29 - O PREÇO DA VERDADE

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Gwen saiu em disparada e escolheu usar as próprias pernas, temendo ficar presa no Véu de Transição. Apesar de ter usado o recurso com sucesso nas últimas vezes, a sorte não estava do seu lado. Hesitou em entrar na casa. Tinha a impressão de que a cada vez que entrava ali, recebia uma péssima notícia e as coisas pioravam. Entrou devagar e verificou cada cômodo, garantindo estar apenas em companhia das orquídeas cantantes, que cantavam uma ópera misteriosa.

Pela segunda vez, revirava o quarto de sua mãe enquanto uma sensação de estar sendo observada não lhe abandonava. Por vezes, corria pelos cômodos, preparada para atacar o espião criado pela sua imaginação, mas sem encontrá-lo, retornava à busca daquele maldito biper.

Ou Sarah depositava demasiada confiança nela ou a subestimava, pois não demorou muito para encontrá-lo. Um caderno brochura antigo, com marcas do tempo e as páginas amareladas. Cogitou levá-lo à caverna para que o lessem juntos, mas sua curiosidade foi mais forte.

As primeiras páginas arrancadas eram mais um dos indícios de que sua mãe escondia alguma coisa. As que permaneciam ali, demonstravam seu descuido ou excesso de confiança, pois ainda carregavam mensagens perturbadoras que fizeram o coração de Gwen parar de bater ao lê-las.

"Vocêestá morto! Eu guardei o seu segredo! Não deveria me procurar e você sabe!".

Então, era verdade. Mark Dane estava vivo! Seu coração ainda se negava a acreditar em qualquer ligação de sua mãe com este homem abominável. Deveria haver uma boa explicação.

"Você tem ideia do que está me pedindo?".

O que ele pediu? Por que ela o ajudava? Seria possível ter sido enganada pela própria mãe, a quem amava tanto? Eram cada vez mais perguntas, para menos respostas.

"É a última vez que faço algo por você, preciso pensar em nossa filha. Você já pensou nela alguma vez?"

Não! Não, não e não! Gwen recebeu a notícia como quem recebe um soco no estômago, a bile subindo pela garganta e a tontura a levando ao chão. Acreditava que o sigilo sobre a identidade de seu pai fosse pelo seu abandono e para evitar que um dia ela quisesse conhecê-lo, para proteger aos seus sentimentos de um pai ausente, não por ele ser Mark Vil Dane.

Correu ao banheiro e colocou a sua última refeição para fora, sabendo que precisava se recompor e ser forte. Nicole precisava de sua ajuda e teria tempo para chorar depois. Lavou o rosto, engoliu seco e continuou a leitura da última mensagem.

"O combinado era não envolver minha filha e a situação está saindo do controle, faça alguma coisa! Encontraram Barnaby Marmaduke e a cura para Valerie, estão prestes a enviá-lo ao mundo modesto!".

Gwen não sabia quantos segredos sua mãe guardava para Mark Dane, mas era certo que qualquer que fosse seu pedido, não seria nada de bom. Nem seus piores pesadelos se comparavam ao infeliz crescimento daquele galho de sua árvore genealógica que estava podado há tanto tempo. Pior foi descobrir que sua mãe entregou a cabeça de seus amigos numa bandeja de platina em troca de sua segurança.

Seu coração se estilhaçou em mil pedaços, como um espelho atirado ao chão, que irrecuperável, a impedia de reconhecer a realidade à sua volta, sequer a si mesma.

Colocou tudo em seu devido lugar e escondeu o biper por debaixo da roupa, mas toda aquela convicção sobre fazer o certo caiu por terra. A decisão clara e objetiva já não existia, não agora com todas as evidências contra sua mãe. Por que não conseguia ir até Bartholomew e mostrar sua descoberta? Seria por querer proteger à sua mãe ou a si mesma?

Não se sentia preparada para que o mundo soubesse quem era o seu pai, tão pouco para perder sua mãe. E agora, ficaria sozinha para sempre.


Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora