Fogueira.

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Aquele dia se arrastou como uma lesma. Nenhuma atividade do hotel chamava minha atenção. Decidi que praticaria mergulho, mas eu teria que fazer um treinamento de 3 dias na piscina com um dos supervisores antes de ir para o mar. Desisti imediatamente, óbvio.

Quando a noite chegou, fiquei em uma das redes da varanda ouvindo música e olhando o relógio a todo momento. Talvez eu estivesse um tanto ansiosa. Ainda não havia me decidido se iria com a Billie ou não. Eu nem conheço a garota. Até onde eu sei ela poderia me levar para o meio da mata e me esquartejar. Ando lendo livros de serial killers demais.

Enquanto ouvia música, recebi uma notificação do instagram.

"Se agasalhe, essa noite irá fazer frio." - Era Billie, que inclusive tinha acabado de me seguir no instagram. Não segui de volta e também não abri a mensagem, li pela barra de notificação.

Faltando alguns minutos para meia-noite eu decidi que iria, afinal não tinha nada melhor pra fazer. Coloquei uma roupa casual e um moletom azul e corri para o bar sem que meus pais notassem. Eu poderia me arrepender disso tão facilmente. Mas fui mesmo assim.

Cheguei no bar e Billie parecia já preparada para sair.

- Achei que não viria. - ela disse com um sorriso. Parecia realmente feliz em me ver.

Era a primeira vez que a via sem o uniforme. Estava com uma blusa de alça colada em seu corpo, deixando seu decote facilmente visível, uma calça folgada estilosa e segurava um moletom em seus braços.

Ok, ela era linda.

- Quando você disse que era um tantinho longe daqui... quanto é esse tantinho? - perguntei.

- Uns 30 minutos andando. Iremos praticamente atravessar a ilha.

- Isso não parece uma boa ideia. - falei.

- Confia em mim.

"Isso também não parece uma boa ideia", pensei.

Saímos do aglomerado do hotel e começamos a andar por entre as árvores. Para minha surpresa, o trajeto era iluminado e pelas marcas do caminho do chão, aparentemente era muito utilizado, marcados por pegadas de sapatos. Nós caminhávamos um pouco afastadas. Eu estava com as duas mãos nos bolsos do moletom.

Billie retirou da sua bolsa pequena um cigarro que parecia ser de maconha e acendeu. Não era como se aquilo tivesse me surpreendido, porque uma vez ou outra eu costumava fumar na faculdade. Mas o fato dela ter feito aquilo de uma forma tão natural sem se importar em como eu reagiria me chamou a atenção.

- Quer? - ela me ofereceu.

- Não, obrigada.

- O que te trouxe aqui? Já que nitidamente esse lugar não faz muito a sua cara. - ela perguntou enquanto soltava a fumaça lentamente.

- Basicamente meus pais. Segundo eles eu precisava passar um tempo com a família.

- Dá pra ver que você está adorando. - ela disse ironicamente.

- O que te faz trabalhar aqui? Quer dizer... da pra ver que você tem muito talento com música.

- Descobriu isso enquanto me stalkeava no instagram? - ela disse sorrindo. Revirei os olhos. - Viver de música é muito complicado. Mas talvez seja difícil pra você perceber isso.

- Como assim?

- Você é rica, Anne. - ela disse colocando o cigarro na boca outra vez.

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora