04 - MODESTO À PARTE

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Após toda aquela aventura vivida, o simples farfalhar das árvores sobressaltou os garotos. Se entreolharam e num acordo silencioso se prepararam para correr mais uma vez. Mas antes que pudessem sair do lugar, ouviram uma voz que denotava alívio:

— Ah, enfim encontrei vocês!

Ethan piscou e avaliou a jovem que surgiu diante deles. Ela vestia uma calça larga gasta, uma camisa branca de algodão velha e toda sua roupa estava enlameada. Seu cabelo longo e preto azulado estava solto e era seu único atributo feminino em comparação com o resto de sua aparência. Ele não pôde definir se ela era atraente devido ao seu estado e àquelas roupas indefinidas que não marcavam suas curvas. De qualquer forma, uma inspeção mais detalhada teria que ser realizada em outro momento, pois a garota tinha um cheiro forte, ressaltando seu lado pouco feminino.

Gwen havia sido enviada por sua mãe para procurar os tais magiciens assim que detectada a travessia do Véu de Transição. Uma tarefa a princípio divertida, mas com o passar das horas sem encontrá-los, somente maçante. Estava curiosa para conhecê-los. Afinal, a última transição ali ocorrera há quase trinta anos, isso quando já estava há mais de séculos sem ocorrência. E para sua surpresa, havia não um, mas dois garotos. Um já era bem impressionante. Seriam gêmeos? Durante sua busca sofrera alguns acidentes, diga-se quedas, e não estava com o melhor dos aspectos, nem cheiro. Mas estava determinada a não se preocupar com as supostas reações. Estava acostumada ao olhar desconfortável das pessoas devido seus trajes incomuns para uma garota.

— Gwendoline Jones, mas pode me chamar de Gwen. Todo mundo o faz — disse Gwen, se apresentando aos garotos.

Ethan e Seth murmuraram cumprimentos e um silêncio desconfortável tomou conta do trio.

— Parece que não somos os únicos perdidos — articulou Seth, tentando soar simpático.

— Por que eu estaria perdida? — perguntou Gwen, em tom de desafio.

Seth corou ao perceber que ela se sentira insultada. Senão pela falta de direção, pela falta de banho. Sua aparência era a mesma de alguém que estivesse perdido há dias.

Gwen ignorou o silêncio de Seth e prosseguiu:

— Vamos! A esta altura o resgate já deve estar no final.

Ethan se lembrou da conversa com os pais. Era esperado que viessem buscá-los, mas ainda assim, reagiu com desconfiança.

— Não tão rápido. Quem é você?

Gwen mirou Ethan com toda paciência que conseguiu reunir, o que não era muita.

— Acabei de me apresentar, não?

Ethan revirou os olhos.

— Você disse apenas seu nome e aprendi desde pequeno a não falar com estranhos. Acho que precisa se empenhar um pouco mais, isso se quiser nossa cooperação.

Seth, que já estava preparado para segui-la, apenas assentiu. A garota lhe pareceu confiável, como todas sempre lhe pareciam, mas devia sua lealdade ao amigo.

— A cooperação de vocês? — riu alto, Gwen. — Vocês precisam de mim, não eu de vocês. Mas se preferirem, podem aguardar a chegada dos Gaulles — finalizou, abandonando-os.

Ethan revirou os olhos e murmurou algo que Gwen não pôde compreender por completo, mas com certeza tinha a palavra atrevida no meio.

A garota continuou andando sem olhar para trás, restando aos dois apenas segui-la. Ethan ansiava por saber o que seriam os Gaulles, mas preferiu manter a discrição e a cautela. Seus pais foram insistentes no pedido de segredo e não tinha como mensurar o quanto ela sabia sobre eles, apesar de estar ajudando-os.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora