23 - NADA É O QUE PARECE

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Estavam na primeira programação mista do treinamento. Bartholomew Butler e Kalel Baker se uniram para uma das mais aguardadas aulas. Aprenderiam a criar um Véu de Transição. Os Phoenix estavam no território de Kalel e deveriam se teletransportar para a caverna de Bartholomew. Os wisowl's ficariam de prontidão para ajudá-los caso ficassem presos.

— São necessários quatro elementos para este feitiço, que dependem muito mais da concentração do que da habilidade de cada um — explicou, Kalel.

Os phoenix precisariam de muito foco, de uma alta concentração de medo e de uma dosagem ainda maior de coragem e senso crítico.

O foco para definir a localização. A mente deveria viajar ao local de destino e usar o sensorial para cada detalhe. Sendo assim, deveriam enxergar a caverna escura de Bartholomew, com suas estalactites e estalagmites, sua mesa e seus armários. Ouvir aos sons peculiares e à reverberação dos ecos. Sentir a umidade e a massa de ar quente que a habitava, assim como o chão desnivelado e pedregoso abaixo de seus pés.

O medo para produzir a imprescindível adrenalina, onde a possibilidade de ultrapassagem do Véu é proporcional à quantidade produzida. Mais adrenalina equivale a maior facilidade, mas também significa um terror quase intransponível. Deveriam usar todo o sensorial para uma situação da qual tivessem pavor, como imaginar uma queda de avião para aqueles que tivessem medo de voar, pular de um arranha-céu para aqueles com medo de altura, afogamento para aqueles com medo de água, e assim por diante.

E por último, os elementos mais árduos e preciosos. A coragem para enfrentar o medo e sair de seu inferno particular junto ao senso crítico para separar a fantasia da realidade.

— Quando unirem todos os elementos chegarão ao destino — finalizou.

Todos se entreolharam apreensivos.

— E se, hipoteticamente, é claro, não conseguirmos? — perguntou, Seth.

— Não é hipotético, Sr. Collins. Quase todos vocês, senão todos, ficarão presos à irrealidade e serão resgatados, mas não desanimem, é comum nas primeiras tentativas.

A verdade é que sua resposta é que foi bem desanimadora.

Seria um phoenix por vez e Kalel os guiaria. Ajudaria no que deveriam focar da sala de Bartholomew, questionaria sobre seus medos para criar o melhor cenário e tentaria prepará-los para sair dele.

Seth ainda estava inconformado e quando chegou a sua vez não inibiu sua insatisfação com o processo.

— Por que precisamos sentir esse pavor todo somente para mudar de lugar? Nunca ninguém pensou em rodar um PDCA[39] neste feitiço?

— Eu não sei o que significa isto, mas entendi o que quer dizer, Sr. Collins. É evidente que tentamos melhorá-lo, mas o feitiço depende de adrenalina em grande escala...

E quando Seth iria abrir a boca para sugerir uma indução sintética, teve a ideia descartada antes mesmo de sugeri-la.

— E que ela seja produzida de forma natural.

Mas o garoto estava disposto a não largar o osso e a evitar ao máximo que sua vez chegasse.

— E se vencermos nosso medo, mesmo que com muita terapia? Teremos de mudar nosso cenário de tortura para outro?

— Depende. Eu sugiro criar algo com um caminho sem volta, como a queda sem paraquedas. Não basta vencer o medo de altura. Ao se conectar com a ilusão, você a vive como se fosse real, ou seja, você acreditará que está caindo sem paraquedas. E duvido que alguém seja capaz de superar este medo.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora