ARCANE | Lee Heeseung

vinte

Minhas últimas duas semanas foram agraciadas com treinamentos intensos, tanto de controle de energia quanto corporais. Elvie disse que quanto mais disciplina eu tivesse em relação ao meu corpo, melhor seria a minha concentração para lidar com os meus poderes. Porém algo que Elvie não sabia era de que eu fui a guerreira mais jovem a ganhar uma medalha por desempenho físico na minha turma e por conta disso, ser boa em relação a exercícios físicos e combates corpo a corpo eram duas das minhas maiores habilidades.

E quando Elvie e as sacerdotisas do templo perceberam que eu era praticamente impossível de vencer em uma luta corpo a corpo, criaram uma espécie de competição para conseguirem me derrotar. Nenhuma delas conseguiu me derrubar no ringue. Chegou ao ponto dos guardas do templo, que geralmente treinavam no castelo, me enfrentarem em uma luta, porque não era mais algo sério e sim uma competição. Uma aposta para ver quem derrotaria a saroniana de sangue nobre. Com as muitas vitórias, concluí o que eu já sabia. Saronianos são bons nas lutas a distância onde seu único trabalho é enfrentar um oponente através da magia, mas são terríveis quanto a luta corpo a corpo.

Minhas manhãs eram no ringue e minhas tardes no pátio fora do templo e próximo a praia. Elvie, Kalius e eu treinávamos até nos cansarmos e quando tudo acabava, Elvie e eu normalmente caíamos na praia para um banho de mar que pudesse nos trazer algum tipo de paz espiritual, de acordo com ela. Voltei a cidade poucas vezes nessas últimas semanas. As vezes para reabastecer o meu armazenamento de pachim e as vezes para comprar vestidos e roupas novas já que as minhas viviam sempre queimando. E já que morava em Saron sem previsão de volta para Melione, decidi aprender a língua local.

Saroniano não é uma língua difícil gramaticalmente falando, é semelhante ao idioma falado nas terras de Kamari onde mal conjugavam verbos e a construção de frases é simples. Porém, a depender do tipo de frase que eu vá construir, as palavras podem mudar. Não de forma formal ou informal, mas o sentido dela. Se existe uma afirmação e eu quero trocar para uma interrogativa, então tenho que mudar não somente toda a construção de uma frase, como também as palavras. E as palavras... Elas são como uma tortura.

As crianças do templo tiram sarro de mim quando me escutam praticando o idioma, são piores do que Elvie me corrigindo, porque na visão daqueles pestinhas eu não posso ser uma adulta e falar como um bebê. E quando contei isso a Heeseung... se ao menos ele estivesse por perto para ouvir. Imaginei que o príncipe pudesse sorrir ou zombar de mim, sonhei com isso, na verdade. Ele estava distante outra vez, mas não por querer.

Ouvi boatos de que a tensão da guerra se fazia cada vez mais presente enquanto espiões de Saron eram enviados para Melione em busca do príncipe Sanhee. Heeseung era quem estava no comando dessas buscas, dando ordens e passando seus dias montando estratégias caso Saron recebesse qualquer tipo de retaliação repentina. Ao menos foi essa a informação que eu recebi por parte de Elvie quando a questionei sobre o paradeiro do príncipe. E mesmo com a distância, senti que algo mudou.

Aquela ala do templo é vazia e ninguém tem permissão para entrar a não serem Elvie e Jungwon. Porém, Elvie mora no castelo, onde está a família real, com sua mãe e pai, e Jungwon está sempre na cidade com seus parentes.

Posso dizer que ao fim da noite sempre me sento em uma cadeira na varanda e observo o mar em seus diferentes temperamentos. Há alguns dias choveu, então o enxerguei muito mais agitado que o normal, mas quase sempre ele está pacífico e pleno. E após alguns minutos meditando ou lendo um livro sobre a história de Saron, eu volto para o quarto e fecho todas as cortinas e janelas, fazendo o possível para que não houvesse luz e meu quarto fosse tomado pelas sombras da noite.

Eram nesses momentos. Nesses breves momentos. Em que meus olhos ficavam pesados e as vezes sentia aquela energia única e poderosa se manifestar quando eu estava prestes a cair em meu sono noturno. E durante muito tempo quis ficar acordada tempo o suficiente para saber o que rondava a minha espreita, mas quando o sol da manhã chegava, percebia que não adiantava nada.