dois

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— Como foi o confinamento? — perguntou Jay em tom de brincadeira.

Estávamos na biblioteca principal do palácio junto a Victoria que estava em busca de algum livro sobre mitos da Ascensão dos Seis.

— Eles me jogavam em uma cova cheia de dragões durante a noite e me davam apenas uma faca de café da manhã para me defender. — respondi em tom irônico.

— Acho que já li essa história em algum lugar — Jay segurou o queixo com os dedos e ergueu uma das sobrancelhas como se estivesse refletindo sobre algo como um dos pensadores de vários séculos atrás.

— Idiota — ri, o empurrando para o lado com um dos meus ombros.

Jay riu também, relaxando os ombros ao meu lado.

— Você deveria ir descansar, uma viagem de carruagem de Braswey até aqui é cansativa.

— Por favor, eu vi pessoas sendo carbonizadas vivas hoje, acha mesmo que eu não aguento passar algumas horas ouvindo a sua voz irritante e a Tori falando sobre o último romance que ela leu?

Meu amigo voltou a rir, só que mais baixo dessa vez por conta de alguns monitores que voavam entre as enormes prateleiras de madeira e nos lançou um olhar nada amigável.

Esses monitores são pequenas criaturas douradas com asas vindas de Eudora, um país que faz fronteira com a região de Soria, província da Casa de Kamari. Eles detestam barulho e principalmente poeira e desorganização. São perfeitos como monitores das bibliotecas do Palácio dos Seis.

— Você também viu o que aconteceu na praça hoje? — perguntou Victoria surgindo das sombras.

— Que susto — coloquei a mão sobre o peito. — Tori, eu gosto muito mais quando você é explosiva e nem um pouco silenciosa.

— Desculpa, precisei aprender a ser silenciosa no último ano, é quase impossível de evitar agora.

Quis perguntar sobre o que ela estava falando, até a minha atenção se voltar completamente para Jay Park que soltou uma gargalhada alta e colocou a mão sobre a boca para evitar ainda mais barulho, pois os monitores pareciam ainda mais raivosos e prontos para comerem a carne do rosto dele sem nem pensar duas vezes.

— Que bobo — Tori revirou os olhos.

— Um idiota — complementei. — pelo visto, vocês dois agora estão com piadas internas.

— Você perdeu muita coisa em três anos — respondeu Jay.

— Vejo que sim, mas a partir desta noite vocês dois estarão grudados em mim por toda uma vida.

— Como um perfeito casamento.

Tori me abraçou de lado, então eu ergui o braço para que Jay fizesse o mesmo, mas ele apenas revirou os olhos e seguiu andando em frente.

— Infelizmente — disse o Park.

Está claro o porquê dessa reação. Está sempre muito claro. Ele sempre agiu assim quando tocávamos nesse assunto.

— Ele ainda não superou — disse Victoria para mim. — O ministro Junyeok não quer deixar que Sunghoon assuma a posição no lugar do Jay.

A mesma história de sempre. Dois irmãos. Um bastardo e um legítimo. Ambos com competências indescritíveis e bem-sucedidos em suas respectivas áreas. Jay nunca quis esse fardo, nunca quis representar a sua casa e muito menos abdicar de uma vida para se tornar um ministro como eu e Victoria. E o pior é que eu não conseguiria fazer nada e nem ninguém.

Os assuntos de Daeho são apenas de Daeho.

— Então por que Sunghoon está aqui?

— Não sei, talvez uma última tentativa de um desastre acontecer e o Sunghoon ter que assumir na ascensão no lugar do Jay.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora