treze

502 66 127
                                    

Qual era a sensação de se afogar? Talvez abrir a boca para inspirar ar e se engasgar com litros e litros de água que envolvia todo o seu corpo em um tipo de tortura gélida e mortal. Além do ar em seus pulmões se esvaindo e sendo tomado por todo esse líquido em excesso que te afunda mais e mais. Além de tudo, seus músculos e membros se batendo para que você tenha uma mínima chance de chegar à superfície, mas seu corpo é pesado demais, tudo é pesado demais para te fazer flutuar e quando menos dá para perceber, apenas desistir parece o mais certo.

Foi dessa forma que eu me senti quando lutei por minha vida ao ser jogada daquela ponte no rio gélido que, por pouco, não congelou os meus ossos. Na verdade, fazia tanto tempo que eu estava submersa que não conseguia sentir mais nada. Nem meus ossos, nem as pontas dos meus dedos. Via a luz da superfície simplesmente sumindo enquanto meu corpo ia mais e mais fundo, enquanto a correnteza me puxava para baixo.

Vi algo cair na água, bem onde eu caí quando fui empurrada. Estava tudo borrado e cada vez mais escuro, e eu me deixei ser dominada por aquilo quando o último fôlego que me restava se foi. Talvez morreria ali, mesmo que sentisse que algo arrastava o meu corpo em uma direção contrária. Algo rodeava a minha cintura com força, sentia a pressão, principalmente quando algo se chocou contra as minhas pernas.

Então senti aquela sensação familiar quando cheguei a superfície, o vento em meu rosto, causando mais frio do que eu poderia imaginar e diversos sons diferentes aos arredores, que me traziam perguntas de como eu havia ido parar ali.

— CALIA! — gritou aquele que me salvou, mas eu me sentia sem forças para responder.

Não conseguia respirar direito e a água me consumia. Abri os meus olhos, mas tudo parecia confuso demais. Quem quer que tivesse me salvo daquele destino, me colocou sobre suas costas enquanto nadava de volta para terra firme. Flashes vieram à minha visão. Eu o vi nadando com afinco para nos salvar. Eu ouvi sons de espadas e tiros de canhão. Eu vi pedras de gelo caindo na água ao nosso redor. Eu me vi sobre a areia da terra, com alguém que tinha as mãos sobre o meu tórax fazendo pressões enquanto toda a água que eu engoli parecia sair de forma descontrolada por minha garganta.

Me engasguei e tossi quando a consciência realmente voltou à tona e eu entendi o que de fato estava acontecendo. Eu estava viva. Viva!

— Calia... — me chamou o meu salvador e destruidor. Sunghoon, a pessoa que me empurrou da ponte para que eu não fosse atingida com o ataque dos nortistas. — Você disse que sabia nadar!

Não, eu não sabia. Nunca aprendi.

Nadar nunca foi algo natural para mim. Nunca foi fácil porque não fazia parte de quem eu era e muito menos era uma habilidade que eu soube desenvolver. A água era mortal, sempre foi. Eu poderia dominar muitas coisas, menos ela.

Um dia, sei que ela seria a minha morte, mas pelo visto não foi hoje.

— Precisamos ir! — Sunghoon me segurou pelos ombros. — Calia, vamos morrer se ficarmos aqui! Acorde!

❆❆❆

O ar irrompeu em meus pulmões no momento em que me ergui abruptamente, uma urgência pulsante despertando meu corpo. Num instante de instinto, minhas mãos buscaram a adaga que costumava repousar sob meu travesseiro, mas a frieza do metal não encontrou meus dedos. Estava longe de minha cama em Braswey, afastada do som reconfortante das ondas quebrando na praia.

A sala onde me encontrava não oferecia nenhum consolo. Era um espaço apertado, abafado pelas paredes de tijolos cruéis que pareciam sussurrar histórias de confinamento. Duas camas de madeira desgastada ocupavam o centro, testemunhas mudas de muitas noites de agonia. Um balde no canto, emanando um odor insuportável, era o único vestígio de saneamento em meio à penumbra.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora