Rhoars - Os Magiciens

01 - A MUDANÇA DO PRESENTE MOLDA O FUTURO

Ethan Griffin estava desolado. Não era o rapaz mais popular do colégio, mas era do tipo que o poderia ser. Reservado, possuía o mesmo grupo de amigos desde... Bom, desde sempre. O fato é que estava acostumado com sua rotina. Não gostaria, e nem poderia contrariar seus pais. Mas não conseguia compreender a súbita mudança sobre sua educação e sobretudo, a falta de diálogo sobre o assunto.

Colégio interno. Isso soava tão fora de moda e tão radical, como aqueles filmes sobre jovens rebeldes que apenas almejam atenção dos pais, mas são despachados como bagagens em aeroportos. Seria ele apenas uma mala qualquer? Talvez uma mala extraviada, tão perdido que se sentia com toda a situação. Não conhecia um adolescente, sequer tinha ouvido falar sobre um, que estudasse em um colégio interno. Talvez funcionasse lá na Inglaterra, com toda pompa de monarquia. Mas nunca se imaginou numa situação dessa. E seus pais nunca terem mencionado tal pretensão, só piorava tudo.

Se imaginou num colégio interno, daqueles que separam os meninos das meninas. Os garotos usando uma bela e decorosa gravata e as meninas usando saias com pregas e meias até os joelhos. Um grupinho de amigos espiando pelo buraco da fechadura enquanto alguma linda garota tomasse banho. Talvez estivessem mais modernos e liberais, aceitando inclusive aqueles que não se encaixavam em um ou outro. Mas se colégio interno de alguma forma fosse conforme sua imaginação, seria bem improvável serem aceitos, e se os fossem, com certeza seria um inferno para eles. Riu para si mesmo com a cena que se formou em sua mente, a de seguir uma garota e ao espiar perceber que a garota não era... Uma garota. Seria o preço justo a se pagar pelo atrevimento. Não que sua opinião tivesse sido formada buscando informações sobre o colégio, é claro. Preferiu evitar o assunto, afinal, que escolha tinha? Limitou-se a preencher apenas com nome e documento o formulário do colégio entregue por sua mãe, um questionário inútil, com perguntas sobre seus gostos pessoais em relação à música, comida e hobbies. Então, tudo o que sabia era pura invenção baseada em filmes e livros de quinta categoria somada à sua imaginação fértil.

Decidiu se concentrar em sua árdua tarefa de preparar a mochila. Seus pais orientaram a levar roupas apenas para os finais de semana, pois receberia um grande kit com uniforme e materiais. Ao menos não iria carregar muito peso.  Guardou seu celular, carregador, máquina fotográfica e seu álbum de fotos com os fragmentos mais felizes de sua vida. Algumas roupas, um chinelo e um par de tênis, além daquele que estava em seus pés.

— Ethan! EEEEEEthan!

No que dizia respeito a berros, aquele seria suficiente para espatifar vidraças. Ou pelo menos um tímpano.

— Estou indo, mamãe! Estou indo!

Ethan colocou sua mochila nas costas e correu escada abaixo, escorregando no quarto degrau e mal conseguindo se segurar no corrimão antes de cair sentado. Deveria ter se lembrado de que a escadaria estaria escorregadia, já que havia ajudado o pai a encerá-la naquela manhã.

— Eu avisei para deixar suas coisas preparadas com antecedência. Sua viagem será longa querido e não pode perder este ônibus. — ouviu sua mãe o repreender enquanto ainda tentava recuperar o fôlego.

Sua mãe era linda. Seus amigos sempre faziam piadas que às vezes o tiravam do sério. Aparentava ser mais jovem e era considerada yummy mummy[1]. Tinha os cabelos pretos e compridos. Os lábios cheios, dentes brancos, uma covinha capaz de dar um leve ar de inocência contrastando com um brilho natural de malícia em seu olhar. Era o tipo de mulher que atraía todos os olhares. Mas essa beleza que parecia tão ferina era capaz de enganar, pois por trás, havia uma personalidade doce. Naquele dia, parecia um tanto inquieta. Talvez por estar enviando seu único filho para longe, mas parecia haver algo mais. Quase um medo por trás de seus olhos azuis, que estavam escurecidos e ansiosos.