11 - RHOARS

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Quando Ethan transpôs a névoa foi capaz de entender as exclamações. Como em um sonho, eram expectadores. Estavam conscientes da sala ampla e ainda podiam ouvir Petit, mas todos os sentidos estavam voltados para a cena que se desenrolava. Os phoenix estavam translúcidos. Podiam se mover pelo cenário à sua volta, mas nada conseguiam modificar ou tocar. Se tentassem, os corpos eram atravessados como se fossem fantasmas. Mas todo o resto parecia real. Podiam sentir os odores, a temperatura diferenciada, enxergar as cores e ouvir aos sons.

"Este é o vilarejo Shiraizher, há tanto tempo que não se sabe ao certo quando. Um vilarejo do nosso mundo que já era mágico muito antes de algum humano possuir magia..."

Enquanto Petit narrava, Ethan enxergava o vilarejo. Um local remoto e rochoso onde pequenas comunidades se formavam no alto de suas falésias, sendo que muitas de suas casas eram cobertas por um telhado forrado por grama. Um cenário campestre e pitoresco. Havia uma pequena horta ao fundo de cada casa. Sem encanamento, retiravam água do poço. As vestimentas eram bastante simples. Mulheres com saiotes feitos de palha e um top de lã. Homens com calças ou bermudas do mesmo tecido e sem camisa. Algumas crianças seguiam o exemplo dos adultos, mas a maioria permanecia nua. Corriam, brincavam e riam. Ninguém usava scone. Poderia se passar por algum vilarejo do mundo modesto, isso se desconsiderasse alguns fatores, como a inocência quase palpável, a beleza e a pureza do ambiente, e por fim, os animais e as plantas. Muitos dos animais Ethan pôde identificar, por serem conhecidos no mundo modesto. Ainda assim, eram maiores, mais vistosos, mais dóceis e viviam misturados aos humanos. Viu leões, tigres, cães, gatos, pássaros, girafas, elefantes, gorilas, guaxinins, veados e uma série de outros animais que já contemplara pessoalmente ou por fotos. Mas não eram eles que se destacavam e permitiam diferenciar os dois mundos. Glowhorsks viviam em perfeita harmonia com os humanos. Uma espécie de elefante com orelhas gigantes e invés de uma tromba um focinho de tamanduá farejava o chão. Alguns deles sobrevoavam o vilarejo e Ethan se lembrou do conto infantil chamado Dumbo[20]. Bolinhas fofinhas de braços curtos e que se moviam como pinguins andavam pelas hortas como pequenos guardiões. Um ser que lhe causaria pesadelos, mas ali parecia inofensivo, corria pelo vilarejo e era afagado como seu fosse um vira-lata. Era um animal corpulento, peludo, que se movia como um urso, a cabeça era achatada e possuía a arcada dentária projetada para a frente, como um crocodilo. Uma zebra que não era listrada, mas xadrez. Um bichinho com o corpo de esquilo e o focinho bicudo de raposa pulava pelos galhos das árvores. Uma espécie de girafa invertida, com o pescoço curto e o corpo comprido, e que precisava de oito pares de patas para seu suporte, transportava diversas pessoas. Um dragão com cabeça de falcão sobrevoava o vilarejo e ninguém parecia se importar. Podia-se ouvir sons dos jardins, vindo das plantas que cantarolavam. Um cacto gigante e humanoide possuía vida e ajudava a todos em suas tarefas. Para onde quer que olhasse, podia notar que o lugar era encantado, não só pelos elementos exóticos, mas pela união e o amor entre todos, inclusive entre os humanos.

"Este vilarejo, meus caros, é apenas uma pequena amostra do mundo de antigamente. Um mundo em que não havia a divisão em mágico e não mágico. Como podem observar, tudo nele era encantado, exceto os humanos. Entretanto, a benevolência e a pureza eram essenciais para esse mundo que já não existe mais, bem diferente dos mundos que conhecemos. Agora, vejam o que vocês conhecem como o arco-íris, mas notem o ambiente ao seu redor e duas diferenças cruciais..."

Todo o cenário mudou e Ethan agora olhava para um excêntrico arco-íris. As famosas sete cores estavam lá. Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta, isso, observando de cima para baixo. Mas invés de faixas luminosas translúcidas, eram compostas por um tipo de fumaça. Como se cada faixa fosse uma cápsula de vidro invisível e a fumaça colorida se movimentasse o tempo todo tentando sair. Além disso, havia mais duas cores. Acima do vermelho e a primeira do arco, uma faixa preta, como a fumaça de escapamento de um caminhão velho. Após a violeta, a última do arco, uma faixa branca, como a fumaça produzida pelos aviões da esquadrilha da fumaça[21]em suas manobras no céu. Observando o arco esfumaçado, Ethan lembrou-se do efeito de bola de cristal nos filmes de bruxaria. Suas faixas eram bem grossas, ocupando bastante espaço no céu. Mas toda a cor e energia que emanava dali era um afronte ao que existia ao seu redor. Um lugar árido, cheio de pedras e inóspito. Árvores mortas, secas e sem folhagem. Sem vida humana ou de qualquer ser. Um odor ocre misturado a um sopro quente.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora