sentiu-se cada vez mais determinado. De repente, percebeu que já não precisava desempenhar um papel, pois estava realmente confiante.
As casas da praça haviam sido decoradas com bandeirolas festivas, cujas cores vivas sobressaíam nas fachadas de pedra marrom-avermelhada. Um palanque fora montado especialmente para eles, e ostentava um toldo com as cores dos Lan.
Ao redor do Campo, espalhavam-se fileiras de bancos para acomodar os visitantes e membros ilustres da comunidade. A gente simples ficara relegada aos espaços atrás das barreiras de segurança que circundavam o local, e a tensão da massa espremida ali crescia a cada minuto.
Sobre o tablado, as cadeiras forradas de seda traziam o símbolo dos Lan: espadas cruzadas sobre um escudo axadrezado de azul e branco. Ao ocupar seu lugar, Wuxian sentiu orgulho. E, súbito, viu que tão importante quanto salvar a vida de Lan Zhan era assegurar que seu filho um dia o sucedesse.
Enquanto ela assim ia refletindo, uma voz elevou-se no burburinho da multidão:
— E viva Lan! E viva Gusu!

Um coro ergueu-se repetindo aquelas palavras. O tributo repercutiu por toda a praça, amplificado pelas paredes de pedra do casario.

  Lan Qiren ficou de pé e levantou o braço em agradecimento. Em questão de segundos, a multidão se pôs a gritar

"Hanguang-jun, Hanguang-jun!". E ele também se levantou, acenando para todos com evidente prazer. Seu plano funcionara até melhor do que tinha imaginado: Mingjue, disfarçado de mercador, dera o primeiro grito e logo fora acompanhado pela multidão agitada.

Após um minuto, Lan Zhan ergueu o braço pedindo silêncio. Quando os brados cessaram, levou as mãos em concha à boca e gritou:

— Agora às festividades!

A um sinal seu, o mestre de cerimônias ordenou que os tocadores de tambor fizessem soar seus instrumentos.

Wen Chao olhou para o velho duque e fez um gesto de apreciação, entendendo muito bem qual era o propósito daquéle espetáculo.
— O povo o ama, meu amigo — disse em seguida, virando-se para Lan Zhan.

— Quando eu tinha quinze anos, fiz-me passar por cavaleiro e ganhei o palio para a contrada a que pertencia. Desde então... — Ele não completou a frase. Riu e encolheu os ombros com modéstia.

O sorriso de Chao se alargou, encheu-se de amabilidade solicitude. Sim, ele pensou. Teria que agir com muito, muito tato. Lan Zhan estava se revelando ainda mais esperto do que a princípio imaginara. Não lhe seria tão fácil ludibriá-lo. .

A parada prolongou-se por um bom tempo, com as contradas apresentando seus melhores tocadores de tambor e portadores de bandeira. Finalmente, uma grande carroça puxada por quatro bois brancos adentrou a pista de areia, trazendo o Conselho dos Anciãos. O frenesi que tomou conta dos espectadores assinalava quanto estavam ansiosos para verem a corrida, à parte o genuíno respeito que devotavam aos integrantes do conselho.

Após alguns minutos a carroça terminou seu percurso e deixou a pista. Os cercados, que até então continham o avanço dos cavalos, foram abertos. Os animais, nervosos e agitados, foram conduzidos até defronte do tablado, onde ficava a marca que indicava o ponto de partida e de chegada. Os cavaleiros, cada qual envergando as cores de sua contrada, tomaram suas posições, empurrando-se uns aos outros na tentativa de garantir a dianteira.
Naqueles últimos instantes que precederam o sinal de largada, . houve troca de ameaças, insultos e gracejos entre os competidores. Armava-se uma cena tumultuada e rude, na qual prevalecia uma única regra: os cavaleiros estavam proibidos de tocar nas rédeas de outra montaria que não a sua. À exceção disso, a corrida era uma competição livre, sendo permitido aos cavaleiros lançar o chicote sobre os rivais ou as montarias destes e, inclusive, tentar derrubá-los da sela com empurrões, pontapés ou quaisquer manobras. Não raro, um cavaleiro era atirado ao chão e tinha que fugir às pressas para não ser pisoteado pelos cascos dos outros cavalos que vinham logo atrás. Também era comum uma montaria cruzar a linha de chegada com a sela vazia. Isso não invalidava sua vitória, pois naquela prova o que mais contava era a habilidade do cavalo.

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora