Parte 5

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Entrei no banho um pouco apreensiva. Não sabia muito bem o que esperar do primeiro dia de treinamento, ainda mais depois de ler aqueles livros. Meu corpo ardia só com o conteúdo escrito. Inspirei fundo e tranquei a respiração, tentando acalmar os batimentos cardíacos, sentindo a água quente batendo nos ombros e nuca.

Soltei o ar devagar. O que o Sr. Hatake faria hoje? Será que tentaria me tocar? Repuxei o canto da boca, numa expressão de nojo. Arrepiei todo o corpo, encolhendo-o, em repulsa. Me dei conta que estava tomando banho para que, caso ele resolvesse tirar minhas roupas, eu não estivesse cheirando a "dia de trabalho". Fiquei brava comigo por isso, desligando o registro enraivecida. Desde quando importa o que ele vai pensar do meu cheiro?

- Babaca! - praguejei, baixinho.

Me apressei, afinal só tinha dado um pulo em casa depois do expediente, engolido qualquer coisa que minha mãe tinha preparado e corrido tomar uma ducha. Precisava me apressar, ele disse para não me atrasar e ... sabe-se lá o que poderia me fazer se eu chegasse um minuto que fosse mais tarde. Era melhor não arriscar.

Enrolei-me na toalha, os cabelos ainda pingavam e molhavam seu comprimento, mal enxugados por causa da pressa. Ao abrir a porta do banheiro, meu corpo se contraiu totalmente, fazendo-me dar um pulo para trás e gritar alto.

- Filho da puta! - soltei, levando a mão à boca, tampando-a e em seguida. De alguma forma achei que tinha sido desrespeitosa.

Desci os olhos para meu corpo, percebendo que estava somente de toalha na frente dele. Corei um pouco, levando a mão ao comprimento dela, puxando-a para baixo, tentando cobrir as coxas.

- Tá tudo bem aí, S/N? - minha mãe gritou da cozinha, preocupada.

Meu coração pulava na boca com o susto. O Sr. Hatake estava sentado na ponta da minha cama, folheando um dos livros que havia deixado sobre ela. Nem se abalou com o meu grito, parecia esperar por isso. Levantou o olhar e, ao me ver, deixou-o ao lado do corpo e cruzou os braços, em postura alerta. Olhou-me fixamente, parecia não estar nada contente.

- T-táááá sim, mãe! - não conseguia tirar os olhos dele. - Eu bati o dedinho do pé ... foi isso. - estava começando a ficar com medo daquele olhar.

- Ai menina, você é muito desastrada. Quase me mata de susto! - escutamos ela chegar perto da porta, mas não a abriu. - Se seu pai estivesse em casa já teria tido um infarto. Só daria a gente correndo pro hospital a essa hora ... - continuava falando, mas sua voz ficou inaudível. Tinha essa mania de falar e sair andando.

Será que ele entrou pela janela? Me questionava. Será que ficou espreitando eu chegar em casa? Rato! Como ele sabia onde eu morava? Será que me seguiu? Mas, porquê?

- Dá pra ver de quem puxou o hábito de resmungar. - provocou. O redemoinho em seu olho trepidava, lampejos de vermelho e caramelo se formaram.

- Fecha sua boca pra falar da minha mãe. - o enfrentei, com as pernas trêmulas. - O que pensa que faz aqui? - apoiei ambas as mãos na borda da pia, atrás de mim, para conter o nervosismo e me manter de pé.

- O que faço aqui? - indignou-se, descruzando os braços. Se levantou. - Qual parte de "não os deixe em qualquer lugar" você não entendeu? - apontou para os livros expostos sobre a cama. - Se isso cai em mãos erradas ... - balançou a cabeça em negação, respirando lento e profundamente, ainda me encarando.

Quando cheguei em casa, larguei a bolsa sobre a cama, com os livros lá dentro. Não pensei que alguém teria interesse neles, as pessoas nem sabiam sobre eles, nem sabiam que existia o Treinamento Nível S ... ele estava exagerando. Estava mais preocupada com o questionamento das pessoas se me vissem com aquele tipo de livro. Imagina se minha mãe visse! Não acredito que invadiu minha casa por isso! Perdi a paciência.

- Você invade minha casa ... meu quarto e sua desculpa são os livros? - desencostei da pia, dando alguns passos a frente, ficando bem próxima à ele.

Me olhava de cima, ainda com aquele olhar de superioridade e irritação. Foi nesse momento que o senti inalar o ar profundo e discretamente, pois seu tórax acompanhou o movimento. Enquanto o redemoinho se acalmava, seus olhos baixaram percorrendo meu corpo envolto na toalha já molhada pelos cabelos. Parecia que, só agora, tinha se tocado sobre o fato.

Mas eu não ligava mais, mantive a encarada, esperando justificativas para não socá-lo, para não gritar ... mesmo sabendo que ele usaria o sharyngan em um quarto de segundo ... ah, como eu o odiava!

- Eu sabia que não podia confiar em você. - seco, voltou os olhos aos meus, dessa vez, tediosos como sempre. - O que aconteceria se alguém tivesse acesso à eles, coisinha? O que acha que aconteceria? - peitou-me, observei seu maxilar contraindo.

Ri, de nervoso. Ele realmente achava que tinha razão!

- Você acha que sou idiota? Eu ...

- Quer mesmo saber? - atropelou minha fala, erguendo ambas as sobrancelhas, em provocação.

- Eu ... - continuei. - ... coloquei um jutsu de ocultação neles! - peguei um dos livros e o abri em sua frente para que olhasse melhor. - Tá vendo, qualquer pessoa que pegar isso aqui, vai ver somente coisas sacanas ... coisas ... ah, você entendeu! - senti as bochechas queimarem.

Ele estendeu ambas as mãos sobre o livro e, com três gestos simples, as palavras se reordenaram e o conteúdo real foi exposto. Meu queixo caiu.

- O que? Isso aqui? - apontou a escrita no livro, dando um passo a frente, me forçando a dar um pra trás. O livro separava nossos corpos. - Até o Naruto seria capaz de desfazer esse seu jutsu preguiçoso. - puxou o livro da minha mão, jogando-o na cama, passou a me encarar, olho no olho, estava tão perto que ouvia seu respirar por baixo da máscara.

Olhava-o meio assustada, navegando o olhar pelos seus olhos ameaçadores, por ter meu jutsu de ocultação, mais elaborado, desmascarado e ridicularizado, por sentir que a qualquer momento ele poderia usar o sharyngan ou me reprovar de uma vez, afinal, errei com uma coisa tão básica quanto a proteção de informações sigilosas ... por estar quase sem roupas. Engolindo seco, levei as mãos, protegendo os seios, com vergonha. O observei baixar os olhos, reparando no meu gesto. Virei o rosto, sentindo-o quente.

Um instante de silêncio se fez. Ouvia minha mãe bater com as panelas na cozinha, cantarolava agora.

- Vá se trocar! - ordenou baixo. - Vamos fazer nossa primeira aula aqui.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora