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CAPÍTULO XVI

Foi Lan Zhan quem quebrou o encantamento daquele instante, entregando as rédeas do cavalo a um servo e cruzando o pátio com largas passadas. E foi por puro senso de dever e respeito filial que saudou primeiramente o pai. Sem se dar ao trabalho de descalçar as luvas, tocou a mão estendida do regente, curvou-se e beijou o anel no dedo indicador dele.— Seja bem-vindo, meu filho. — Mesmo enquanto se perguntava como seria abraçar Lan Zhan, dom Qiren já sabia que era tarde demais para tentar contornar a distância que os separava. Então suspirou e limitou-se a dizer:

— Muito nos alegramos com seu sucesso.Hanguang-jun já previa como seria a recepção do pai. Não obstante, ficou algo desapontado com tão fria acolhida, e as velhas feridas de seu coração tomaram a se abrir. Ele aceitou a congratulação com uma mesura. Porém nada disse, pois os dias da campanha haviam deixado um gosto amargo em sua boca.

A seguir, virou-se para Wei Ying. E todos os dissabores foram esquecidos.Perdido no olhar do marido, ele conservou-se perfeitamente imóvel. Os lábios de Lan Zhan curvaram-se então num raro e irresistivel sorriso de menino, e ele veio postar-se à sua frente. Sem deixar de fitá-lo.

Wuxian tirou uma das luvas e estendeu-lhe a mão.— Benvenuto, Lan Zhan.Seu sussurro era tão suave e etéreo quanto seu hálito morno, mas Lan Zhan recebeu-o como a uma carícia.

Descalçando sua própria luva, segurou-lhe a mão e inclinou a cabeça para beijá-la.Quando seus lábios roçaram nos dedos de Wei Ying, sentiu sua pele fria, suas mãos rígidas e trêmulas. Lan Zhan endireitou-se e encarou-o. Viu nos olhos dele promessas, boas vindas, e pela primeira vez sentiu que realmente havia voltado para seu lar.De novo, os dois ficaram se entreolhando, alheios a tudo, mal ouvindo os cumprimentos que dom Qiren trocava com os convidados que Lan Zhan trouxera.

— Ah, vejo que Hanguang-jun ainda está em plena lua-de-mel. Devemos assegurar que as comemorações não se prolonguem até muito tarde, hein?

O tom ligeiramente irônico de Wen Chao tirou-os de seu transe de amor e saudade. Lan Zhan soltou a mão do seu ômega, relutando em separar-se dele e ao mesmo tempo não desejando expor aos demais a intimidade daquele momento.

Dissimulando sua aversão, Wuxian estendeu a mão para Wen Chao. Seja bem-vindo a Gusu, dom Wen. Ao que parece, seu nome já é, por si só, um arauto dos êxitos que conquistou

.Fazendo um floreio, ele beijou-lhe a mão e, a seguir, endereçou-lhe um olhar astuto.— Grato pelas palavras lisonjeiras, jovem mestre. Estou contente de passar alguns dias no mundo civilizado... na companhia de um ômega virtuoso como o senhor.

.Quando Wen Chao se aprumou, Wuxian percebeu sua expressão de desafio. Manteve-se impassível, enquanto por dentro desmoronava. Sentiu primeiro medo, depois raiva. E, por mais que tentasse ocultar aqueles sentimentos, sabia que Chao os lera em seu olhar.Ele sorriu.

Aprazia-lhe que Yiling Laozu não fosse uma conquista fácil. Ômegas como Lingjiao, sua cunhada, que não hesitavam em cair em seus braços, eram altamente desestimulantes. Preferia de longe os ômegas que resistiam com unhas e dentes. Assim, tinha satisfação redobrada quando conseguia lhes quebrar a resistência. E ele sempre conseguia.Wen Chao olhou por sobre o ombro e avistou ShenLu saindo de uma liteira na extremidade do pátio. Experimentou uma sensação de poder mesclada à excitação sexual. A ômega resistira como um alfa em sua fortaleza e depois lutara como um tigre quando fora capturada. Agora seu vestido estava amassado, seus cabelos desgrenhados, seu rosto marcado por profundas olheiras, resultantes das sucessivas noites em que ele desfrutara de seu corpo. E, mesmo assim, ShenLu resistia.

Captando o olhar que ele lançava à prisioneira, o comandante das tropas de Yunmeng  franziu o cenho com desaprovação. Wen Chao encolheu os ombros num gesto inconsciente.

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora