Rhoars - Os Magiciens

16 - A IGNORÂNCIA É UMA BÊNÇÃO

A semana passou voando. O plano para ajudar Seth na aula de Bartholomew estava arquitetado e foi ensaiado por diversas vezes. Agora restava apenas esperar sua próxima programação e torcer para que o plano funcionasse tão bem na prática quanto na teoria.

Sabiam que poderiam se dar mal se fossem pegos, mas após a primeira apresentação de Tabuletas da Lei, a tensão aumentou. A matéria ainda era uma incógnita para a turma. Não conseguiram determinar se havia algum tipo de brincadeira, se tudo não passou de uma esquisita coincidência ou se havia alguma lição de moral subliminar.

Gwen foi praticamente a única a não fazer a conexão com a religião cristã, pois mesmos os agnósticos já ouviram vez ou outra alguma das famosas histórias bíblicas com o protagonista Moisés, como quando ele abriu o Mar Vermelho, ou como ele conversou com Deus numa montanha, ou quando apresentou as dez pragas ao faraó e transformou seu cajado em uma grande cobra, ou ainda, quando desceu do monte Sinai com as tabuletas dos Dez Mandamentos.

Então, tiveram de lidar com o fato do wisowl de Tabuletas da Lei ser um coroa grisalho, cabeludo e barbudo, chamado Moses Staff[33], que ministrava suas aulas numa montanha e usava um cajado de apoio. Além disso, mostrou a eles uma tábua de pedra onde eram escritas as leis do mundo quadrimágico. Mais tarde viriam a descobrir que quase tudo não passava do senso de humor distorcido do wisowl, que realmente se chamava Moses Staff e ironicamente morava numa casa com uma placa escrita "Canaã"[34].

Excentricidade à parte, foi uma boa aula, inclusive para Ethan, que detestava teoria, sobretudo pelo fato de descobrir quais leis estaria infringindo para ajudar seus amigos, e quem sabe, à sua mãe.

As leis eram definidas pelo Conselho Quadrimágico, composto em sua maioria por representantes gaulles e alguns darcs de cada um dos quatro grupos mágicos. Sempre que escrita ou alterada uma das leis na tabuleta de pedra, todos que possuíssem uma função impactada por ela, como os próprios gaulles e darcs, receberiam a alteração imediata em seus códigos e uma notificação mental para nova leitura enviada por um biper.

Então, por tempo determinado, a nova lei somente seria de conhecimento dessas pessoas, para que fosse assimilada, testada e aprovada antes de entrar em vigência.

Holografs seriam gerados em locais aleatórios e sem aviso prévio, com o intuito de simularem a violação desta nova lei. Gaulles e darcs deveriam ficar atentos para a identificação e registro da violação, incluindo as devidas punições. Após a fase de simulação, se bem-sucedida, a população do mundo quadrimágico seria informada das mudanças, senão, o tema voltaria ao Conselho Quadrimágico para discussão e uma nova avaliação.

Seth ficou impressionado com o funcionamento do biper que Moses criou para demonstração à turma. Aliás, todos ficaram. O que não ficaram, foram confortáveis com o método necessário para a utilização do sistema, que consistia numa amostra de sangue de cada um dos destinatários da mensagem.

A coleta com seringas já é suficiente para deixar muitos receosos e fazer com que até mesmo marmanjos desfaleçam. Mas a experiência que veio a seguir quase provocou um motim. Não reconheceram aquela espécie do mundo quadrimágico, mas seu bico fino e dourado logo foi associado à agulha, uma mistura de libélula alaranjada e translúcida com um toque desvirtuado de beija-flor.

Escarlate sobrevoava o local, atacando cada phoenix como um experiente esgrimista em suas estocadas. A cada golpe, sugava um tanto do fluído vermelho que corria pelas veias dos jovens assustados. Uns tentavam se esconder, outros tentavam mostrar valentia, garotas choravam e alguns beiravam à histeria. Poucos consideraram uma técnica aceitável, e nem mesmo aqueles que desmaiaram se safaram.