doze

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Não vi Jungwon o dia todo. Ele disse que voltaria em breve, mas Yerin, sua prima, avisou que surgiu uma emergência na cidade em que ele precisou resolver e por isso estava desaparecido. E não é como se Jungwon pudesse me entreter durante o dia. Eu passei a tarde sentindo pequenas explosões de energia dentro de mim que me deixaram levemente nauseada. Algo semelhante à quando eu comecei a aprender a manipular minha energia anos atrás. Era como se eu me tornasse uma iniciante em absolutamente tudo novamente.

Sim, algo em mim mudou e conforme o tempo passava, a minha mente ganhava enormes flashbacks daquela noite onde eu claramente sei que aconteceu todas as coisas possíveis para que eu não estivesse viva agora, mas eu estou. Estar viva depois de tudo é muito mais que um milagre, é algo inexplicável. É impossível. Mesmo se eu não tivesse levado a flechada no peito, meu corpo deveria ter se partido em pedaços quando eu chegasse à água após cair quase novecentos metros abaixo naquele cânion.

Olho para as minhas mãos e consigo enxergar os fios de energia inquietos que se explodem em pequenas camadas de prateado. Parece mais pesado, mais denso, mais primitivo. Não sei como funciona, mas parece tão diferente e limpo.

A vida toda enxerguei a energia das outras pessoas, um dom que se manifestou com ainda mais força na minha adolescência. Cada um sempre tem algo individual, pode ser muito forte ou muito fraco a ponto de mim quase nunca conseguir enxergar qualquer tipo de fio de energia ou qualquer luz. A energia se funde as pessoas, como se adaptasse a cada natureza e cada ser, mas comigo parece ser diferente. Olho para as minhas mãos e enxergo minha energia até mesmo em meus vasos sanguíneos, se espalhando por minha carne e ossos, procurando por espaço.

Era muito mais do que eu poderia aguentar e percebi isso quando senti outra explosão dentro de mim, em meu peito e o meu coração acelerou de forma compulsiva. Me joguei na cama, apertando o punho sobre o meu peito e esperando que aquilo parasse o mais rápido possível porque eu não conseguia respirar.

Tantas coisas passam por minha mente agora, até mesmo o rosto assustado de Celine quando eu lhe entreguei aquela adaga e exigi que ela estivesse pronta para lutar. Vi o rosto da minha mãe na última vez em que nos encontramos e o sorriso do meu pai na noite da Ascensão.

Calia...

As vozes me chamaram e de alguma forma o ar voltou aos meus pulmões.

Encontre aquele que a ajudará na jornada para recuperar o equilíbrio do nosso mundo. Ele te ajudará a controlar o seu poder.

— Quem? — perguntei ofegante.

Seu semelhante. Você saberá quando o encontrar.

Aquilo não parecia tão detalhado. A ideia de que eu estava desenvolvendo algum tipo de doença da mente nunca me pareceu tão certa. Estou falando sozinha com vozes na minha cabeça que de alguma forma não me trazem tanta estranheza e sim conforto, mas não deixa de ser algo bizarro.

Poderia continuar presa em meus pensamentos se não fosse pela porta do quarto que foi aberta e Yerin entrou com um sorriso de canto a canto. Ela exalava uma alegria incomum e veio logo ao meu encontro rapidamente, sem que eu pudesse fazer qualquer coisa.

— O príncipe já voltou! Iremos ter um jantar farto esta noite, mas gostaria de te apresentar a ele agora.

— Onde está Jungwon? — engoli seco, torcendo para que o pequeno Yang não interferisse naquele momento tão importante.

— Meu primo ainda não retornou, assim como meu irmão, mas não precisa se preocupar quanto a isso. Eu cuidarei muito bem de você hoje.

Não sei por que me tornei tão apreensiva agora. Estava animada para me encontrar com Kian — ou Heeseung —, mas do jeito que eu me sentia agora, só pensava em simplesmente ficar o resto da noite na cama e ignorar qualquer tipo de responsabilidade que estivesse nas minhas mãos. Infelizmente o dever me chamava e junto a ele a necessidade de saber ainda mais por trás dos nortistas que assassinaram minha família.

ARCANE | Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora