22 - INTERVENÇÕES DIVINAS

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O frio atípico que discretamente se insinuava decidiu se revelar por completo. A neve incessante encobria o gramado e instalações, exigindo feitiços diários para a retirada de excesso. Mais um mês havia se passado e as exigências dos wisowl's seguia o mesmo ritmo da nevasca, o que estava consumindo todo o tempo e energia dos phoenix.

Gwen carregava o sentimento de culpa, pois juntando a tempestade de atividades ao tempo de ajuda a Seth, pouco sobrou para encontrar Barnaby Marmaduke.

Era um prazer ajudá-lo, mesmo que isso as sobrecarregassem, tanto que evitavam o assunto sobre cansaço, como se falar disso em voz alta pudesse soar como uma reclamação, e não queriam fazer Seth se sentir mal. Se havia alguém que merecia aquele esforço, era aquele garoto bobalhão e de coração puro. Gwen duvidava que teria o prazer de conhecer outra pessoa como ele um dia.

Mas sentia estar quebrando sua promessa de que faria tudo que estivesse ao seu alcance para ajudar a Ethan, ainda que já não se falassem mais. Não que tivessem desistido de Barnaby, mas não avançavam com as pesquisas no pouco tempo livre que encontravam.

Todo o material encontrado dividia-se em relatar seu julgamento ou exaltar suas façanhas anteriores, sem deixar nenhuma pista sobre seu paradeiro após seu desastre particular. Seth vivia reclamando do sistema precário e não compreendia a falta de informatização. Gwen não entendia muito bem o que ele queria dizer, mas se isso significava facilitar a busca de informações, concordava.  Que informatizassem o mundo quadrimágico!

Seth estava com Nicole e não queria ficar de vela. Sozinha, criou coragem para ir ao seu cantinho da lua, um lugar repleto de lembranças de Ethan e que evitava há muito tempo. A princípio, tinha medo de encontrá-lo por lá. Depois, tinha medo de não o encontrar.

Se alguém ousasse perguntar, ouviria que em seu coração ainda faltavam pedaços, mas ninguém o faria, não depois de sua ameaça de congelamento a la Agnella. Apesar da dor, aceitava a realidade. Não eram mais as mesmas pessoas de quando se conheceram, nenhum jovem dali era o mesmo do seu primeiro dia de treinamento.

Considerava a magia maravilhosa, mas também um fardo. E em Lumière, com tantas programações, em nenhuma ensinavam que ela poderia provocar mudanças nas pessoas a ponto de perdê-las. Não ensinavam a conviver com a tensão diária do medo de ser ou ter algum amigo faísca. Nem a como recuperar o corpo exaurido pela drenagem de energia submetida a cada feitiço realizado. Tudo o que faziam era levar os phoenix ao limite.

Daria um rim a quem nunca tivesse pensado em desistir, pois tinha certeza de que o pensamento havia cruzado a mente de cada phoenix ao menos uma vez, ainda que fossem incapazes de assumir. O que parecia um conto de fadas no início, se mostrava uma carga difícil de carregar e cheia de responsabilidade.

Precisou de coragem para caminhar até a clareira, pois mesmo com o revestimento extra de seu uniforme de inverno, sentia o frio gelar seus ossos e adormecerem seus pés. Queria andar mais rápido, mas o frio intenso e a neve acumulada a impediam de correr, sem contar que seu corpo tremia como uma britadeira.

Durante o percurso se perguntou se aquilo era mesmo uma boa ideia. Estava morrendo de saudade de Zane, mas faltava pouco para o escurecer. E além do frio, uma sensação agourenta não a abandonava.

A floresta estava em completo silêncio, como se em oração. Em seu caminho, apenas pinheiros cobertos de neve, sem pegadas de animal ou qualquer outro sinal de sua existência. Nem mesmo os travessos chubiluh's marcaram sua presença em seus corpinhos de agarradinho.

Os animaizinhos de braços longos estivam durante o verão, se enterrando no solo para se manterem em temperaturas mais amenas, e costumam se exibir durante o frio intenso como uma infestação, se alimentando da neve e vivendo grudados nos troncos das árvores.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora