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CAPÍTULO XXIII


 Wuxian reconheceu o selo escarlate de Wen Chao antes mesmo que o emissário entregasse a mensagem a Lan Zhan. Pelo canto do olho viu o marido lendo as breves linhas e, embora tentasse permanecer quieto, não se conteve: começou a andar nervosamente de um lado para outro, a fisionomia grave e as mãos crispadas.

 Ouviu o farfalhar do papel quando Lan Zhan atirou-o sobre a escrivaninha. Não se virou. 

Pressionando as mãos no ventre, esperou que ele lhe dissesse o que já sabia. Mas ainda se agarrou à esperança de que Lan Zhan surpreendesse com outras palavras.

 Não foi o que aconteceu.

 — Wen Chao avisa que decidiu começar a cerco a Qinshan o mais rápido possível. — Lan Zhan riu sem muita convicção. 

— O pobre Feng, senhor de Qinshan, agora vai pagar caro por ter sido o primeiro marido de Wen Qing!

 — E... o que mais dom Chao informa? — Wuxian perguntou, sentindo um nó na garganta.

 — Ele ordena que eu envie minhas tropas com antecedência a Qinshan e…

 Wuxian se retesou, como se esperasse levar um golpe físico. — ... siga para Pequim antes de me juntar aos soldados. O mundo pareceu girar em torno de Wuxian.

 — Wen Chao quer se aconselhar com seus generaisi antes de iniciar a campanha.

Wuxian ouvia as palavras de Lan Zhan indistintamente, como se estivem sendo proferidas de muito longe.

 — Mas que conselhos mais ele pode querer de nós? Já discutimos os planos do sítio passo a passo, em todos os detalhes — Lan Zhan resmungou. Exasperado, passou a mão nos cabelos, desejando que seu pai estivesse ali para ajudá-lo. A despeito de suas diferenças e dificuldades de relacionamento, sempre respeitara as opiniões de dom Qiren.

 Wuxian apoiou-se nas costas de uma cadeira. Tentou respirar fundo, mas sua garganta parecia ter-se fechado. Estava mortalmente pálido.

 — Wei Ying!

 As pernas dele fraquejaram. A voz de Lan Zhan chamando-o foi a última coisa que ouviu antes que uma cortina de escuridão fosse puxada sobre ele.

 Quando voltou a si, estava deitado no chão com a cabeça apoiada no colo de Lan Zhan. Imediatamente quis se levantar. Lan Zhan o segurou com firmeza.

 — Fique quieto, tesoro. O médico chegará a qualquer minuto.

 — Não! Mande-os embora daqui! Todos! Não quero ver ninguém, nem criado nem médico.

 De olhos arregalados, Wuxian torceu o corpo e se desvencilhou dele. Apontou para os criados com a mão trêmula. – Por favor, mande-os embora…

 — Wei Ying acabou de desmaiar. Tem que deixar o médico examiná-lo — Lan Zhan insistiu, paciente, como se se dirigisse a uma criança voluntariosa.

 — Não, por favor! Mande-os todos embora. — Wuxian sentiu uma pontada de medo. Baixou a voz: — Preciso Ihe falar a sós.

 Percebendo sua agitação, ele decidiu que seria melhor fazer-lhe a vontade. Uma vez que Wei Ying já havia voltado, o médico poderia esperar. Deu então ordens a um de seus servos e dispensou todos.

 Ajoelhado no chão, Wuxian agarrou a gola da jaqueta de Lan Zhan. Ele desprendeu seus dedos delicadamente e segurou-lhe as mãos.

 — Não precisa mais ficar assustado. Estamos sozinhos, meu amor. O que houve?

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora