Parte 4

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Estava tendo uma manhã bem difícil, a começar pela enxaqueca forte devido ao álcool da noite anterior e o constrangimento por ter revelado minha queda pelo Sr. Sarutobi para, ninguém menos que, aquele rato imundo. Era um misto de vergonha com culpa por não ter percebido que era ele o tempo todo. Como pude ser tão idiota?

Ao passar pela porta que separava os leitos da recepção, me dirigi ao balcão perdida em pensamentos com a morte prematura que acabara de presenciar. Um jovem trabalhador havia se cortado gravemente com um instrumento de trabalho e a hemorragia não pode ser contida a tempo. Veio a óbito assim que pisou no hospital. Minhas roupas estavam encharcadas de sangue e meu coração doía. Minha alma estava gelada, meu nariz ardendo e os olhos quentes, úmidos pelas primeiras lágrimas se formando.

- Não podíamos fazer nada. - meu colega residente me alcançou, colocando uma mão em meu ombro, me confortando. - Fica bem.

Levei a mão sobre a dele, fazendo um carinho simples em forma de agradecimento pelo apoio. Não quis falar nada, pois senão choraria e eu não queria aquilo naquele momento. Dei-lhe um sorriso amarelo e o fitei partir, corredor adentro, indo atrás de suas obrigações. Continuei me dirigindo à minha.

Ao encostar-me no balcão, a recepcionista me entregou os formulários que precisava preencher. Me concentrei ali, transcrevendo todos os detalhes do ocorrido, enquanto ainda estavam frescos na memória. Ele era muito jovem, muito jovem mesmo. Uma lágrima escorreu discreta e, imediatamente, a limpei com a manga do uniforme médico.

- Tem uma pessoa aguardando a senhora, doutora. - minha colega falou baixinho, como se contasse um segredo.

Não estava com cabeça para conversar com ninguém, muito menos com familiares dos pacientes. Então, não dei muita atenção.

- Ah, é? - questionei ainda concentrada no que escrevia.

- Parece ser da academia ninja. - minha mão travou na hora, depositava mais tinta naquele ponto da escrita do que era necessário, borrei a palavra.

Ainda não havia me acostumado com a ideia de que estava em treinamento e que, praticamente todos os dias, viriam me informar sobre os passos seguintes. Reparei que a palavra ficou ilegível. Rabisquei-a, praguejando baixo, voltando a escrevê-la, um tanto quanto irritada.

- Deve ser o moleque de recados daquele imbecil! - meu pensamento saiu pela boca sem muito esforço.

Ergui os olhos, fitando os da recepcionista levemente arregalados. Ela olhava para um ponto bem atrás de mim. Comecei a me virar ...

- Na verdade, dei o dia de folga pra ele. - contrai todos os músculos do meu corpo, ao escutar a voz daquele homem.

Maldito rato! De novo, se esgueirando pelas sombras. Me olhava de cima, com ar de autoridade. Seus olhos tediosos percorreram meu uniforme ensanguentado e voltaram aos meus. Em uma de suas mãos haviam três exemplares daquele livro sacana e a outra mão estava descansando em um dos seus bolsos.

- Desde quando você tem compaixão pelos seus alunos, Sr. Hatake? - provoquei, virando-me de costas para ele, voltando a preencher o documento.

- Sr. Hatake? O que aconteceu com "Rato maldito"? - senti que ele cruzava os braços e a recepcionista fechava o sorriso simpático, afastando-se, fingindo atender uma ligação. - Tenho consideração por quem é MEU aluno, não por calouros. Não se confunda, coisinha. - por mais que utilizasse-se de um tom normal, conseguia provocar os demônios dentro de mim.

Respirei fundo.

- Podia ter mandado uns de seus cachorros, teria apreciado mais.

- Sabe como é, eles avançam sobre pessoas que não vão com a cara do dono deles. - riu-se baixinho, me fazendo encará-lo de imediato.

- Não ir com sua cara é pouco! - vociferei por entre os dentes.

- Então, imagina o estrago que eles causariam em você? - me devolveu um olhar faiscante.

- Doutora ... - escutei a recepcionista falar baixinho, mas a ignorei.

- Hum, "doutora"? - debochando de mim, recebeu uma revirada de olhos, em resposta.

- O que quer aqui? Não vê que estou ocupada? - tentei voltar minha atenção aos papéis, mas sem sucesso.

- Doutora, o diretor está na linha, quer você na sala dele em 10 minutos. - atropelou nossa conversa calorosa. - O que falo pra ele? - tapava o fone com uma das mãos delicadas.

- Que estou ocupada! - vociferei, perdendo a paciência. - Eu só quero terminar essa papelada. - lamentei.

Ela olhou para o lado esquerdo, em resposta ao que ouviu na ligação. Me olhou envergonhada, tomando coragem para repetir:

- "Diga a ela que pare de resmungar e venha até aqui!". Foi o que ele disse e desligou. Sinto muito! - virou-se de costas, digitando qualquer coisa no computador à frente dela.

- Bota resmungona nisso ... - suspirou cansado, atrás de mim.

Virei-me em sua direção, cruzando os braços e franzindo o cenho. Cerrei forte o punho, tentando não voar no pescoço daquele imbecil.

- Pode me dar um minuto, vai ser rápido. - fechou-se sério, gesticulando com o olhar para nos afastarmos dos ouvidos atentos da recepcionista.

Só obedeci, cansada de tudo aquilo.

- Isso aqui é pra você. - falou baixinho e estendeu-me os livros. - Guarde-os com sua própria vida. Não os deixe em qualquer lugar. Você deve estudá-los para o treinamento de hoje a noite. - enfiou as mãos nos bolsos.

- Livros sacanas? Tá me zoan ... - cortei-me, dando conta que, por fora, aparentavam ser os livros nada inocentes que ele vivia carregando. Mas na verdade, eram os pergaminhos da Aldeia das Ervas. Folheei um deles, incrédula. - É por isso que você vive grudado neles. - deduzi.

- É, não é fácil carregar essa fama de tarado por aí ... - suspirou, queixando-se. - Mas até que ajuda com as garotas. - levou uma mão à nuca, coçando-a desconfortável.

- Ah, cala a boca! - esbravejei em tom baixo e ameacei deixá-lo falando sozinho.

Fui contida pelo seu pulso forte segurando um dos meus braços. Seu tom ficou mais grosso e denso, fazendo-me arrepiar até o último fio de cabelo do corpo.

- Olha aqui, coisinha. - aproximou a boca no meu ouvido, apertava forte meu braço. - Hoje acaba essa sua insolência. A partir de agora eu sou seu professor, então trate-me com respeito! Tá, ouvindo? - seus olhos encontraram os meus e fiquei com medo, vendo o redemoinho começar a trepidar em seu olho esquerdo. Assenti, nervosa. - Diga, "entendi, sensei". - ordenou.

- Entendi ... - mordi o canto interno da bochecha, relutando em ceder. - ... sen-sei. - saiu raivoso.

- Ótimo! - soltou-me o braço. - Te encontro em casa, às 20 h. O endereço está na contra capa. - virou de costas, saindo, me deixando estagnada na mesma posição.

Tentava entender o que acabara de acontecer. Meu sangue pulsava nervoso na jugular, cheio de raiva, minha respiração estava encurtada e apertava aqueles livros com toda a pressão que meus dedos conseguiam executar. Mas, lá embaixo ... naquela parte íntima ... algo novo aconteceu. Algo quente e molhado, me fez morder o lábio inferior sem pensar.

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De volta ao balcão, para terminar a papelada, fui surpreendida pelo comentário da recepcionista:

- Nossa, o que eu faço pra ter um desses atrás de mim, hein? - suspirou. - Ele é uma grac ...

- Depende de quantos pecados você cometeu! - interrompi aquele absurdo.

- Quê? - me olhou confusa.

- Esquece! Tô indo ver o diretor. - entreguei o formulário à ela e sai.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora