25 - MORTO-VIVO

22 7 69
                                    

Impossível. Aquele não poderia ser Barnaby Marmaduke. Nas milhares de pesquisas que fizeram tiveram contato com inúmeras fotos e entrevistas. Era pressuposto ser um homem alto e corpulento, de cabelos ondulados e bem cortado. O que viam ali não se parecia em nada com Barnaby, sequer com um ser humano.

Seu aspecto era repugnante. Os seus cabelos ensebados estavam na altura do queixo, a pele envelhecida e cascuda e sua calvície proeminente o deixava com a testa grande. Talvez fosse alto, mas era incerto, pois tinha uma acentuada corcunda. Estava com trajes encardidos e exalava um cheiro desagradável, como se estivesse sem tomar banho há muito tempo.

— Você não é Barnaby! Nós sabemos como ele é... E você... Não se parece em nada com ele! — disse Gwen, em tom de acusação.

— Não sou mais o mesmo, mas ainda sou eu... É evidente que não fazem ideia de quem eu sou! Então... Vão embora! Sumam daqui! — vociferou. — Por favor! — pediu em tom de súplica, alternando entre a raiva e o medo em segundos.

Nesse momento souberam que era mesmo Barnaby Marmaduke. Após os expulsar aos gritos, com seu rosto retorcido num esgar que exibia seus dentes brancos e limpos, destoando de todo o resto, viram a sombra do que costumava ser o seu sorriso. Seu dente de prata na arcada superior carimbava sua identidade, apesar de deixá-lo arrepiante. Nas fotos, o dente prateado o tornava excêntrico, mas parecendo um morto-vivo, o tornava perturbador.

"Ao menos ele manteve a higiene bucal" foi o primeiro pensamento de Seth.

— Pedimos desculpas, Sr. Marmaduke! Por favor, nos ouça, precisamos de sua ajuda! — pediu Gwen, arrependida da petulância.

— Vocês não entendem! Eu não sou nada, não posso ajudar ninguém! Se ele descobrir... — e deixou a frase morrer, enquanto choramingava.

— Ninguém vai te matar! De quem está falando?

— Matar?! Gostaria de ter essa sorte...

— Olhe para nós! Olhe nossos scones! Ainda estamos em treinamento, não lhe faremos mal algum. Só precisamos de algumas respostas.

Gwen recebeu uma cutucada dolorida de Nicole, que apontava para a mãe de Barnaby. Ele usava um scone de um anjo decapitado numa pedra verde brilhante, um scone de um rhialer, não um heleno. Barnaby tentou esconder a mão, mas seu movimento foi tardio.

— Sr. Marmaduke, sabemos que sua história é falsa e você vai nos contar agora mesmo o que está acontecendo! Ou.... Ou... Vamos falar com os gaulles!

Barnaby se encolheu diante da ameaça.

Gwen, percebendo a vulnerabilidade de Barnaby, tentou uma abordagem diferente. Contou tudo! Sem segredos. Desde a ultrapassagem do Véu de Transição por Ethan e Seth até os últimos acontecimentos, sem qualquer omissão. Queria deixá-lo confortável e que confiasse neles. Sentia que a história de Barnaby seria crucial para o futuro do mundo quadrimágico e que iria além da possibilidade de salvar a mãe de Ethan.

Barnaby ouvia a história, mas seu único desejo era que fossem embora o quanto antes. Porém, sabia que precisava ouvir até o fim. Há anos vivia em paz, seu novo significado de paz. Sempre com medo, não saia sem feitiços que alterassem seu rosto. Seu sono era tomado por terríveis pesadelos e vivia em péssimas condições, mas ainda assim era uma dádiva. Não recebia mais nenhuma visita perturbadora, não sofria mais nenhum tipo de tortura, não testemunhava mais nenhum ato atroz, que era a pior parte, em especial sendo um rhialer, quando tudo o que gostaria era consertar o mundo.

Quando a garota terminou seu relato, não se permitiu expulsá-los. Aqueles jovens e inexperientes garotos fizeram o que ele jamais teve coragem de fazer, de enfrentar a Lua Negra. Então, disse a única coisa que sabia para ajudá-los.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora