02 - PROBLEMA SOLÚVEL

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Ethan entrou no ônibus e acenou ao motorista com a cabeça. Achou seu olhar vidrado, como se estivesse hipnotizado, visto alguma assombração ou o mais provável, ingerido muito energético para aguentar o turno de trabalho. Sua pele estava pálida, o que validava sua teoria sobre a assombração. Ignorou seus pensamentos e seguiu pelo corredor, procurando uma poltrona vaga.

Observou os demais passageiros. Havia pouca interação, todos com o mesmo semblante. Difícil determinar se seria esse de tristeza, indiferença ou preocupação. Mas a tensão era palpável. O ambiente carregado de ressentimento, como se todos ali compartilhassem a mesma história.

Encontrou dois lugares vagos na última fileira, guardou sua bagagem e se acomodou na janela. Estava ajeitando seus fones de ouvido, quando sentiu a presença de alguém.

— Ei, esse lugar está vago? — perguntou com um sorriso largo um garoto de cabelos pretos e cacheados.

— Ah, sim — respondeu à contragosto e sem ânimo para conversa.

— Seth — disse o rapaz estendendo a mão.

Com esforço, Ethan se recompôs e estendeu a mão. O fato de se apresentarem não significava que o diálogo seria mandatório, que Seth seria do tipo que não mantém a boca fechada.

— Ethan.

Seth empurrou sua mochila cheia demais para dentro do bagageiro, forçando a porta até conseguir fechá-la e sentou-se.

— Animado? — perguntou, para total infelicidade de Ethan.

— Não, como poderia estar? — não queria ser rude, mas o que mais poderia responder?

— Como poderia não estar?! Meus pais disseram que é o máximo! Que é melhor que a faculdade. Estou ansioso para começar e conhecer pessoas novas.

— Seus pais falaram sobre a escola?! — perguntou Ethan, surpreso e com inveja, mas arrependido pelo ímpeto. Não queria prolongar a conversa.

— Não muito, pensando bem — respondeu Seth, coçando o queixo, tentando se lembrar. — Mas eu pesquisei bastante! O que não quer dizer muita coisa, é verdade. Eles precisam melhorar no quesito comunicação. O site era minimalista, mantinha informações sobre o espaço, as matérias, mas nada além disso. Não responderam aos e-mails de contato e não encontrei ex-alunos, o que é um pouco estranho. O fato é que sou muito bom em stalkear e é como se a escola não existisse. Mas claro que existe, então, penso se tratar de uma escola muito exclusiva e de prestígio, onde apenas sortudos como nós conseguem ingressar.

Ethan apenas encarou-o. Não sabia dizer qual informação o deixou mais preocupado. Seth ser um stalker ou a escola parecer não existir. Estava ofendido demais para demonstrar qualquer interesse, então, quase não investiu seu tempo nisso. Mas de fato, estranhou que aquele garoto animado e otimista não tivesse encontrado nenhuma informação relevante, e principalmente, ex-alunos. Ainda que ele não tivesse se autointitulado de bom stalker, tinha a palavra nerd estampada na testa. Com certeza sabia fazer uso do Google e redes sociais.

— Bem, de qualquer forma, será uma ótima experiência! — continuou Seth, irradiando uma alegria que não combinava em nada com o restante do pessoal daquele ônibus.

Apesar de achar o entusiasmo de Seth irritante, talvez pelo próprio descontentamento, gostou dele. Contudo, preferia nadar pelado na neve a conversar naquele momento.

O ônibus começou a se movimentar e Ethan fechou as cortinas. Já estava escuro e pretendia dormir ou fingir que dormia para evitar seu colega.

— Por que não está animado? — perguntou Seth, sem perceber a tentativa de Ethan de ignorá-lo.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora