Parte 36

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Pedi ao Sr. Hatake para me mostrar por onde ele acessava meu quarto. Dei a desculpa que queria descobrir uma forma de entrar e sair de casa sem ser vista pelos meus pais, mas a verdade é que queria que ele entrasse comigo. Queria conversar com ele e ainda pensava na melhor forma de fazer isso.

Aquele rato miserável me fez escalar sozinha, aborrecido com o pedido. Subiu rápido, mostrando o caminho e lá de cima, se divertia com meu jeito estabanado de copiá-lo. Cheguei esbaforida ao parapeito da janela do meu quarto e me sentei ao seu lado.

- A sua sutileza ninja é excepcional. - mesmo em voz risonha, não tirava a provocação da boca.

- Dá um tempo, vai! - inalei profundamente, tentando acalmar os batimentos cardíacos. - Não sou tão habilidosa nisso quanto você! - ri de mim mesma, contemplando a vista ao longe.

O olhos do homem congelaram em mim, perdendo o que havia de graça em sua face, obviamente surpreso pelo elogio gratuito. O que eu estava fazendo? Depois que descobri a verdade, foi inevitável compreendê-lo um pouco e, por causa disso, estava mais tolerante com suas provocações, estava tratando-o de uma maneira muito diferente da minha irritação de sempre. Ele poderia desconfiar ...

- Quero dizer, - tentei me corrigir, fingindo superioridade. - só ratos fazem esse tipo de coisa, é claro que eu seria uma negação nisso.

Ergueu uma sobrancelha, ainda confuso. E concluiu, dissipando o que quer que estivesse passando em sua mente:

- Tanto faz. - ameaçou levantar, mas o freei, segurando-o pelo pulso.

Fiquei encarando-o, sem saber como abordá-lo. Decidi que não contaria sobre essa nova habilidade. Não enquanto entendesse o que estava acontecendo e muito menos antes de tirar proveito disso. Mas precisava conversar com ele sobre o que escutei no bar.

- Você quer dizer algo? - cerrou os olhos, num misto de impaciência e desconfiança. - Não tenho o dia todo p ...

- Será que você pode não ser um escroto por ... um segundo? - agora a impaciente era eu.

Em meio a uma expressão de indignação, soltei-o e adentrei o quarto, caindo desajeitada na cama. Enquanto sentava e arrancava os sapatos, jogando-os para longe, o homem me observava com as sobrancelhas erguidas:

- Olha, um adjetivo novo! - fez um gesto como se olhasse para um relógio imaginário no pulso. - E ... pronto!

- Kakashi!... - saiu sem querer.

Chamei-o pelo primeiro nome, numa intimidade que só tivemos, você sabe ... na cama. Odiei o jeito que meu tom pareceu dengoso e cansado de suas provocações. Esperei represália, mas o que veio me surpreendeu. O homem simplesmente perdeu a pose arrogante. Desceu os braços ao lado do corpo, voltando sua atenção total à mim. Como se aquela palavra ou talvez o tom da minha voz, não sei ... fosse capaz de desarmá-lo.

Arrumei minha postura na cama, sentando-me como se fosse meditar. Bati com a ponta dos dedos no colchão, convidando-o a me seguir. Franziu o cenho:

- O que pensa que está fazendo?

- O que acha? - alinhei a postura e o encarei, esperando que se movesse.

- Não vamos treinar hoje ...

- Por favor. - minha súplica pareceu um pouco mais decente, dessa vez.

E foi o bastante.

Sem contestar, repetiu meus movimentos, se posicionando bem na minha frente. Antes que pudéssemos começar a sequência de respiração, resolveu remover o colete. Isso parecia incomodá-lo.

Fechamos os olhos e, do começo ao fim, nossa respiração estava sincronizada. A cada inalada meus sentidos percebiam mais ainda a presença dele. Agora, não parecia mais estranho tê-lo na minha cama. Era como se cada célula do meu corpo o reconhecesse.

- Vou tocar sua mão, ok? - com a voz densa e calma, me fez sentir seu toque quente no dorso da mão.

Aquilo ativou muitas memórias. Memórias de seu toque sobre minha pele, na noite anterior. Me deixei ser conduzida e nossas mãos se enlaçaram como se fôssemos dois namoradinhos.

Não esperei que me pedisse para abrir os olhos.

O fitei observando nossas mãos. Parecia perdido, em suas próprias emoções e pensamentos.

Com a mão livre, puxei seu queixo, trazendo seus olhos ávidos aos meus. Senti alívio em não ver repulsa, reprovação ou qualquer coisa assim. Encontrei aquele garoto apaixonado de novo.

Tinha esperanças que isso acontecesse, só assim conseguiria conversar com ele. Durante o treinamento o Sr. Hatake era mil vezes mais gentil e agora, entendia melhor o porquê.

Era o único momento que ele se permitia ser ele mesmo.

Descruzei as pernas e me levantei na cama, ultrapassando as dele e me posicionei perfeitamente em seu colo, dando-lhe o abraço mais forte que eu conseguia dar. Seu nariz enfiou-se em meu pescoço e o senti retribuir o gesto, sem hesitar.

- O que está fazendo? - murmurou em tom abafado, me apertando mais entre seus braços.

Soltou o ar devagar, relaxando os músculos, como se meu abraço o tranquilizasse.

- Eu preciso saber porque está me tratando dessa forma. - murmurei também, em tom doce. Não queria que se sentisse encurralado. - Está acontecendo algo entre nós, mas você resolveu me tratar com rispidez. Estou confusa. - levei os lábios à pele do pescoço dele e o beijei suavemente antes de continuar. - Só consigo deduzir duas coisas. A primeira é que você gosta de mim, mas está tentando me afastar. Eu só ainda não sei bem porquê. - travei a garganta, lembrando-me da vez que ele disse que matou a colega, de seus olhos cheios de uma dor que nunca iria passar ...

- E a segunda? - compenetrado em minha fala, me trouxe de volta.

- Na verdade, não tem segunda. Não consigo acreditar que você me envolveria só para ... agora que te conheço um pouco mais, não acho que faria isso. Faria?

- Nunca! - afagou-me os cabelos, me apertando em seu abraço. - Me desculpe se pareceu que ...

Soltei-me de seu abraço e o encarei nos olhos.

- Se você não quiser nada, só precisa me dizer. - levei a mão ao seu rosto, acariciando-o. - Não vou admitir que me trate dessa forma, eu mereço muito mais que isso. - senti minha mão ser enlaçada e beijada, como se concordasse comigo. Engoli seco, tomando coragem para as próximas palavras. Não para pronunciá-las, mas para escutar a resposta que viria delas. - Agora, se você sente algo por mim, por favor ... me beija.

Entendi que não seria fácil arrancar os sentimentos desse homem por meio de palavras. Não adiantaria perguntar se ele gostava ou não de mim. Ele não diria. E eu sabia disso, porque sou igualzinha. É difícil admitir coisas por meio de palavras. Elas simplesmente entalam na garganta e não saem.

Seria mais fácil por ações. Por isso, pedi um gesto simples como um beijo. Isso me diria mais do que algumas palavras juntas numa mesma frase.

Em meio a uma relutância inicial, soltou-me a mão e envolveu a borda da máscara, puxando-a para baixo. Sem uma única palavra, envolveu-me o rosto e me beijou apaixonadamente. Me deixei ser conduzida, podendo finalmente retirar o peso da dúvida dos meus ombros.

Ele gostava de mim! Só era um idiota que não sabia como lidar com isso.

Senti meus lábios serem soltos, do nada. Trouxe um olhar cheio de dúvidas:

- E você? - navegava pelos meus olhos. - Me beije se gost ...

Não o deixei terminar. Envolvi ambas as mãos em seu rosto e o puxei para continuarmos o beijo. Era isso, estava admitindo que gostava daquele rato imundo. Eu estava mesmo perdida, muito perdida. Senti minha cintura ser enlaçada por ambos os braços dele e assim ficamos, nos beijando lentamente, até perdemos o fôlego.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora