Parte 49

239 29 7
                                    

Uma mesa farta, cheia de comidas fumaceando, nos aguardava para o jantar daquela noite. Me sentia enjoada e confesso que, se não fosse o banho quente, tomado à pouco, para aliviar as dores pelo corpo, estaria estirada em minha cama, pedindo arrego aos kamis.

O treinamento com o Sr. Hatake não foi intenso, foi BRUTAL!

Os pivetes me perseguiram ferozmente mata adentro. No começo até que consegui me esconder deles e tomar um pouco de fôlego, mas quando me localizaram, traçaram ataques tão complexos que mal consegui me defender. O pirralho conseguiu reproduzir uma quantidade absurda de clones das sombras e o que era para ser só um moleque irritante, viraram sei lá, coisa de cem deles. O emburradinho, com sua bola de fogo e suas estratégias de emboscadas, me rendeu várias queimaduras pelo corpo. Sorte que a pequena Sakura tinha uma pomada de cura com ela. Agora, os machucados não passavam de vergões ardidos.

Ambos me derrotaram, acertando seus jutsus e minhas próprias agulhas contra mim. Foi muito complicado manter a guarda durante a batalha enquanto neutralizava-me dos venenos toda vez que era atingida. Precisava aprimorar esse aspecto, o inimigo não me daria tempo para me recompor.

Tinha muito a melhorar, mas o que mais doeu foi saber que eu não fui párea para dois pivetes! Que merda!

Durante o jantar, o moleque se gabava de boca cheia sobre o fato de ter me derrotado, mesmo que não tenha sido de forma tão consciente assim, pois estava sob o efeito do veneno da agulha de ponta vermelha. Acredito que teve sua pequena vingança contra mim e, sinceramente ... não estava ligando para isso. Não naquele momento.

A única coisa que me ocupava a mente era o fato de ainda ser fraca! De saber que me depararia com mais do que pivetes na minha missão e que as chances de voltar viva eram ... elas não existiam!

A comida mal descia. Engolia-a forçadamente, com raiva, me questionando como fui tão idiota em pensar que teria alguma chance.

- A Srta. Shinkai se ferrou! - continuava. - Pode até ter venenos poderosos, mas não é mais esperta que o Kakashi sensei! Foi genial usar os poderes dela contra ela mesma! - era o único à mesa que não percebia minha chateação.

Não quis contar à eles que fui eu quem deixei que isso tudo acontecesse ... até porque, não mudaria o resultado!

O Sr. Hatake tinha razão, eu não tinha um plano B e deveria sofrer as consequências por isso. Pode ter parecido cruel da parte dele, mas entendi suas intenções. O homem queria me treinar para o pior cenário. Queria ver como me sairia quando as coisas dessem muito errado e, honestamente, quis saber do que eu seria capaz. Por isso deixei que os meninos me atacassem.

E digo deixei, porque poderia muito bem ter evitado tudo isso!

Havia contado a eles que, quando uma pessoa era atingida pelo veneno da agulha de ponta vermelha, tecnicamente entravam em um estado falso de genjutsu, ficando suscetíveis a comandos. Mas o que não falei antes, era que só poderiam obedecer aos MEUS comandos. Que sentido teria permitir que qualquer pessoa que atirasse minhas agulhas pudesse dar comandos às vítimas?

Assim como o sensei, o inimigo poderia acreditar que pudesse voltar minha própria arma contra mim.

Mas deixei que pensassem que sim!

Quando o homem deu os comandos às crianças, repeti-os em voz alta, dando o verdadeiro comando, fazendo-me parecer que estava exclamando assustada. Isso o fez rir, perverso, se deliciando ao me ver encurralada. E é óbvio que quis socá-lo por isso!

A vontade de virar o jogo e fazer os meninos contra-atacarem o sensei foi grande. Se for analisar bem, isso seria um belo de um plano B! Mas como disse, não eram as habilidades dele que estavam em cheque, queria saber como EU me sairia em meio ao caos. E agora, com a resposta ... me sentia péssima!

