Parte 8

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O Sr. Hatake tinha ido me buscar, a pedido da Tsunade. O andamento do treinamento chegou aos ouvidos dela, possivelmente por um relatório emitido pelo sensei, e ela demonstrava não estar nem um pouco feliz.

Estava preocupada, minhas mãos custavam ficar quietas dentro dos bolsos. A caminho dali, refleti sobre o treinamento e constatei que não avançamos um milímetro sequer. Um simples olhar e toque nas minhas mãos desencadeou um cenário inapropriado de choro e lamentações.

Fiquei com receio dela cancelar tudo. E eu sabia que seria por minha causa. Fui EU quem não estive disposta a ceder e me conectar minimamente à ele.

Mas, um lado meu se sentiria muito aliviado se tudo aquilo tivesse fim. Não seria necessário continuar aturando esse rato, não seria necessário sair da aldeia, não seria necessário colocar minha vida em risco por alguém que eu nem conhecia. Nem sabia que tipo de informação estava protegendo! E se morresse por nada?

Me sentia uma criança emburrada agora. Estava envergonhada.

Estava com receio do Sr. Hatake ter relatado sobre o Haruki. Mas é óbvio que ele o tinha feito. Agora todos ali sabiam porque meu coração doía tanto e porque eu odiava tanto o Sr. Hatake a ponto de entregá-lo ao inimigo. Era estranho ter pessoas sabendo exatamente o que se passava no meu coração.

Fiquei sem entender o comportamento dele também. O que foi aquilo de me abraçar e me acolher, como se soubesse exatamente o que eu estava passando? Essa gentileza toda deve ter sido parte do treinamento. Constatei! Como seria possível termos qualquer tipo de conexão íntima brigando que nem gato e rato?

Mas o que mais me incomodou foi ele saber exatamente de quem eu falava. Pensei que ele acharia que era o jovem que tinha morrido mais cedo no hospital aquele dia, afinal, ele tinha visto o sangue em meu uniforme. Mas não! Isso significava que desde o começo lembrava de mim e do nome de berrei com todas as forças dos meus pulmões quando me reprovou.

Senti uma vontade estranha de chorar, mas apertei as unhas contra o punho cerrado para doer mais do que estava doendo dentro do peito.

- Que história é essa de invadir a casa dela, Kakashi? - o descontentamento da Hokage se concentrou nele e isso me surpreendeu.

O homem ao meu lado suspirou em tédio:

- Como eu disse no relatório, suspeitei que ela estivesse sendo seguida e decidi averiguar de perto ...

- Mentiroso! - como ele ousava? - Você poderia muito bem averiguar suas suspeitas do lado de fora da minha casa! - as emoções deixaram meu tom alterado.

- É? E quem protegeria os livros dando sopa em cima da sua cama? Você? - retrucou, mirando aquele redemoinho assustador pra mim.

- Calem a boca! - uma veia saltou na têmpora da Hokage e ambos ficamos sabiamente em silêncio. - E você, hein, S/N? Como anda o seu treinamento? - era minha vez de receber sua fúria e era óbvio que ela já sabia a resposta.

Baixei os olhos, envergonhada.

- O que me diz, Kakashi? - suspirou frustrada, vendo que não ousaria respondê-la.

Aquele rato não me poupou. Me encarando, ainda com o redemoinho trepidando, tratou de sentenciar em palavras o que eu já sabia. Disse que não sentia que eu estava me esforçando e que não estava levando o treinamento a sério. Se conteve por instantes, mas ainda assim falou que eu estava deixando sentimentos do passado atrapalharem.

Terminou dizendo que eu até poderia ser uma boa médica, mas que estava longe de ser uma boa ninja. Falou sobre o descuido com os livros, sobre o jutsu de ocultação amador e sobre eu nem ter me dado conta de estar sendo seguida. Aconselhou que eu tivesse mais aulas de ninjutsu, porque não sobreviveria um dia fora de Konoha.

Meu maxilar passou a doer de tão forte que apertei meus dentes para não mandá-lo a merda e desistir de tudo. Senti o sangue escorrer por entre as unhas, minhas mãos estavam em carne viva.

A Tsunade me olhava, pensativa. Era o fim?

- Olha aqui garota! - mirei seus olhos cerrados. - Vou te dar mais uma chance! E isso só está acontecendo porque desde o início você nos avisou que tinha motivos para esse treinamento não dar certo. - fez um sinal de silêncio para mim quando tentei retrucar. - Preciso que se esforce, entendeu? Vidas dependem do seu comprometimento!

- Sim, senhora! - o Sr. Hatake fitou-me surpreso, por ter concordado prontamente.

- Como você fez isso? - zombou da Tsunade. Me olhava como se fosse um cãozinho que aprendeu um truque novo. - Me ensina?

- Kakashi, - obteve sua atenção, ignorando-o - separe um tempo e a ensine ninjutsu! O nível de sigilo dessa missão é alto demais para envolver mais pessoas. Entendeu? - era uma pergunta retórica.

Não conseguia processar o que estava me acontecendo. Não estava me sentindo nem um pouco aliviada pela segunda chance. Eu pisquei e agora não só teria que passar por cima de tudo para fazer o treinamento dar certo, como teria que passar mais tempo com esse rato desprezível!

Quis morrer, pela enésima vez!

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora