vinte e oito

376 51 72
                                    

Eu me sentia bonita, embora soubesse que meu dia seria um tormento repleto de exercícios extenuantes.

Isso tudo começou na noite anterior, quando Elvie veio ao meu quarto e me perguntou se eu já tinha tirado alguma noite de autocuidado na vida. Eu não entendi bem o que ela queria dizer, mas acabamos passando lama — ou argila — em nossos rostos e ela me convenceu a tomar um banho de sais e óleos naturais.

Não era a primeira vez que participava de algo assim. Sempre que estava na Capital de Melione, Victoria Lestecie me convidava para seus aposentos no Palácio dos Seis para fazer algo parecido. Eu evitava essas ocasiões o máximo possível, não por desinteresse, mas porque me sentia desconfortável comparando meu corpo, cheio de músculos e cicatrizes de batalha, com a pele suave e as curvas perfeitas de Tori. Ela era a personificação da beleza feminina, cercada por pretendentes que fariam fila apenas para beijar sua mão, enquanto eu fazia os homens me temerem.

Diferente dos momentos em que estava presente na companhia de Tori, com Elvie era completamente diferente. Ela não guardava elogios para si, falando como me achava bonita, e até mesmo brincava dizendo que invejava o meu abdômen e costas definidas — agora não estavam tanto pelos anos em que passei trancafiada em uma biblioteca estudando com pouco tempo para exercícios físicos. As inseguranças diminuíram conforme eu fui crescendo e amadurecendo, percebi isso na noite anterior enquanto Elvie trançava o meu cabelo.

Ela fez cerca de nove tranças, bem coladas à raiz do meu cabelo, um estilo comum entre as mulheres de onde eu venho. Meu povo, que antes eram navegadores, costumava usar trançados nos cabelos para criar mapas, sempre seguindo o caminho de um lar há muito perdido. Essa prática ainda persiste nos dias de hoje, mas de maneira mais estética. Elvie me contou que aprendeu a trançar com nossos primos e parentes que estão navegando em mar aberto, a família de nossas mães. Ela mencionou que não os vê há anos, mas gostaria que eu os conhecesse para que também pudesse aprender a trançar. Para ela, seria uma maneira simbólica de me ajudar a encontrar meu próprio caminho.

Não que eu estivesse perdida, mas me sentia assim desde todas as tragédias e mudanças que surgiram em minha vida ao longo dos últimos meses. E agora tem esses dons que eu não fazia ideia de que existiam.

Riki era o mais calmo e paciente ao me ajudar a controlar meus poderes, mas suas instruções me fizeram explodir pelo menos cinco árvores e destruir um dos pátios do templo. Com a chegada de Sunghoon, tudo se complicou ainda mais, pois ele nunca foi muito paciente, e eu nunca desejei tanto explodir uma cabeça quanto quando ele comentou que minha mira para acertar um alvo com uma esfera de fogo era terrível. Por sorte, ele estava certo, já que segundos depois eu tentei transformá-lo em um alvo.

Depois de todas as tentativas falhas, Elvie pediu para que eu me preparasse porque a aula de hoje seria fora do templo. Estava desconfiada com a estratégia que ela usaria dessa vez, na verdade, me sentia desconfiada desde o dia em que ela me fez comer uma espécie de fruta azul apimentada porque os saronianos mais velhos acreditavam que fazia bem para a concentração. Não conseguia confiar tanto em Elvie, mas quando cheguei ao campo de voo, no terraço do templo, quis dar um passo para trás ao ver Elvie e Heeseung conversando amigavelmente.

— Lia, finalmente chegou! — a de cabelos prateados sorriu para mim, andando em minha direção.

Eu não via Heeseung desde... aquela reunião onde decidiram que Sunghoon e Jake não eram uma ameaça. Porém, não nos falamos desde aquele beijo, na noite em que ele declarou que me amava.

Kiēra... Rainha... Sua voz ainda soava em minha mente, mesmo quando eu me deitava para dormir, sendo presente até mesmo em meus sonhos. Vê-lo diante de mim era o mesmo que confrontar essa voz.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora