Parte 10

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Depois que o clone das sombras se desfez, uma chuva torrencial caiu, provocando um barulho ensurdecedor na janela daquele quarto. Foi o convite para as lágrimas escorrerem copiosamente, sem emitir ruído algum. Eu estava apavorada. Ainda tentava processar o que acabara de acontecer comigo. Quase fui vítima de estupro.

Quase! Se ele não tivesse chego a tempo ...

Fiquei repassando aquela cena na cabeça por horas a fio. Fui uma presa tão fácil. Estaria gravemente ferida ou talvez morta a essa altura. Não queria nem pensar ...

O efeito do veneno não passava de jeito nenhum, não conseguia mover nem a ponta do dedo. Era extremamente poderoso e com certeza, não fazia parte do arsenal de Konoha. Nunca tinha visto nada igual. Quem quer que fossem aquelas pessoas, eram de fora.

Quanto tempo mais eu ficaria daquele jeito?

O tempo transcorreu e não sei bem quanto tempo se passou.

...

Escutei um tilintar de chaves e uma porta bater. Meu coração saltou alarmado no peito até escutar uma bufada tediosa. Tive certeza de quem era.

Ouvi passos em minha direção.

A presença daquele homem perturbou meus sentidos. Escutava pingos de água baterem firmes contra o chão, ele devia estar encharcado da chuva. Agachou-se ao meu lado da cama e escutei seu respirar abafado pela máscara.

- Fiz o que pude, mas eles não sabem que tipo de veneno te deram e muito menos o antídoto. - suspirou um pouco frustrado. - Eram peões no jogo de alguém, mas garanti que nunca mais serão.

Um silêncio se fez por alguns instantes. Ele não se mexeu.

- Como você pode dar tanto trabalho assim, hein coisinha? - resmungou entre os dentes e se levantou. - Não sei porque estou perdendo meu tempo, você nem consciente está! - escutei-o se afastar, acender uma lâmpada e ... ligar um chuveiro.

Alguns minutos se passaram até que o chuveiro fosse desligado. Meus ouvidos estavam atentos a todos os movimentos que aquele homem fazia. Meu cérebro imaginava a cena, tentando construir uma realidade para quem estava totalmente às cegas.

Senti seu cheiro de sabonete perto de mim.

- E agora? - fez uma pausa. - Ahh, foda-se! - sentou-se ao meu lado, erguendo a coberta, se enfiando de baixo. - A cama é minha, caramba! - baforou tentando relaxar, depositou sua cabeça pesada no travesseiro que eu ocupava.

Sem querer tranquei a respiração, pelo que entendi, estava sem máscara, pois seu hálito batia quente em minha nuca.

Fiquei zonza. Repudiava qualquer tipo de pensamento onde eu e ele estivéssemos na mesma cama, como se isso fosse evitar o dia fatídico onde a gente, finalmente, teria que fazer ... sabe ... aquilo. Mas agora, estávamos na mesma cama!

Não estava sendo tão ruim como ...

Seu corpo estava a centímetros do meu e minha mente tentava perceber se usava roupas ou ... se é que estava vestido!

Ah, quis me socar! O que eu estava pensando? Ele ainda era um rato maldito! Se foi capaz de me ameaçar com o sharingan, o que faria comigo daquele jeito?

- Ei!!! - seu chamado em sussurro me cortou os pensamentos. - Ei, está mesmo apagada? - senti que se movia, trazendo o rosto mais perto do meu.

Outro instante de silêncio. Tentei respondê-lo, mas nada. Era horrível estar daquele jeito, preferia estar dormindo.

De repente, recebi um peteleco ardido na testa, mas meu corpo não reagiu.

Ah, mas era um rato infeliz mesmo! Estava me zoando a essa altura? Quando voltasse ao normal eu ...

- É ... te deram um sossega leão mesmo! - riu-se baixinho, relaxando mais. - Se você estivesse mentindo, já teria voado no meu pescoço a essa altura.

Ele tinha razão! Ah, como tinha!

- Estou tão cansado e você está ocupando a minha cama! - se ajeitou mais, afundando-se. - Que tal se te deixar dormir no chão, hã? - riu-se mais me fazendo temer que realmente fizesse aquilo comigo.

- Não! - suspirou, trazendo a boca perto da minha nuca. Esticou o braço por cima da coberta e me envolveu a cintura, arrastando meu corpo imóvel para perto do seu. Colamos os corpos. Tive a certeza de que estava sem camisa. - Você deve ter ficado tão assustada, não foi? - com a voz densa, encostou a boca no meu ombro. Acho que todos os meus poros se arrepiaram. - Desculpe ter demorado tanto.

Aquilo me surpreendeu. Meu queixo cairia se não estivesse paralisado. Cadê aquele cara que me irritava só de respirar, que tinha sempre o encantamento certo para despertar os demônios dentro de mim?

Não estávamos em treinamento e, para ele, nem consciente eu estava. Não havia porque ter uma gota de gentileza comigo. O que ele pensava que estava faz...

Ergueu a mão e passou-a delicadamente sobre meu rosto, afastando uma mecha de cabelo.

- Tá tudo bem! - sussurrou. - Você está segura aqui comigo. - me aconchegou mais em seus braços. - Pode ser a nossa cama por essa noite. - bocejou, cansado.

Seu corpo pesou, sonolento. Não conseguia tirar o foco do respirar quente em minha nuca. Ficamos instantes assim.

Escutei um risinho e senti um beijinho na pele do ombro.

- Tomara que acorde antes de você amanhã! Quero ver como vou me explicar se você nos pegar assim! - riu-se mais e me cheirou os cabelos. - Mas é que ... só dessa vez ... tá difícil resistir.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora