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CAPITULO XXVI

Postado à janela, Wuxian observou o grande pátio. Dois dias já haviam decorrido desde sua entrevista com Wen Chao. A princípio, ficara agradecido ao ser alojado nos aposentos de ShenLu.
Ninguém o incomodava e, à exceção dos criados que vinham ocasionalmente lhe trazer comida e ajudá-lo a vestir as roupas e, passava o tempo todo sozinho.

Porém, quanto mais tempo permanecia ali, maior era a sua apreensão. Sentia-se a ponto de explodir de ansiedade. Estava em um beco sem saída, refletiu, angustiado. A menos que se satisfizesse com seu dom e com seu corpo, Wuxian não teria escolha senão assistir à execução de Lan Zhan.
Na realidade, restava-lhe ainda a alternativa de usar o punhal que trouxera consigo.

Talvez Lan Zhan conseguisse escapar da fortaleza durante a confusão que se seguiria à morte de Wen Chao. Quanto a ele…

Wuxian olhou para o grande anel em seu dedo médio. Aquela fora a única jóia que se permitira trazer em sua jornada. Ocultara o anel junto ao peito e jurara que, se fosse preciso, beberia o veneno que havia nele.
Uma lágrima solitária deslizou por sua face.
O som de risadas elevou-se do pátio, e um movimento inesperado chamou-lhe a atenção. Debruçando-se, ele viu um anão dando cambalhotas. Suyan? Poderia realmente ser Suyan?

Como a janela estivesse fechada a cadeado, Wuxian teve que se contentar em colar o rosto à vidraça, espreitando o pátio na esperança de reconhecer seu fiel servo.

Não conseguiu, porém, divisar-lhe as feições. O anão encerrou seu pequeno espetáculo e fez uma mesura para agradecer os aplausos.
Wuxian ainda assim não foi capaz de reconhecê-lo.

Foi então que ele correu para uma das mulheres da assistência. Antes que a criada pudesse objetar, tirou alguns ovos da cesta que ela segurava e começou a fazer malabarismos inacreditáveis. Transcorridos alguns minutos, aparou um ovo após o outro e exibiu-os, intactos, a todos. Com uma reverência, recolocou-os na cesta.

Com o rosto ainda comprimido à vidraça, Wuxian quase teve um acesso de riso nervoso. Era, com efeito, Liu Suyan quem ali estava. Agora tinha certeza disso. De algum modo, ele havia conseguido penetrar na fortaleza.
A esperança de Wuxian renasceu. O fato de saber que existia uma alma compreensiva, uma só que fosse, naquele lugar infernal, parecia-lhe um sinal de que suas preces tinham sido atendidas.

Wuxian mal prestou atenção ao som de uma porta se abrindo no aposento contíguo. Ouviram-se passos e Wuxian juIgou tratar-se de um dos criados. De súbito, porém, sentiu uma mão pesada sobre seu ombro. Deixou escapar uma exclamação de surpresa.

Conhecia aquele perfume forte e adocicado. Wuxian. Obstinado, permaneceu imóvel, o rosto voltado para o pátio. Sentiu o olhar do alfa sobre si e, apesar dos calafrios que lhe percorriam o corpo, simulou calma.

Wen Chao foi colhido por uma onda de desejo ao admirar a graciosa curva do pescoço de Wei Ying. Felicitou-se por sua paciência. Naqueles dois dias de espera, seu apetite aumentara. E, agora que Hanguang-jun era prisioneiro em Qinshan, seria ainda mais gratificante possuir seu adorável esposo…

E se ele fosse mesmo um bruxo? E, se por trás daquele belo rosto angelical se ocultasse a própria encarnação do Mal?
Wen Chao descartou essas conjeturas com irritação. A dúvida bem que o torturara nos últimos dois dias, contudo, fosse ele bruxo ou não, haveria de possuí-Io.

— Trago-lhe novas, Yiling Laozu.

O coração de Wuxian disparou.

— Hanguang-jun não me decepcionou.
Ele destrancou o cadeado da janela e escancarou as venezianas. Nisso, Wuxian ouviu a voz de Hanguang-jun:

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora