Parte 28

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Nós literalmente fechamos o bar! Fomos as últimas pessoas a deixarem o local, após umas três ou quatro pigarreadas da garçonete que nos encarava, meio irritada, enquanto terminava de ajeitar as mesas vazias. Foi tão divertido estar com eles, quem diria que essa noite acabaria assim!

Quem diria ...

Gai e Asuma tomaram o rumo oposto a nós, ambos trançando as pernas, cantarolando alto. O Sr. Sarutobi garantiu que estava bem e entregaria o Gai, são e salvo, em casa. Não duvidei, ele tinha boa resistência à bebida. Mas fiquei meio preocupada com o Gai que, desde quando começou a dar os primeiros sinais de embriaguez, não parou de provocar os amigos, chamando-os para disputar qualquer coisa, não importava o quê, ele só queria provar que era o melhor.

Agarrada ao braço do sensei, tentava me equilibrar, lidando com o alto teor de álcool dando curto circuito em meu cérebro. As ruas de Konoha estavam desertas e silenciosas, não fossem pelos gatos que saiam correndo, num miado resmungão, quando nos aproximávamos das lixeiras espalhadas pelas ruas.

- Agora fala, o que você e o Gai estavam conversando? - olhei-o confusa, tentando entender do que exatamente estava falando. - Qual é, ele nunca falaria sobre pênis com uma garota que mal conhece ... é muito cavalheiro para isso. Do que falaram? - apesar da embriaguez, estava sério.

Que droga, a conversinha não tinha colado! E agora, meu cérebro não estava me ajudando, não consegui pensar em nenhuma desculpa decente que justificasse ter mentido. A única coisa que me vinha à mente eram as palavras do Gai: "ele nunca vai admitir que tem sentimentos por você" ... "sentimentos por você" ... como um eco.

Fiquei encarando-o, com a garganta travada.

Sentenciou, quando viu que não o responderia:

- Tudo bem, então! Se não quer dizer, eu mesmo pergunto ao Gai. - voltou a olhar ao redor.

Me perdi no formato de seu rosto de perfil. Os contornos do rosto, pescoço, ombros e peitoral eram tão bem desenhados ... senti o músculo do bíceps rijo entre os dedos e sem querer, prendi a respiração diante da imponência do seu corpo. Não era só com o teor de álcool que estava tentando lidar aquela noite.

- Pare de me encarar! - me fitou de canto de olho por instantes.

- Não estou! - bufei baixinho, franzindo o cenho, voltando o olhar à rua.

Droga, estava dando muito na cara!

- Jurava que pediria ao Asuma pra te levar em casa, como fez da última vez. - riu-se, possivelmente do fato de ter sido tão burra, a ponto de não ter percebido que era um clone das sombras. - Não quis ir com ele porquê?

- Por que? - repeti lentamente, tentando encontrar o melhor jeito de tirá-lo do sério. - Tive que fazer uma escolha. - chamei sua atenção. - Ou era satisfazer meu desejo juvenil de, finalmente, ter meu crush me levando em casa ou ... - olhei-o firme nos olhos, fazendo uma pausa de propósito.

- Ou ...? - não se aguentou, o que me fez sorrir.

- Ou não ter que lidar com meu sensei enciumado pelos próximos treinos e sei que isso não seria nada bom pra mim, não é? - arregalei os olhos, fazendo uma negativa com a cabeça, assombrada só com a ideia.

- Muito sensato! - respondeu de imediato e cerrou o cenho, confuso, quando parou para refletir no que disse. - Ei, espera! De onde tirou isso? - me fez parar e encará-lo de frente. - Não tenho porque ter ciúmes de você! - afirmou com todas as letras.

- Isso é seu lado racional falando? - provoquei, olho no olho.

Por algum motivo, que só as borboletas em meu estômago sabiam, queria encontrar de novo aquele garoto apaixonado por detrás daquele olhar irritadiço. Navegou pelos meus olhos por instantes, ainda processando o que acabara de dizer, mas logo voltou a caminhar, suspirando pesado:

- Você está bêbada! ... Definitivamente, bêbada! - parecia tentar se convencer.

Não tinha como culpá-lo. Por que pensei que ele admitiria qualquer sentimento por mim? Ou era isso ou era colocar o treinamento em risco. Já sei ... já sei ...

Caminhamos em silêncio até próximos de casa. Quando nos aproximamos do portão do vizinho, o homem freou o passo, parando-nos.

- Está entregue. - colocou a mão quente sobre a minha, me convidando a soltá-lo, olhou-me fundo nos olhos. - Bom ... boa noite. - sorriu, gentil e sem graça, enfiando as mãos nos bolsos.

Antes que tomasse o rumo de volta, chamei-o um pouco apreensiva, fazendo seu corpo frear e se voltar rapidamente para mim.

- Pode me fazer um favor? Consegue arranjar uma desculpa para que eu falte no hospital amanhã? - o vi soltar um som chocho pela garganta, parecia decepcionado com o motivo de chamá-lo de volta.

- Hoje, você quer dizer. - respondeu, meio seco. - E por qual razão?

- Quero criar meu próprio arsenal de venenos. Me dei conta que ainda não tenho minhas armas de combate, preciso me preparar.

- Verdade! - parecia pensar sobre o assunto. - Crie as substâncias e amanhã veremos mais detalhes sobre o armamento. - retirou a mão do bolso, fazendo um sinal de "até logo", pronto para se retirar.

- Aliás ... - chamei sua atenção. Inalei profundamente o ar, tomando coragem. - ... adorei a noite, Sr. Hatake. Obrigada! - ao perceber que cutucava nervosamente as unhas, cruzei os braços, tentando disfarçar.

Tentei desviar o olhar, mas meus olhos foram puxados como a força de um ímã para os deles. Percebi que me encarava, mudo. Se não fosse a máscara, juraria que tinha um sorriso convencido em sua boca.

- É bom fechar a noite sem ser chamado de rato! - deu um passo em minha direção, naquela pose pretensiosamente arrogante. - Então quer dizer que já está me amando? - parou o corpo, quase colando-o ao meu.

Me olhava de cima, com seus olhos irritantemente presunçosos.

Quis socá-lo, mas ao mesmo tempo, não consegui resistir. E não foi bem minha culpa, foi ele quem começou. Me movi em sua direção, quase como se meus músculos tivessem vontade própria, me encaixando em seu corpo de uma forma sedenta, faminta por atenção.

Recebi uma inclinada de cabeça, trazendo sua boca quase até a minha, e um enlace forte na cintura, que me fizeram ficar sobre a ponta dos pés. Seu corpo estava quente e o meu trêmulo.

- Amando, não. - levei uma das mãos, que descansava em seu peitoral, até a borda da máscara, entre a bochecha e o nariz. Sussurrei, perdendo meus olhos no que estava prestes a revelar. - Não é pra tanto, seu rato. - baixei a máscara de vez e recebi um riso divertido. - Mas quero muito fazer uma coisa ... - não conseguia parar de encarar seus lábios, que agora deixavam o sorriso esvaecer.

Estava temerosa, não sabia se devia dar esse passo. Entrar nisso de novo, mesmo depois de ter dito que nada estava acontecendo entre nós, mesmo depois de ter pedido para que as coisas fossem exatamente como eram seguras de ser. Rapidamente, mirei seus olhos já semicerrados, buscando por reprovação.

Seus olhos encontraram os meus e seu tom denso e provocativo, me mostraram o caminho que deveria tomar:

- Desde quando eu te impeço de fazer o que quer?

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora