quatorze

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O som das ondas quebrando perto da areia me fazia enxergar um mar agitado que se preparava para uma tempestade que estava por vir no meio do verão. Observava tudo da varanda da minha casa, onde tinha alguns livros sobre uma mesa de pedra e eu fingia estar em meu momento de estudos. O vento forte se chocou contra as minhas tranças e pele, me fazendo ter um breve deja vu assim que memórias de dias atrás vieram à tona, me fazendo viver aqueles curtos momentos de liberdade que tive junto a Kalius, pouco antes de ser confinada novamente nessa casa.

Faz um ano desde que voltei e sinto que deveria ser bom estar de volta ao lar depois de quase morrer várias vezes durante o treinamento militar e algumas missões especiais. Só que estar completamente distante do que foi minha vida durante anos não parece estar me fazendo bem, não consigo me acostumar, muito menos me contentar. É simplesmente tedioso.

Quando o vento soprou mais forte, espalhando as folhas dos livros por todas as partes, vi que era a hora de guardar tudo e dar uma pausa por hoje. A tempestade seria forte e a última coisa que eu quero é estar acordada quando os trovões soarem alto e os raios iluminarem os céus.

Algo chamou a minha atenção enquanto eu empilhava os livros, algo grande que voava no céu. Kalius e meu pai não demoraram muito para simplesmente pousarem na areia da praia. Meu pai logo desceu de sua sela e tocou as escamas enormes do dragão, como uma forma de agradecimento pelo voo. Em seguida, ele se afastou e deixou que Kalius batesse suas enormes asas e voasse de volta para o céu, para então seguir em direção ao templo onde ele e os outros dragões costumam a morar. Vi o Kayin Relish correndo em direção a casa, um pouco afastada do mar e logo ele me avistou perto da mesa de pedra, abrindo um sorriso de canto a canto para mim.

— Pela sua cara, parece que chupou um limão azedo — ele disse em tom de humor. — Quer ajuda?

— Sim, eu preciso levar todos esses livros enormes, pesado e velhos para a biblioteca antes que o vento os destrua — peguei uma pilha de cinco livros grandes, deixando uma outra para ele. — Quer me contar o porquê de ter saído tão cedo hoje?

— O Amin pediu por minha presença em sua corte para pedir alguns conselhos.

— O Ministro de Zahra pediu para que o senhor atravessasse todo aquele deserto só porque queria um conselho? O que de tão grandioso poderia ter sido para que o senhor fosse tão apressado para lá essa manhã?

— Bom, coisas que somente um pai de duas meninas vai entender — ele riu, pegando os livros e me acompanhando para dentro de casa. — Noor Badawi é a única filha do Amin, acho que você deve lembrar dela.

— Sim, a vi poucas vezes, mas quando era muito pequena.

— Bom, agora ela é uma adolescente de quinze anos que está deixando o pobre Amin de cabelos brancos — meu pai fez uma pausa. — Amin Badawi, o temido senhor dos desertos e furacões está sendo atormentado por uma adolescente de quinze anos, nunca me identifiquei tanto.

O empurrei para o lado com o ombro, como forma de implicância.

— Eu nunca te dei trabalho.

— Você implorou para entrar no serviço militar quando tinha somente treze anos de idade.

— E o senhor deixou quando eu fiquei mais velha.

— Quando completou quatorze anos e era somente uma criança ainda — ele me olhou de cima abaixo. — Ainda é uma criança.

— Tenho dezenove anos e já consegui posições incríveis no exército muito antes do senhor quando tinha a minha idade.

Viramos o corredor que dava para a biblioteca. Vi o meu pai respirar fundo, ele parecia um pouco pensativo a respeito daquilo.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora