26 - A liberação

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TOBIAS SEMPRE FOI O "CABEÇA" DE TUDO. Era ele o mais interessado em usar as janelas para a libertação. Mara confessou que o garoto escolheu minuciosamente os alunos que fariam parte do seu plano e só conversou com aqueles que julgava tristes o bastante para aceitarem a ideia.

Foi cuidadoso.

Segundo Mara; para o Tobias, Liza era perfeita porque perdera a melhor amiga recentemente e por sempre ter sido uma das mais atacadas do colégio. Rafael era perfeito, pois, além de ser uma das vítimas favoritas dos valentões do colégio, também vivia o mesmo luto por Nathalia. Já quando falou de Eduardo, ele o chamou de "O calouro revoltado com a popularidade do irmão," nesses termos. Para Tobias, Eduardo toparia qualquer coisa que desviasse os holofotes do Eric para ele. Até mesmo morrer.

Tobias tinha tudo tão calculado, cada detalhe, que não imaginou que alguns dias de ausência seriam suficientes pra seu plano desmoronar. Quando o garoto voltou ao colégio, dois dias depois do dia em que deveriam colocar o plano em ação, viu o trabalho de meses jogado no lixo. Seus comparsas, os que ele julgava tristes demais para seguirem a vida, agora pareciam otimistas, cheios de expectativas pro futuro.

Ele não acreditou.

— Como assim "Não vai rolar?" — Questionou, com a voz arrojada. Estava sentado em um dos bancos no pátio, diante da Liza e Eduardo, com quem se cruzou enquanto entrava no colégio. O garoto não parecia estar no seu melhor momento, sua respiração estava funda, o corpo tremendo e, com cabeça abaixada, ele escondia o rosto sob o capuz do moleton volumoso que trajava. Cotovelos apoiados sobre os joelhos e mãos se amassando com tanta pressão que os dedos titubeavam.

— Vocês estão acovardando? — Sua voz soou entredentes.

Liza e Eduardo se olharam, assustados e preocupados com o garoto que gemia levemente toda vez que se movia.

—  Você não parece bem, Tobias. — Liza afirmou. — O que está havendo?

— Eu estou bem...

— Não, não estás. — A menina tentou se aproximar, mas ele se afastou. Liza parou, o encarou inquietada. — Você está passando mal?

O menino deu de ombros, permaneceu em silêncio.

— Aí... Se tiver precisando de ajuda é só dizer. — Eduardo acrescentou.  — A Mara está em aula agora, mas se quiser, a gente pode levar você até a enfermeira ou pra casa se preferir.

Tobias se espantou.

— Pra casa?! Que casa?! — Levantou o rosto. — Eu não volto para aquele lugar nunca mais! — Afirmou.

Nesse momento, o capuz que cobria sua face caiu para trás, deixando o rosto completamente descoberto e expondo para os comparsas tudo o que tentava esconder: O olho roxo, quase fechado de tão inchado que estava, além dos hematomas espalhados ao redor. Sinais claros de agressão, mais uma de muitas. O garoto rapidamente percebeu o deslize e abaixou a cabeça, envergonhado. Vestiu o capuz novamente.

— Ah, meu Deus... O que aconteceu? — Liza arregalou os olhos, assombrada. — Quem fez isso com você?

— Ninguém! — O garoto colocou a mão sobre o rosto tentando cobrir as partes que o capuz não alcançava. — Na verdade, não importa... Isso não é nada que...  — A voz começou a falhar. — Não é nada que não tenha acontecido antes, ou que... que não vá acontecer de novo enquanto eu continuar respirando. Enquanto eu não colocar um fim.

Liza e Eduardo se encararam novamente. Nenhum dos dois sabia como reagir a situação.

— Bom... Tobias, — Liza pigarreou. — A gente já não quer colocar um fim... Nós estamos fora do plano.

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