- Vou dormir. - comuniquei seca, pedindo licença.

Me levantei, deixando o local sob o olhar confuso do pivete.

- Você perde a oportunidade de ficar quieto! - Sakura deu-lhe um cascudo que o fez gemer de dor.

-----

Soltei o ar dos pulmões tensionados, num suspiro relaxante quando a pele finalmente se acostumou à quentura excessiva das águas termais. Recostei a cabeça em uma pedra, tentando admirar o céu estrelado acima de mim.

Aquele lugar era lindo e estava sendo um privilégio poder desfrutar desse paraíso antes de ... antes que tudo tivesse um fim.

Não ousei me questionar se teria a oportunidade de visitar essas fontes novamente.

Eu já sabia a resposta.

Deixei-me imergir completamente nas águas, fazendo meu rosto queimar como se estivesse tendo minha pele arrancada. Aproveitei para deixar as lágrimas se misturarem para sempre àquela fonte, guardando meu medo de morrer com ela.

Estava quase sem ar, quando senti a presença de alguém. Abri os olhos ainda debaixo d'água, identificando um vulto à borda da fonte. Emergi o rosto em alerta, encarando-o assustada.

- Mas que ...! - respirei mais aliviada, constatando que era o sensei. - O que tá fazendo aqui? - meu tom saiu meio ríspido.

O homem me observava sério, naquela pose pretensiosa de superioridade, mãos nos bolsos, um olhar fuzilante vindo de cima. Demorei alguns segundos para perceber que não estava para brincadeiras. Seu sharingan trepidava ameaçador, num tom de vermelho e caramelo.

Senti um calafrio percorrer a espinha.

- O q-que ... quer? - receosa, recostei-me à borda da fonte, tentando instintivamente me afastar.

Não me respondeu. Removeu tranquilamente as mãos dos bolsos e, como se tivesse todo o tempo do mundo, começou a se despir. Tirou o colete ...

- O que pensa que tá fazendo? - corei, nervosa, vendo onde ia dar.

- O que acha? - seco, removeu a máscara junto com a camisa, jogando-as de canto. - Você se acha muito espertinha, não é? - cerrou os olhos, me encarando enraivecido.

Abriu o cinto, desabotoando a calça, meus olhos foram puxados para lá como ímãs.

- D-do que tá falando? - balbuciei e desviei o olhar, ao perceber que não pararia de se despir.

Escutei-o imergir firmemente nas águas, pequenas ondas chegaram até mim, fazendo-me encará-lo novamente. Cobrindo-se somente até o baixo ventre, aproximou-se o suficiente para que meu nariz ficasse a um palmo de distância do seu umbigo. Meus olhos se perderam no desenho perfeito do seu abdômen, mas logo foram puxados aos dele, quando rosnou:

- Aquele seu truquezinho foi de muito baixo nível, coisinha! - rangendo os dentes, entregou seu orgulho ferido ao ser ludibriado com um beijo envenenado.

Não me segurei e sorri, sentindo os demônios emergirem de dentro de mim ao escutar o apelido que há algum tempo não ouvia. Ele estava puto e eu ... eu não pude frear a língua:

- Baixo nível ou não, você caiu direitinho! - ergui-me nua, devolvendo a provocação cara a cara. - Seu r-a-t-o!

Seus olhos baixaram, perdendo-se rapidamente, percorrendo meus seios, cintilando um desejo mal disfarçado. Voltou-os logo aos meus, desenhando um sorriso malicioso no canto dos lábios enquanto elevava uma das mãos, recostando-a na pedra atrás de mim, tentando me intimidar.

Seu sharingan zangado me fuzilava, enquanto sua boca cobiçava a minha bem de perto.

- Vou te contar um segredo. - seu tom baixo e denso não estava menos ameaçador. - Você não sabe com quem tá mexendo, coisas desse tipo geram consequências! E eu não tô nem aí se você será capaz de lidar com elas ou não! - fez uma pequena pausa. - Hoje, você não sairá daqui ilesa!

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora