dezessete

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Todo o meu ser gritava para que eu fechasse a minha boca e controlasse minhas emoções.

Se antes eu conseguia sentir a energia que corria nas veias de cada pessoa a dois quilômetros de distância, tudo o que sinto agora é algo antigo, místico e poderoso se intensificar, a ponto de ocultar até mesmo os rastros de energia de Heeseung. E isso vinha de Brielin e sua surpresa perante a minha afronta.

Não existiam mais fios de energia prateados em sua íris, eles desapareceram no momento em que eu senti sua energia se intensificar juntamente com sua ira. E sentia os olhares daquelas mulheres vestidas de branco ao meu redor, como se temessem por minha vida e Brielin, bom, acredito que não existiu tolo algum para enfrentá-la daquela maneira. Para a minha belíssima sorte, tenho o prazer de ser a primeira.

Até mesmo Kalius deu um passo para trás e acredito que Heeseung fez o mesmo, porém numa velocidade curta e com tanto silêncio que acredito que se não estivéssemos ligados um ao outro, eu não perceberia. Aguardava pela morte da mesma forma que o povo do deserto aguarda pela chuva, ela poderia vir a qualquer momento, mas não se sabia quando ou como.

O poder de Brielin aumentou, se intensificou a ponto de eu me perguntar como ela o suportara naquela sua forma "mortal", porque somente de presenciá-lo, algo em mim dizia que minha lucidez poderia se perder facilmente. Era como uma fonte que não parava de jorrar água, até se tornar um rio forte e perigoso. Ainda assim, não abaixei a cabeça e sustentei o meu olhar no dela, ignorando todos os alertas do meu corpo e a intuição que gritava para que eu corresse para o mais longe possível. Existiam campos de batalha onde para vencer seu oponente, é necessário erguer uma espada para ele. Brielin e eu estávamos em um campo de batalha, mas diferente dos muitos em que é esperado uma luta corpo a corpo entre os adversários, a nossa batalha se resumia ao nosso orgulho e ao caráter que pairava sobre nós duas.

Eu não abaixaria minha cabeça para Brielin e ela não faria o mesmo para mim, independente de quem eu era. Isso a custaria seu respeito.

Até porque, notei pela forma como Heeseung a descreveu momentos atrás e também pela forma como todos nesse lugar pareciam saudá-la de que ela não era apenas uma protetora, ela é uma rainha. A verdadeira rainha de Aesira. Pode até existir uma família real, mas eles são fachada quando o verdadeiro poder de Saron está bem diante de mim.

— Fascinante — fiz um breve movimento com a cabeça, observando bem o olhar de Brielin.

— O que? — desconfiança se apoderou do rosto da dragão.

Dei um passo para trás, fingindo aceitar uma derrota.

— Você é bem convincente, todos aqui devem amá-la com a mais pura devoção — levei uma mão ao peito e brevemente abaixei o pescoço, para então voltar a encará-la brevemente. — Já que não ouvi nenhuma resposta a respeito dos meus termos, acredito que devo me retirar e procurar uma forma de não morrer quando precisar me atirar naquela cordilheira de montanhas.

— Calia — Heeseung parecia querer me alertar.

— Deixe a menina — Brielin parecia prestes a dar seu veredito final. — Ela tem afronta, mas é tola o suficiente para achar que consegue fazer alguma coisa sozinha. Por enquanto, Senhor das Sombras, ela será sua responsabilidade, você que decide se ela vai ficar ou se ela vai embora daqui.

— Brielin... — Heeseung tentou contestar, mas um olhas da dragão foi o suficiente para que ele medisse suas palavras. — Como desejar.

Lancei um breve olhar para Kalius, notando que ele parecia dividido entre me ajudar ou ficar ao lado de Brielin. Com razão, claro. Ela era uma dragão, uma rainha, um ser poderoso que conhecia bem os segredos mais sombrios a respeito de Melione. E eu, bom, eu era só uma garota que teve a sorte — ou a infelicidade — de ganhar na loteria genética.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora