vinte e seis

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Às vezes, existem momentos tão tensos na vida que são semelhantes a estar à beira da morte.

Esse era um sentimento que eu conhecia bem, esteve presente durante toda a minha vida, principalmente no instante em que eu entrei naquele quartel militar e aceitei que passaria os próximos anos servindo Melione para me tornar uma ministra digna do meu povo. Durante aqueles anos difíceis em que o sentimento de morrer estava presente a cada dia, havia uma pessoa que me fazia esquecer de toda a tensão e inseguranças, esse alguém era Jay Park. Porém, ao crescer e amadurecer, vejo que quem realmente esteve ao meu lado era Sunghoon, meu parceiro babaca e mal-humorado.

Só nos dávamos bem para fazermos um bom trabalho e melhorarmos nossas atividades, mas quando eu comecei a despertar um pouco dos meus dons, era ele quem estava por perto para me ajudar a controlar meus poderes, como enxergar além dos planos quando minha visão não era tão clara e eu ainda não sabia direito o que estava fazendo. Além de me consolar quando tive meu coração partido uma vez por um amor juvenil — na verdade, ele estava sentindo muita pena e disse que eu estava chorando alto demais, o impedindo de dormir. Só me consolou naquele dia para que eu o deixasse em paz.

A meu ver, se Sunghoon fosse o irmão que eu encontrasse nos fundos da biblioteca aos beijos com Victoria Lestecie, ele me mataria sem hesitar. Ele sempre demonstrou ser mais cruel e sangue frio, e seu sarcasmo habitual sempre fez com que todos se distanciassem dele. Sunghoon não é do tipo que serve a Melione, muito menos a um ministro. Ele serve a si mesmo e aos seus próprios interesses.

E concluí que esse meu pensamento era verídico em Hiesfērin, quando seu prisioneiro de guerra estava sendo levado pelos inimigos e a única coisa que ele se preocupou foi em me beijar. Porém, foi algo que me deixou tão surpresa que fiquei paralisada, sem saber como reagir. Sunghoon geralmente demonstrava uma aversão a mim, sendo insuportável na maior parte do tempo. Me beijar com a gratidão de me ver viva foi... incomum.

Tão incomum que eu preferi jogar a memória para o fundo do meu subconsciente e fingir que nada daquilo aconteceu. E assim seguiria meus dias, ansiando pelo nosso reencontro que deveria acontecer em um novo campo de batalha.

Claro, em um canto de batalha. Não no salão de reuniões do castelo de Aesira.

— Finalmente te encontrei, Relish.

Suas palavras soaram como uma prece, um alívio palpável que se espalhou pelo ambiente, causando um leve formigamento em minha pele.

Ao seu lado, avistei o garoto loiro, Jake. Na última vez que o vi, ele era um soldado de Kamari encarregado de proteger Victoria Lestecie. Agora, em Saron, ele apresentava profundas olheiras escuras sob os olhos, os lábios ressecados provavelmente devido ao frio além da barreira de proteção, e um olhar de pânico e terror que eu só via em homens à beira da morte. Fisicamente, Sunghoon estava igualmente desgastado, mas a diferença em seus olhares era evidente: Jake parecia aterrorizado, enquanto Sunghoon exibia uma determinação fria.

— O que está acontecendo? — encarei o conselho, focando principalmente no General Irash e no Comandante Saius.

— Reconhecem esses homens? — a voz do rei soou pela sala, poderosa e predominante.

Ainda parada em meu lugar, voltei meus olhos para Sunghoon.

— Sim, eu os reconheço — admiti. — Só não entendo. Como chegaram aqui?

— É o que estamos nos perguntando, criança — Brielin finalmente se pronunciou, seu olhar correndo por Sunghoon e Jake como se eles fossem duas presas fáceis. — Como um vivimante e um... — ela olhou Jake de cima a baixo, fazendo-o parecer uma espécie inferior. — ... rato conseguiram encontrar a cidade que tenho protegido nos últimos setenta anos?

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora