Parte 16

595 67 6
                                    

O Yusuke tentou cumprimentar timidamente o Sr. Hatake e, vendo que o olhar intimidador do homem não mudava, se despediu de mim e tratou de pegar o caminho de volta ao hospital.

- Não te ensinaram bons modos, não? - revoltei-me fitando a figura do meu colega cabisbaixo se distanciar cada vez mais. Ficou tão desconcertado que não ousou olhar para trás. O Sr. Hatake ainda o encarava, observando-o como um cão de guarda sarnento. Fiquei irritada, vendo que não me respondia. - Nem sei porque pergunto isso pro cara que invadiu minha casa e ...

- E que não subiu as suas calças. - me interrompeu, numa voz densamente raivosa, redirecionando aquele redemoinho para mim. - Não se esqueça disso também! - gelei a espinha e corei ao mesmo tempo.

- Qual é o seu problema? - fitei ao redor, verificando se mais alguém tinha escutado.

- Não gosto dele! - sentenciou seco.

- Surpresa seria se você gostasse de alguém! - cerrei os punhos, me segurando para não empurrá-lo contra a vitrine da sorveteria. - O que pensa que está fazendo aqui? - cruzei os braços, tentando me acalmar.

- Eu que te pergunto! - tirou as mãos dos bolsos e imitou meu gesto. Seu tórax subiu, e seus bíceps se contraíram, me dando uma certa sensação de fragilidade.

- É óbvio que não é da sua conta! - me recompus, encarando-o brava.

Todo o corpo do homem indicava que ele não estava para brincadeiras, mas não conseguia me acalmar. Aquela situação estava muito esquisita. Ele ali, espiando o Yusuke e eu ... sendo que, ontem mesmo, a boca do sensei não só engoliu a minha, mas se deliciou de outras partes também.

Como ele mesmo fez questão de lembrar!

Comecei a me perguntar se nunca mais teria uma vida normal, com esse rato na minha cola.

Ainda o encarava, mantendo o olhar firme, quando reparei que sorriu de canto de boca, debochando, trazendo o rosto próximo do meu:

- Tá toda bravinha só porque interrompi seu momento romântico? - riu-se me vendo corar. - E por falar nisso, que coisa mais cafona: "vai ter que me ajudar, pra essa dor passar" ... - afinou um pouco a voz e fez uma careta, puxando os olhos, fingindo imitar meu colega.

A paciência e a prudência deixaram meu corpo.

- O que é isso, Sr. Hatake? Ciúmes? - analisei seu rosto, imitando o gesto que ele fazia de levar a mão ao queixo e fazer uma cara de dúvida forçada.

- Não seja ridícula! - voltou o corpo ereto, retomando o tom raivoso. Virou o rosto para o lado, fingindo observar ao longe.

O redemoinho de seus olhos se acalmou e percebi que suas bochechas coraram um pouco.

- Se você se apaixonar por mim, te denuncio pra Tsunade, seu rato! - ameacei, sem dó.

Qual era a dele com toda essa implicância? Ficar me seguindo e interferir nos meus relacionamentos assim? Teria uma conversinha com a Hokage na primeira oportunidade!

- Isso não é ... - se interrompeu, passando a mão no rosto, numa tentativa de se acalmar. Respirou fundo, olhando para cima e me encarou sério. - Você entendeu tudo errado! Para de criancices pra cima de mim!

- Então, que merda foi essa? Você não tem limites, não? Isso aqui é minha vida particular, você não pode chegar assim, achando que ...

- Você não tem mais vida particular! - me interrompeu, seco. - Você pertence a Konoha! Vou precisar te lembrar pra que está sendo preparada? - descruzou os braços e enfiou as mãos nos bolsos. Seu olhar e tom de voz eram frios como o gelo.

Engoli seco.

- Isso não tem nada a ver com o Yusuke! - contestei em tom alterado, descruzando os braços e dando de dedo no peitoral dele.

