Parte 2

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Me virei para o fundo da sala, vendo-o se revelar nas sombras. Franzi o cenho e fechei a cara de raiva. Maldito rato! Ele estava o tempo todo ali e eu não tinha percebido sua presença em nenhum momento! Tinha aquele olhar de tédio que tanto me irritava, uma das mãos no bolso, nessa postura arrogante de despreocupação e ... Como ainda deixavam ele ler esse livro sacana dentro da academia? Bufei, me virando pra frente, revirando os olhos.

Se aproximou sem pressa, parando ao meu lado.

- O que eu acho, do quê? - perguntou calmamente à Tsunade, guardando o livro em um dos bolsos.

- Você a escutou. Ela te odeia a ponto de te entregar ao inimigo, Kakashi. Vai aceitá-la como aluna ainda? - descruzou as pernas e braços, recostando os cotovelos na mesa, encarando-o.

- Hum ... - um som chocho ecoou da garganta dele. Se voltou para mim e me analisou dos pés à cabeça, lentamente. Mantive-me firme, mas nitidamente irritada. Aqueles olhos entediantes encontraram os meus. Em resposta, cerrei os dentes com força. Era estranho encará-lo sabendo que agora ele sabia o que eu sentia a respeito dele. - Você já se decidiu. Já disse que sou a melhor opção pra ela nesse momento. Por que ainda pergunta? - somente seus olhos procuraram o olhar da Tsunade, seu rosto e corpo continuavam de frente pra mim.

- Parece que é pessoal.

- Eu não me importo. - me encarou profundamente, as palavras e os olhos mais frios que gelo. - Não faz diferença para o treinamento. Faz? - voltou-se para ela, ignorando minha encarada.

- Creio que seja até melhor! - confessou, um pouco tensa.

- Ok, se estamos entend...

- Senhora ... - controlei o tom de voz para não explodir de nervoso. - ... por favor, reconsidere.

Ambos me olharam em silêncio, dava para escutar minha pulsação alterada perto do pescoço. Minha vontade era me negar a cumprir tudo o que estava sendo obrigada. Mandando eles e essa aldeia para a puta que os pariu. Mas o que fiz foi cravar as unhas em punho e esperar uma benevolência que não veio.

- Afinal, por que me odeia tanto, senhorita ... senhorita ... - parecia tentar recordar meu nome.

- Você me ouviu, não me obrigue a repetir! - esbravejei por entre os dentes.

O vi ficar com a postura ereta e em alerta. Me observava friamente, mas não esperava a minha afronta. Era bem provável que esse meu comportamento fosse punido depois.

Segurou o queixo levemente com o indicador e o polegar e fez uma expressão que parecia de dúvida. Olhou para cima, como se buscasse algo na memória e num repente, ergueu as sobrancelhas como se fosse atingido por aquilo que buscava.

- Ah, claro! - apontou o dedo, que antes segurava o queixo, para mim. Chacoalhava-o perto do meu nariz, sem hesitação. - Você era aquela menina que ficou plantada, chorando, berrando o nome de não sei quem quando reprovei a sua equipe inteira! - seus olhos percorreram meu corpo de novo, em espanto. - Tá crescida, já! - Um riso debochado saiu da boca dele. - Espero que, agora adulta, não fique choramingando quando eu reprovar você de novo! - cerrou os olhos levemente e, apesar da máscara, senti um sorriso nefasto cortar seus lábios.

Novamente, ele tinha poder sobre meu destino ... e sabia disso.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora