Ethan e Seth seguiram a procissão. Por fora, um monumento imponente e reluzente suspenso sobre uma paisagem deslumbrante. Por dentro, uma sala oval estérea banhada pela luz natural que abrigava gigantescos painéis das Ninfeias de Monet. A extensão da obra baseada em seu belo jardim rodeava seu admirador sem importar o local que ele estivesse na sala. Nela, o sol da tarde lançando um raio de luz sobre a ponte japonesa, iluminando o lado direito em verde pálido em contraste com o verde azulado mais escuro dominante. A linha arrojada da ponte e as pinceladas mais longas dos juncos contrastando com os pequenos pontinhos de cor das ninfeias, uma espécie híbrida em rosa, amarelo e branco. A parte de baixo em vermelho-escuro, mesma cor usada para a assinatura do quadro. Naquele emaranhado, o vislumbre do reflexo dos salgueiros na superfície do lago.
No centro do salão um banco também oval, onde alguns já se acomodavam para admirar às Ninfeias, que ao contrário de muitas pinturas, deveriam ser apreciadas de longe. Os que estavam tão ansiosos a ponto de ignorar às belíssimas obras de arte, seguiam num afunilamento em direção a uma porta giratória sem qualquer sustentação, que aparentemente não levava a lugar algum, mas que ainda assim aqueles que entravam não saíam, causando inveja a David Copperfield[12]. Poucos notaram que aquele cenário encantador nada mais era que uma das salas do museu Orangerie[13].
Admiravam as pinturas enquanto seguiam o fluxo em direção à porta que absorvia cada um deles. A pulsação acelerando conforme se aproximavam. Poucas pessoas à frente no que agora se transformara numa fila indiana, Seth permanecendo convenientemente atrás de Ethan. A porta bloqueava a entrada por algum tempo, exigindo que as pessoas a forçassem até a liberação. Ethan começou a contar, mania que beirava ao transtorno obsessivo-compulsivo e era acionada sempre que se sentia ansioso. Contava o tempo da aplicação de uma injeção, da espera na fila, os passos ao carregar as sacolas pesadas do mercado até em casa. E pelos seus cálculos, a porta seria liberada em cinco minutos.
Ao se tornar o próximo contou mais devagar, a fim de evitar a recusa da porta, embora se tratasse de uma trivialidade. Acrescentou um minuto, sem que ninguém o pressionasse, ao contrário do que aconteceria se o semáforo estivesse aberto e ele permanecesse parado empacando o trânsito, afinal, estavam tão ansiosos quanto receosos. Antes de adentrar, por mera curiosidade, contornou à porta, que simplesmente sumira. Assustado, voltou ao seu lugar na fila e a porta se materializara à sua frente. Os seis minutos, que duraram mais que isso, terminaram. Então, sem mais delongas, deu um passo empurrando a porta e despediu-se das Ninfeias.
Ao entrar, encontrou um ambiente simplório comparado a tudo até ali. Apenas um quarto. Não um quarto apertado, mas compacto. O espaço e a disposição dos móveis eram exatos para quatro pessoas. À direita, dois beliches embutidos. Entre eles uma prateleira sustentando um pequeno cofre ligado a um grande funil. À frente, uma estante de livros vazia. À esquerda, quatro escrivaninhas rentes à parede, divididas em células como às de telemarketing, lado a lado. Os móveis contornavam o quarto deixando o espaço central livre. E atrás a porta. Opa! Surpreso, viu que a porta que o deixara ali já não existia, havia uma simples parede. Com exceção disso, o quarto era normal. Não havia janelas e nem ar-condicionado, o que o fez se sentir claustrofóbico. O teto era alto e... Quase gritou como uma mocinha! A iluminação provinha de uma... larva gigante? Uma centopeia de cinquenta tons de rosa? Isso se uma centopeia tivesse um metro de comprimento, é claro. Ela estava de cabeça para baixo, centralizada no cômodo. Seu corpo dividido em diversos tons de rosa, sendo os tons mais escuros mais sólidos. As partes mais claras, quase brancas, irradiavam uma luz tão forte que iluminava o quarto como uma lâmpada incandescente. Sinistro. Imaginou a cara de Nicole e daquela loira abominável ao se deparar com aquele troço e gostou do que viu. Apesar da coisa não ser tão feia, ainda assim era meio nojenta. Ao se perguntar como faria caso quisesse apagar a luz, foi trombado por Seth, que surgira ali.
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Rhoars - Os Magiciens
FantasyUm mundo perfeito corrompido com o sacrifício de um ser mágico, sendo dividido em dois: o mundo quadrimágico e o mundo modesto. Um com magia, o outro sem. A partir daí, jovens são postos à prova afim de descobrirem se possuem poderes, o que determin...