Gwen queria ficar sozinha. O desejo de ir ao cantinho da lua foi suprimido pelo receio de ser encontrada por Ethan, isto é, se ele tentasse procurá-la. Ou pior, talvez ele já estivesse lá. Ou pior ainda, talvez ele já estivesse lá, acompanhado. Se amaldiçoou por ter mostrado seu lugar especial àquele idiota.
Decidiu ir para casa. Sua mãe estaria lecionando e teria tempo para a avaliar seus sentimentos. Sentia a garganta queimar, mas estava decidida a não chorar. Continuaria com as pesquisas para ajudar Valerie, afinal, que culpa ela tinha se o filho dela era... Era o quê? Livre? Eles não eram namorados, o que tornava ainda mais incompreensível o tamanho de sua dor.
Sem foco e sem o feitiço de leitura dinâmica, preferiu direcionar seus pensamentos em outra coisa. A intenção não era invadir a privacidade de sua mãe, mas preferia ser consumida pela curiosidade ao sofrimento.
Procurou pela foto confiscada em todos os cantos do quarto. Vasculhou armários, gavetas, caixas... Prestes a desistir, encontrou o livro "Perdendo a Cabeça" ao lado do travesseiro, o livro tomado de suas mãos junto à foto.
Folheou-o, mas a foto não estava mais entre suas páginas. Dando fim à missão, devolveu-o ao seu lugar. Ao ajeitá-lo para que sua mãe não desconfiasse de sua bisbilhotice, teve a atenção retida no título estampado na capa.
"Perdendo a Cabeça – A história de Barnaby Marmaduke".
"Barnaby Marmaduke..."
O nome não lhe era estranho... Já tinha ouvido este nome antes, não tinha? Sim, claro! Em Tabuletas da Lei. Era um dos helenos citados pelo wisowl Moses Staff. Aquele que ainda vivia no mundo quadrimágico. Retomou o livro em suas mãos e leu a sinopse.
"Perdendo a Cabeça é a biografia de Barnaby Marmaduke, que conta a trajetória de um rhialer em ascensão que destruiu sua carreira em busca de status após levar a comunidade a acreditar que teria encontrado a cura para pacientes em coma, algo sem recuperação até a atualidade".
Moses teria citado o motivo do banimento de Barnaby? Impossível. Teriam se lembrado, diante das circunstâncias. Iniciou a leitura ao som da triste melodia das orquídeas cantantes, que cantarolavam refletindo seu estado de espírito. Mas sem se deixar abalar pela tristeza, e mesmo sem o feitiço de leitura dinâmica, se pôs a ler furiosamente.
Tudo indicava se tratar de um impostor, mas seu sexto sentido, quiçá um rastro rhart'ai, lhe dizia que aquela não era a história completa.
Narrava a vida de Barnaby Marmaduke e como ele revolucionou a área dos rhialers com seus feitiços até descumprir sua grande promessa de acordar os comatosos. Havia enorme expectativa para sua primeira demonstração, mas no grande dia, receberam apenas um pedido de desculpas daquele homem de aparência frágil e que foi julgado por má fé, perdendo todos os seus poderes. Nenhuma página citava o suposto feitiço ou o seu processo de criação.
Sentia algo errado na história, como uma conta que não fecha ou um quebra-cabeça com peças fora do lugar. Pensando nisso, Gwen adormeceu no sofá e sonhou com Barnaby Marmaduke.
Acordou sentindo vontade de correr aos seus amigos, em especial a Ethan, para dividir sua descoberta. Mas sua lembrança trouxe com força a dor que evitava sentir a todo custo. As lágrimas impedidas pela barragem do seu orgulho, agora escorriam como numa tempestade.
Agarrada aos próprios joelhos e aos soluços, permitiu-se sentir a dor. Choraria tudo o que houvesse para chorar, mas quando terminasse, mais nenhuma lágrima rolaria. Se reergueria e seguiria adiante.
Não era ingênua a ponto de achar que não doeria mais, mas seria uma dor silenciosa e não demonstraria mais sua fraqueza. Ethan derrubou seus muros, mas também quebrou seu coração, e não permitiria isso outra vez.
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Rhoars - Os Magiciens
FantasyUm mundo perfeito corrompido com o sacrifício de um ser mágico, sendo dividido em dois: o mundo quadrimágico e o mundo modesto. Um com magia, o outro sem. A partir daí, jovens são postos à prova afim de descobrirem se possuem poderes, o que determin...