08 - TRIBUTO MÁGICO

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No púlpito, uma mulher de meia-idade e muito elegante iniciou o discurso. Possuía belos traços e Ethan teve a impressão de já a conhecer, até se dar conta de onde. Ele não conhecia a mulher, mas conhecia Gwendoline Jones. E se este era o futuro que a aguardava, o tempo seria generoso com Gwen.

— Sejam bem-vindos. Meu nome é Sarah Jones e hoje tenho o imenso prazer de fazer a entrega dos scones, que são os anéis que canalizam toda a magia e criam um laço perpétuo com cada um de vocês.

Ela possuía uma simpatia genuína que não condizia com Gwen. Seu sorriso paternal alcançava o olhar e provocava a sensação de acolhimento. O tipo de pessoa que transmite confiança até a um cachorro. Gwen não era antipática, mas era desconfiada, fechada e não gostava de compartilhar detalhes de sua vida. E menos ainda seus sentimentos. À primeira vista seu olhar era um tanto ameaçador, como se ela pudesse arrancar sua cabeça e espetá-la no portão de sua casa em demonstração pública do perigo, caso dissesse ou fizesse algo de errado.

— Sua mãe parece ser muito simpática — puxou assunto, Ethan. — Esses scones... São os tais anéis que receberíamos restritivos, caso fôssemos encontrados pelos Gaulles? — continuou Ethan, agora sussurrando.

— Mais que simpática, minha mãe tem uma queda pelos fracos e oprimidos, gosta de lutar por direitos, liberdade de expressão e todo esse tipo de coisa. E vocês têm muito a agradecer por isso.

— Você acabou de me chamar de fraco e oprimido? — Ethan perguntou seriamente, mas logo deixou seu sorriso de canto de boca escapar.

Gwen se manteve impassível, apesar daquele sorriso ter lhe provocado a sensação de estar descendo uma montanha russa.

— Se a carapuça serviu... — respondeu, ríspida.

A resposta grosseira deixou Ethan irritado. Ou a garota não possuía senso de humor ou realmente o detestava.

— Bem, não serviu em mim! Um rapaz alto, forte, bonito, sensual, popular... — intrometeu-se Seth, a quem quase nunca faltava senso de humor.

Gwen e Ethan apenas reviraram os olhos, enfim concordando em alguma coisa.

Após a conversa malsucedida, restou assistir à entrega dos scones e a aguardar por seu nome. Ao chegar a vez do que seria o alto, forte, bonito e sensual Seth, ele comprovou ao menos ser popular.

— Ei, leite ninho! — gritou Agnella, sentada na primeira fileira.

Seth fingiu não ouvir, mas a provocação de Agnella surtiu efeito e outros começaram a gritar.

— Qual é a cuequinha de hoje? Ursinho?

— Ei, não fale assim! É claro que não é de ursinho, deve ser um gatinho!

— Que tal um uniforme branco emprestado? — continuou a algazarra, Agnella.

— Cuidado ao baixar as calças novamente, hein?! O reflexo vai nos cegar sem um super-herói para nos proteger!

A cabeça de Seth parecia estar prestes a explodir, sua face avermelhada podendo ser vista de longe. Manteve a dignidade como pôde e continuou. E por algum milagre chegou sem tropeçar, cair ou qualquer outro ato atrapalhado.

Recebeu o scone de uma intrigada Sra. Jones. Era tão surpreendente para ela a necessidade de camuflar um iniciante, que não tinha palavras para descrever o que sentia por precisar camuflar dois.

Quando Seth retornou ao seu lugar, estava recomposto e parecia ter esquecido o tumulto. Ou talvez apenas estivesse se esforçando para que assim parecesse, já que a ruiva sentada um pouco atrás poderia estar observando.

Rhoars - Os MagiciensOnde histórias criam vida. Descubra agora