Ethan acordou sendo cutucado por Seth, cuja energia era infinita. Esfregou os olhos, ainda sonolento. Os três garotos já estavam uniformizados. Um vozerio vinha de fora do quarto, que agora possuía não só uma porta, como também ao seu lado um quadro com diversas partições, algumas delas preenchidas. A primeira, com a escrita "Café da manhã ", com um fundo amarelo servindo como temporizador, indicando o pouco tempo restante para o término do evento. A próxima partição estava preenchida com a escrita "Introdução ao Mundo Quadrimágico" e a terceira com "Tributo Mágico", ambas com o fundo azul preenchido por completo, indicando evento ainda não iniciado. Sem horário de início e fim a informação era confusa. Sabia-se que o café da manhã estava terminando, por exemplo, mas quanto tempo faltaria para o término? Quanto tempo equivaleria aquela pequena barra amarela? Com a sua última refeição minguada, não queria descobrir perdendo o desjejum, então, se espreguiçou e forçou o corpo a iniciar o dia.
Olhou para cima e lá estava aquele bicho esquisito. Mas desta vez, pôde enxergá-lo melhor. Sem nenhum brilho, sólido e imóvel. Acima das escrivaninhas, agora havia uma janela que ocupava quase a parede toda. A vista dava para um jardim com uma edícula de madeira no final e um balanço feito de pneu. Esfregou os olhos e observou pela janela novamente, mas o jardim permanecia lá. A saudade devia estar ludibriando sua mente, pois a vista dava acesso ao fundo de sua casa de infância.
— Achei que teria que te beijar para você acordar, bela adormecida! Quase desisti de tentar, mas acho que você não iria querer perder o café da manhã depois do esplêndido jantar de ontem, certo?
Ethan, que tinha um lado ranzinza por natureza e sentia-se ainda mais aborrecido ao acordar, apenas ignorou a provocação de Seth e se dirigiu ao banheiro. Tomou um rápido banho e vestiu o uniforme. Havia um colete de tecido fino para ser usado por debaixo da roupa. Não parecia de muita serventia, mas ao menos era confortável. Se aprontou e avaliou seu reflexo no espelho. Uau. Se Amber visse aquilo... Não faria diferença alguma. A distância já era maior que seu amor por ele quando estavam no mesmo país, imagine agora.
Tentando não pensar no assunto, saiu do banheiro e pôde observar que o fundo da partição "Café da manhã" agora cobria apenas "anhã". Mais desperto e apto ao diálogo, perguntou ao Seth o que ele enxergava ao olhar pela janela. Uma quadra de tênis. Sem a necessidade de exigir mais explicações, Seth, sempre tagarela, contou como costumava frequentá-la com seu pai, ainda que jogasse muito mal e sempre perdesse para ele. Christopher estava de frente para o mar e John avistava uma saída de aeroporto, local em que recebera seu pai após seu tempo servindo o exército. O local das melhores lembranças de cada um.
Todos prontos, abriram a porta e saíram num corredor. Mas não um corredor comum, com paredes, como se esperaria num colégio. Saíram para um corredor que era uma trilha de terra batida, delimitada por uma corda trançada bem grossa e ininterrupta em cada lado. Não se podia enxergar seu início ou fim e não havia nenhum suporte para mantê-la durante o percurso. Precisaram passar por baixo para acessarem a trilha, e ao fazerem isso, a porta do quarto sumira, deixando-os ao ar livre e com a pergunta de como retornariam ao quarto sem resposta.
Atrás das cordas um cenário digno do Jardim do Éden. O sol despontando sobre solo verdejante e populado por todos os tipos de animais. Um leão estava há poucos metros do cordão esquerdo e embora não demonstrasse qualquer interesse na movimentação, fez com que os jovens se mantivessem numa fila única colada ao cordão oposto, que por sua vez, abrigava um trio equilibrista de lêmures de cauda anelada. Seth garantiu que os macacos-narigudos que se espalhavam pelas árvores e pela beira do rio eram a cara de seu tio Charles. Christopher recolheu um sapo-de-vidro do chão e examinava com fascínio os órgãos daquele sapo de pele transparente, isto é, até John aparecer carregando uma rã-golias do tamanho de um gato em seus braços, que tratou de afugentar o pobre sapo.
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Rhoars - Os Magiciens
FantasyUm mundo perfeito corrompido com o sacrifício de um ser mágico, sendo dividido em dois: o mundo quadrimágico e o mundo modesto. Um com magia, o outro sem. A partir daí, jovens são postos à prova afim de descobrirem se possuem poderes, o que determin...