Algumas pessoas que passavam na rua repararam na minha rispidez. Com aquele olhar tedioso, agiu como se minha afronta fosse uma folha que tivesse batido em seu uniforme e com uma mão preguiçosa, pegou meu dedo e afastou-a de seu corpo, sem pressa.

- Não? - me surpreendeu quando a mesma mão segurou meu rosto, num gesto mais rápido que um piscar de olhos, apertando minhas bochechas entre seus dedos. Cheguei a ficar na ponta dos pés, sendo obrigada a encará-lo fundo nos olhos. - E o que vai dizer a ele quando sumir por tempo indeterminado, sem ao menos saber se vai voltar? - me soltou, fazendo-me perder um pouco o equilíbrio. - Vai contar a verdade a ele?

Era exatamente o que iria fazer! O Yusuke era a única pessoa que eu confiava nessa vila, a única que poderia contar a verdade para os meus pais, caso ...

- Awn, que romântico! - fez uma careta fofa, confirmando suas suspeitas pela minha cara.

- Cala a boca! - cerrei o cenho e esbravejei, levantando a mão para lhe dar um tapa.

Mas eu já sabia que ele seria mais rápido. Meu pulso foi freado no ar, ainda próximo a minha cabeça, nem cheguei perto.

- Me faça calar! - rangeu entre os dentes e me soltou com rispidez. - Sou seu sensei e é minha obrigação te dizer que você deve ter muito cuidado com as pessoas que te cercam! Muito! Principalmente com a segurança delas! - voltou à pose despreocupada e baixou o tom de voz. - Você é uma espiã de Konoha agora, não é mais só uma simples médica. Você não tem ideia de como isso pode ser perigoso.

Eu tinha ideia, sim. Quase morri naquela noite, se não fosse por ele. Era difícil aceitar que eu estava fazendo parte do corpo de pessoas daquela aldeia que abdicava de tudo para o bem comum. Para o bem de pessoas como eu, que só queriam viver suas vidas simples.

Cruzei meus braços, meio emburrada. Querendo ou não, aquele rato maldito tinha razão, eu poderia estar colocando a vida do Yusuke em perigo.

- E o que devo fazer? - minha voz quase não saiu, pelo bico que fiz com os lábios.

Não acredito que estava perguntando isso à ele.

- O quanto ele sabe? - me surpreendeu, respondendo de imediato.

- Como? - pensei que faria mais graça, mas não, estava bem sério.

- Ele sabe de alguma coisa, porque só faltou se mijar nas calças quando me viu! Desembucha!

- Ah, foi tudo culpa sua! - resmunguei, apertando mais os braços cruzados. - Se tivesse feito seu trabalho direito, saberia que ele está no corpo médico da Ambu. - fitei-o arregalar levemente os olhos. - Então, aquela sua historinha ridícula não colou!

- O que você falou, exatamente?

- Só disse que você está atrás de mim porque quer aprender meu jutsu proibido.

- Disse à ele qual era o jutsu?

- Não! Sem detalhes.

- Só falou isso, mesmo?

- Só!

Levou uma das mãos ao queixo e o segurou, fazendo aquela cara sonsa que tanto me irritava. Seus olhos tediosos me consumiam a alma. Estava prestes a perder a paciência e gritar com ele se ele não falasse nada ...

- Hum ... - um som chocho saiu da garganta dele. - ... até que você não é de tudo tapada!

- O que? - não acreditei no que ouvi.

Voltou a mão ao bolso e veio em minha direção, ficou bem próximo a mim, me encarando de uma forma bem séria.

- Termine com isso de uma vez! - foi enfático. - E se concentre no seu treinamento! - antes que pudesse responder, se afastou e deu as costas, seguindo na direção oposta a do hospital. - Te vejo hoje, no mesmo horário! - ergueu a mão, como se estivesse se despedindo, nem olhou para trás. - Ah ... - parou e me encarou por cima do ombro. - ... e suas folgas do hospital são minhas agora! Vou te passar um intensivo de ninjutsu ... você vai adorar! - sorriu maquiavélico e seguiu seu caminho.

- Rato! - praguejei baixinho.

Aposto que estava se divertindo muito com a minha desgraça.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora