Não, ele não faria isso comigo.
É o que eu quero acreditar enquanto analiso bem as expressões frias de Jay Park, seus olhos estão diretamente ligados a mim e ele parece capturar todo e qualquer movimento que eu faça. Não só ele como Tori que também estava com uma adaga em suas mãos, preparada para lutar mesmo que ela claramente perdesse em uma luta corpo a corpo comigo.
Ambos estavam prontos para me atacar e isso estava claro em seus olhares cheios de confusão e medo por terem sido pegos justo por mim.
— Que surpresa nem um pouco agradável — disse para ambos, com certo receio se isso seria bom ou não.
— O que faz aqui? — perguntou Tori.
— Queria perguntar a mesma coisa, mas acho que já sei bem o que vocês estavam fazendo — respondi sentindo uma pontada de dor no meu peito, sei que Jay não era o responsável, pois meus próprios sentimentos já estavam me machucando o suficiente. — Agora faz sentido vocês estarem tão próximos.
— Lia, podemos explicar — disse Jay.
— O que há para explicar? — perguntei respirando fundo. — Vocês dois estão cometendo um ato de traição a Melione, sabem o que aconteceu no passado com aqueles que quebraram essa regra.
— Assim como você também sabe, Lia — Tori começou a dizer. — você não nos entregaria, não faria isso com o Jay e eu.
Engoli seco, pois aquele era um destino cruel demais para que eles tivessem que passar. Não desejava de modo algum que Jay e Tori passassem pela punição de terem sido pegos ao serem vistos como um casal, a humilhação pública desgraçaria sua história e a morte não seria nada honrosa.
— Jay — o chamei, torcendo para que ele não fizesse algum movimento que poderia ser fatal para mim. — você não vai me matar.
— Como está tão confiante de que não farei isso? — ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Somos amigos desde antes do nascimento, eu sou quase uma irmã para você. Você passava os verões em Braswey, fugíamos para aquele farol perto das terras da minha casa, brincávamos e contávamos histórias sobre seres do mar, falávamos que iriamos mudar o mundo juntos. — respirei fundo. — Ensinamos Celine a andar e a falar as primeiras palavras, lutamos em batalhas juntos, lado a lado, e quase morremos em um maldito campo minado uma vez quando você não tinha checado a porcaria daquela área não seguindo ordens. Minhas memórias mais felizes foram ao seu lado, assim como as mais tristes quando perdemos amigos e pessoas que amávamos. Escrevemos um para o outro cartas todos os dias durante longos três anos. Não foram três dias e sim três anos, mesmo que as vezes você só me escrevesse uma linha porque estava doente e com preguiça de me contar a porcaria do seu dia. Você não vai me matar, se quisesse, teria feito no momento em que percebeu que eu estava atrás da estante, não é difícil reconhecer a minha energia.
Após o fim do meu longo discurso, um silêncio aterrorizante se instaurou entre nós, como Jay e Victoria estivessem analisando bem cada uma das palavras ditas por mim. Eu entendia o receio deles, o medo deles, mas me questionava se eles chegariam no ponto de me matarem para proteger tal segredo como esse.
Com o passar dos minutos, me encontrei aliviada ao notar que o Park abaixou as mãos devagar, sem movimentos bruscos para não me assustar tanto quanto Tori parecia assustada. Levei os segundos que se seguiram para cair de joelhos no chão e tomar fôlego, enquanto Tori corria até mim e caia aos prantos logo quando seus braços rodearam o meu corpo.
— Me perdoa, Lia. Me perdoa — chorava ela.
A abracei, procurando trazer algum tipo de conforto para ela, mesmo que em algum momento eu também procurasse para mim e para afastar todos os pensamentos do momento tenso que acabou de acontecer.

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ARCANE | Lee Heeseung
Fanfiction[LIVRO 1] Melione era muito mais que uma simples nação isolada de um mundo que já sofrera guerras e destruições há séculos atrás. Melione carregava uma história, um legado, seis famílias e seus pequenos reinos que sacrificaram tudo o que tinham para...