06

982 119 3
                                    

CAPÍTULO VI

Houve o murmúrio de vozes quando Wuxian mexeu no leito. Meio acordado, meio dormindo, ele se espreguiçou, sentiu os músculos doloridos e resolveu dormir mais um pouco. Virou-se para o lado e escondeu o rosto no travesseiro.Tivera um sonho muito estranho. Estranho e maravilhoso. Enquanto flutuava entre a fronteira do sono e da vigília, recordou-o em cada detalhe. Parecia um conto de fadas . E fora tão intenso que seu corpo ainda guardava a lembrança dele.
— Diga a  SuShe que compareceremos.Wuxian ouviu a voz, mas não compreendeu as palavras. Estaria ainda sonhando? Novamente, recordou cada detalhe de seu sonho, tão rico em imagens e sensações.

Quando voltou a se espreguiçar, sentiu o corpo fatigado. Sorriu. Tinha até impressão de haver vivido aquele sonho…

— Acorde, Wei Ying . Do contrário, nós nos atrasaremos.

O último pensamento de Wuxian foi simultâneo ao som daquela voz. No mesmo instante, ele compreendeu o que lhe acontecera e despertou completamente.
Não fora um sonho. Tinha, com efeito, caído nas malhas de uma trama sobrenatural.Uma onda de pânico tomou conta dele. Por alguns segundos, foi incapaz de respirar. Onde estava? Quem, afinal, era ele? Estava desorientado, como uma marionete cujas cordas fossem puxadas em diferentes direções.
Mas, mal o pânico surgira, e já dava lugar a lembranças doces, quentes, das últimas horas que passara ali.

Lan Zhan havia feito amor com ele muitas e muitas vezes, até que ficasse embriagado com a presença, o toque, o gosto dele. Até que seu corpo alcançasse os limites do prazer. Lan Zhan lhe mostrara quanto o queria, por meio de palavras e de gestos.
Levara à sua boca amêndoas doces e aninhara-o em seu peito com uma delicadeza que contradizia seus perigosos olhos dourados.

O coração de Wuxian bateu mais forte. Ele pressionou a mão sobre o lado esquerdo, como se com isso pudesse acalmá-lo. A quem pertencia aquele coração? A Wuxian? A Wei Ying ? A quem pertenceria a alma atormentada que habitava aquele corpo?

Será que o terrível destino de Wei Ying agora era o destino de Wuxian? Ou acaso ele seria capaz de construir um novo destino para si?
Aferrou-se a esse último pensamento, experimentando uma sensação de liberdade. Sim, decidiu. Seria Lan Wei Ying , pois essa fora sua escolha. Mas seguiria os ditames de seu próprio coração.

— Acorde, meu ômega  Chamei suas quatro aias. Elas aguardam sua permissão para entrar no aposento.

Wuxian afastou o travesseiro do rosto e abriu os olhos. Lan Zhan estava diante dele, as mãos nos quadris. Vestia um robe cor-de-vinho, com ricos bordados que conferiam a sua pele uma coloração de ouro envelhecido. Wuxian teve vontade de abraçá-lo. Porém, flagrou no rosto dele, na maneira como franzia de leve as sobrancelhas, uma vaga contrariedade.

Os olhos dourados o fitavam com frieza e distanciamento.

— Há algo errado? — Wuxian perguntou, sentando-se escondendo sua nudez com a colcha

.— Chegaremos atrasados ao banquete. Já recebi duas mensagens, uma de meu pai e outra de seus irmãos, para confirmar nossa presença. — Lan Zhan teve raiva de si mesmo por usar um tom tão formal com Wei Ying. Um pouco confuso, repetiu
:— Chegaremos atrasados.

.— Não me parece o tipo de homem que se importa de chegar atrasado a um banquete. Por que não me acordou antes? Wuxian sorriu, aliviado. Lan Zhan encolheu os ombros.
— Porque estava muito fatigado.

— Continua zangado, não é? — Wuxian suspirou. Indicou o espaço vazio a seu lado. — Importa-se de sentar-se um pouco?

Lan Zhan não queria se sentar no leito que ainda guardava o cheiro deles, de seus jogos amorosos. Não queria ficar perto de Wei Ying e sucumbir à tentação de tocá-lo. No entanto, fiando-se em sua autodisciplina, avançou até a cama e sentou-se.

As duas vidas de Wei WuxianOnde histórias criam vida. Descubra agora