Parte 33

501 53 21
                                    

Deixei a casa do Sr. Hatake muito irritada! Minhas últimas palavras já eram familiares aos ouvidos dele:

"Rato imundo!", foi o que vociferei, dando as costas, batendo o pé bem forte até a saída, para ver se ecoava mais que sua risada de deboche ao fundo. Mas não foi o suficiente para abafar sua voz em tom autoritário, dizendo que teríamos treinamento mais tarde e que me buscaria no inferno se eu ousasse faltar. Bati a porta da frente com força.

Foda-se esse treinamento de merda!

Não sei bem como tudo começou, mas saímos do banho em provocações meio ardidas para quem tinha acabado de foder gostoso no chuveiro.

Essa situação era nova para ambos, constatei. Havia um desejo forte entre nós que tinha acabado de ser saciado. Restavam ali somente dois estranhos. Aluna e sensei. Médica e ninja. Ou qualquer coisa assim.

Era isso ... foi só desejo. Não havia mais nada que nos ligasse, a não ser essa missão maldita.

"Quero te foder até você sair da porra da minha cabeça." - as palavras dele ecoaram em minha mente. Talvez ele tivesse obtido sucesso, pois depois do banho passou a me responder com rispidez e sarcasmo, o que não combinava em nada com o homem que me acordou de madrugada querendo um pouco mais de mim. Talvez o desejo o tivesse cegado por um breve momento e agora, saciado, percebeu a loucura que fez, colocando o treinamento e a missão em risco ... por uma bobagem.

Talvez estivesse tentando se distanciar, sendo um escroto do caralho.

Acho que só voltamos ao que era familiar: a provocação de sempre, um pouco mais ardida que o comum, mas isso era plausível. Aqui o território é conhecido e seguro, pelo menos para mim. Apesar da raiva, sentia que era assim que as coisas tinham que ser.

----------

Ocupei-me a manhã toda no laboratório da Ambu criando meu próprio arsenal de substâncias tóxicas e possíveis antídotos. Precisava estar preparada para quando deixasse esse buraco de lugar.  E agora, essa ideia não parecia mais tão ruim. Parecia bem melhor do que respirar o mesmo ar que aquele imbecil.

Um dos ratos daquele ninho me observava o tempo todo, a pedido do Sr. Hatake. Parado perto da porta, analisava minha alma em silêncio absoluto. Chego a pensar que ele nem pisca de tão compenetrado que esta em meus movimentos. Teria medo da sua cara amarrada se não fosse irritante.

As horas passam incrivelmente rápido e só percebo quando minha barriga ronca que estou perto do horário do almoço.

Me surpreendo ao ver a figura do Yusuke adentrar o ambiente, vestindo o uniforme da Ambu. Meus olhos se prenderam nele, num misto de orgulho, saudade ... e contemplação. Aqueles olhos puxadinhos caiam bem naquele uniforme. Sorri.

Em segundos, recordei-me do nosso último encontro e senti uma tristeza capaz de tirar o sorriso dos meus lábios. Mas mantive-me firme.

Observei-o se aproximar com o velho sorriso de sempre e me abraçar forte, dando um beijo demorado em minha bochecha. Atônita, ainda segurava a pipeta e o becker nas mãos, enquanto sentia o calor de seu corpo e seu cheiro deliciosamente reconfortante.

- Credo, você está péssima! - sussurrou rindo, ao meu ouvido. - Não está dormindo, não? - se afastou e nos encaramos pela primeira vez, depois de tudo.

Se eu tinha dúvidas de como ele se comportaria comigo, elas caíram por terra, vendo que meu colega continuava o mesmo de sempre. Pelo menos se esforçava para isso.

Quis chorar.

- Como se você estivesse melhor! Agora se veste igual a esses ratos? - lancei um olhar entediado ao membro da Ambu na porta. Ele nem piscou.

- O que? Não gostou? - deu uma voltinha e sorriu orgulhoso, ajeitando o uniforme. - Estou começando a sair em missões, então preciso estar vestido adequadamente. - puxou o banco próximo a nós e se sentou, escorando o braço largo sobre a bancada. - Sou do corpo médico da Ambu, mas sou da Ambu!

- Fala como se fosse motivo de orgulho.

- S/N ... - me repreende, se divertindo.

Seu olhar se perdeu em mim e eu corei. Era difícil não lembrar do nosso beijo e das lágrimas derramadas quando nos demos conta de que o que tínhamos não poderia ir para a frente.

Voltei meus olhos aos aparelhos. Movimentava-os em minhas mãos, fingindo que estava prestando atenção ao que fazia. Mas a verdade era que eu só queria correr para aqueles braços e chorar que nem uma menininha assustada.

- Vai largar o hospital? - com a voz meio embargada, me preocupei em perder a companhia da única pessoa que me entendia nessa aldeia de merda.

- Bom, ainda estou em jornada dupla! - suspirou cansado. - Estou indo pra lá depois do almoço, na verdade. E você?

Parecia curioso. Meu colega sabia que agora eu estava nas mãos do corpo ninja da aldeia por causa da minha maldita habilidade, mas não sabia de mais nada. Nem poderia.

- O mesmo. Mas preciso terminar isso primeiro. - soltei o becker e levei a mão ao trapézio, tentando relaxá-lo com apertões ardidos. O cansaço começou a bater forte.

O vi se levantar e me rodear. Parou atrás de mim e levou ambas as mãos aos meus ombros, apertando-os com a pressão perfeita. Fechei meus olhos e larguei a pepita sobre o balcão, segurando-me para não desabar em pernas moles.

- Cansada, né? - sussurrou, divertido.

Muito, se quer saber. Inclusive, da vida.

- Um pouco. - suspirei, relaxando.

- Sabe que estou aqui, né? - sussurrou mais baixinho para que só eu ouvisse, dessa vez num tom mais sério.

- Sei. E agradeço. - toquei-o delicadamente em uma das mãos e foi inevitável nos encararmos.

Seu sorriso gentil parecia sincero, mas seus olhos puxadinhos, o brilho neles era triste. Eu via. E acho que ele via isso nos meus também. Como eu queria que tudo fosse diferente.

Um pigarro forçado ecoou no ambiente. Nos voltamos para a porta e demos de cara com a figura entediada do Sr. Hatake parado ao lado da múmia que não piscava.

- Que coisa mais linda, querem um quarto? - seu sarcasmo azedo fez o Yusuke remover as mãos dos meus ombros rapidamente, deixando um vazio na minha.

Era nítido o respeito que meu colega tinha pelo Sr. Hatake. Por mais que fosse um membro da Ambu, quase um igual por igual na hierarquia ninja, não ousava desafiá-lo.

- O que você quer aqui? - o fuzilei, já em cólicas. E voltei minha fúria para o rato silencioso ao lado dele. - Você o chamou? - foi só nessa hora que a sua expressão mudou, fazendo uma cara como se eu fosse louca.

- Vamos, a Tsunade nos espera. - sua ordem seca e entediada me fez encará-lo de volta.

Deu as costas e saiu. Mas não sem antes me repreender com o olhar.

Voltei-me para meu colega e pude ganhar um abraço rápido. Quando nos afastamos, toquei seu rosto com uma das mãos, lançando-lhe um olhar de quem estava muito cansada. Ele me devolveu um sorriso compreensivo e beijou minha mão suavemente, indicando com a cabeça para que eu seguisse aquele rato demoníaco.

Resolvi obedecer, antes que as portas do inferno se abrissem por minha causa.

Treinamento Nível S - Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora