CAPÍTULO XXV
Os joelhos de Wuxian tremiam de modo incontrolável quando ele desceu do cavalo. Um dos homens que o acompanhara na viagem amparou-o prontamente. Wuxian agradeceu e afastou-se.
A despeito da hora adiantada, aquela manhã de maio já estava quente. Suado, com as faces abrasadas, Wuxian recostou-se a uma árvore no pequeno bosque onde haviam parado. Passou os braços em volta da cintura, para confortar a si mesmo e à criança que repousava em seu ventre. Finalmente tinham chegado ao fim de sua jornada.
Que ironia!, pensou amargamente. Yiling Laozu havia cavalgado até Qinshan com o intuito de atrair seu marido para uma armadilha. E ele, Wei Wuxian, refizera o mesmo caminho, trazido ali graças a Lan Zhan. Não se conformava com o fato de ele ter sido tão descuidado, tão ingênuo.
Enquanto haviam galopado pela estrada, Wuxian fora tomado de crescente pavor. Agora que estava tão perto das muralhas amareladas de Qinshan, sua ansiedade não conhecia limites.
Na extremidade sul da cidade, o grande complexo do Sol avultava-se como a proa de um navio. Naquele momento, Wuxian avistou a ponte elevadiça da fortaleza sendo abaixada para permitir a passagem. de um cavaleiro solitário. E desejou que um exército pudesse cruzar a ponte para resgatar Hanguang-jun.
Os dois alfas que o acompanhavam pertenciam à guarda pessoal de seu marido. Por ordem dele, tinham permanecido à sua disposição em Gusu.
Wuxian não duvidava que dariam a vida por seu senhor. Entretanto, era suficientemente realista para perceber que eles não tinham a menor chance de sucesso.
O próprio Wen Chao, respaldado por dez mil homens e a melhor artilharia da Europa, levara duas semanas para fazer a cidadela de Qinshan capitular.Wuxian sabia que sua única esperança consistia em se infiltrar na fortaleza. Os soldados que haviam estado com Lan Zhan durante o cerco da cidade alertaram-no para as dificuldades de se penetrar ali. Mas ele não lhes dera ouvidos. Se Lan Zhan tinha logrado driblar os guardas e enviar-lhe uma mensagem, então ele também lograria entrar na fortaleza e libertá-lo.
Percebendo um movimento a seu lado, virou-se e deparou com Suyan. O anão implorara que lhe fosse permitido acompanhá-lo na viagem. Wuxian assentira, pois sabia que a experiência dele nos assuntos clandestinos era bem maior que a sua.
— Tudo dará certo, Yiling Laozu.E, com esse incentivo, Suyan estendeu-lhe uma trouxa. Wuxian agradeceu com um meneio, nervoso demais para falar. Apertou a trouxa contra o peito, escondeu-se atrás de uns arbustos. Despiu as roupas que usara durante a cavalgada e vestiu uma roupa simples de camponês. Abaixou-se então e esfregou um punhado de terra no rosto. Tornou a se levantar e alisou a barriga, dando um suspiro. Felizmente sua gravidez ainda não era visível. Rezava para que seu disfarce de plebeu funcionasse. Teria que se passar por um inocente ômega camponês indo ao mercado.
Wuxian pôs debaixo do braço um pequeno fardo de couros curtidos e cobriu o último trecho de estrada que o separava da cidade. A estreita passagem estava apinhada naquele dia de feira. Homens, mulheres e crianças se acotovelavam, carregando cestas e sacos ou puxando carrinhos de mão. Com olhares invejosos, muitos seguiam um ou outro camponês próspero que levava suas mercadorias no lombo das mulas. A poeira dançava no ar, e ouviam-se pregões, gargalhadas, gritos e imprecações.
Wuxian avançou decidido, ignorando a própria exaustão e as pessoas que o cercavam. Tinha que se concentrar em sua missão. Na verdade, não tivera tempo de elaborar um plano cuidadoso. Seus homens, disfarçados de camponeses e mercadores, entrariam na cidade mais tarde. Ele só rezava para que tudo desse certo e pudessem se encontrar à hora certa, no local combinado.Uma multidão se amontoava diante dos portões da cidade. Vozes se elevavam, discutindo com os guardas. Uns pagavam o pedágio com moedas, outros, com mercadorias. Aproximundo-se, ele verificou que, atrás da mesa onde os guardas se postavam, um soldado impassível, montado num cavalo, supervisionava o movimento. Usava um uniforme com as cores de Wen Chao, o preto , amarelo e o vermelho.
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As duas vidas de Wei Wuxian
FanfictionO Duque Hanguang-jun precisava consumar aquele casamento arranjado. Mas não confiava em seu ômega: Yiling Laozu era conhecido em Yiling tanto por sua beleza quanto por sua maldade! Contudo, na noite de núpcias, quando ele o fitou com um misto de ver...