Cabana.

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Eu nem sabia por onde começar. Aquilo estava tão errado, eu estava invadindo sua privacidade. Mas na verdade minha tentativa era de ajudá-la, ou talvez provar para mim mesmo que eles estavam errados, que Billie não faria isso. Comecei abrindo uma pasta qualquer do seu notebook. Não tinha nada fora do comum ali, muitas fotos antigas e letras de músicas. Realmente fazia bastante tempo que a Billie trabalhava no hotel.

Algumas fotos do Justin e Finneas juntos me surpreenderam. Aparentemente eles eram muito amigos. Eu não vi essa proximidade entre os dois desde que cheguei a ilha. Na verdade Finneas vivia recluso. Nas fotos eles apareciam em frente a cabana segurando ferramentas de construção, aparentemente as fotos foram tiradas quando a construíram.

Ao passar as mídias, um vídeo me chamou atenção.

Pela voz, Billie quem estava filmando. Justin e Finneas apareciam na câmera. Ela parecia descontraída, mas eles pareciam bravos e impacientes.

*Vídeo on*

- Billie, desligue isso. - dizia Finneas. - Vamos, desligue. - ele colocava as mãos na câmera enquanto caminhava em direção a cabana.

- Sorriam! Vamos! - ela continuava filmando e também filmou seu rosto, estava sorridente. - Por que eu não posso registrar esse momento? Me deixem.

- Billie, desligue a porra da câmera. - Justin apareceu novamente no vídeo extremamente estressado.

A filmagem estava péssima pois Billie estava caminhando e filmando.

- Você precisa controlar a sua irmã. - Justin dizia no vídeo.

- Como vocês são chatos pra caralho. - disse Billie.

- Billie, eu não vou repetir.

Essa foi a última frase dita por Finneas antes da filmagem encerrar.

*Vídeo off*

Pela data, o vídeo havia sido gravado há quase 10 meses. As reações dos garotos me deixaram extremamente intrigada. Eles agiam como se estivessem escondendo algo e Billie parecia não se importar ou não saber. Por algum motivo, eles não queriam que ela os filmasse naquele lugar, ou mais especificamente, na cabana.

Depois daquele vídeo, o teor das fotos de Billie mudaram. Tinham poucos momentos felizes, não tinham fotos com o Finneas ou com o Justin. Apenas fotos aleatórias.

Fechei rapidamente o notebook e logo refleti.

- Eu preciso ir até a cabana. - falei sozinha.
                                   ***

Já passavam das 3 horas da madrugada. Apesar de o hotel estar iluminado, já estava bem vazio. Acredito que os últimos acontecimentos haviam feito os hóspedes recuarem um pouco. Saí do quarto de Billie e tentei deixar tudo da forma como encontrei.

Billie estava na ilha, ela tinha que estar. Não tinha como ela ter ido para algum lugar, a não ser que tenha um barco, um jatinho, um helicóptero... o que eu acho bem improvável. A cabana seria o lugar onde ela poderia estar, afinal o gerente não sabia da sua existência, tampouco os policiais. Eu estava decidida a ir lá. Sozinha. Eu já conhecia o caminho.

Enquanto eu começava a caminhar por entre as árvores senti um arrepio percorrer toda minha espinha. Eu definitivamente estava com medo. O som dos insetos e dos animais deixava tudo pior. Um vento gelado me atingia, me fazendo até mesmo ranger os dentes. Puxei meu capuz na tentativa de cobrir melhor minhas orelhas. Olhei meu celular, sem sinal e quase descarregando. Eu deveria voltar para o hotel. Mas eu estava determinada a ir até a cabana. Algo me dizia que eu deveria ir até lá.

Tive a impressão de estar sendo seguida, olhei para ambos os lados e depois para trás. Não havia ninguém ali. Ainda faltava metade do caminho.

Continuei andando com passos rápidos. Eu estava ofegante pelo frio, pelo medo e pela velocidade que eu estava andando. De longe, já conseguia ver um pouco da cabana. Estava quase lá.

Quando cheguei, desacelerei meus passos, chegando em frente a porta. Apenas naquele momento me dei conta de que eu nunca havia entrado ali. Quando viemos para a fogueira, ficamos apenas do lado de fora. O Justin nunca nos convidou para entrar.

Não precisou que eu forçasse muito a porta para ela abrir, não era como se fosse muito segura. Liguei a lanterna do meu celular e apontei para todos os lados da cabana. Estava vazia. Era composta por apenas um único cômodo.

Pude ver um sofá velho, um tapete, uma mesinha de plástico, algumas garrafas vazias de cerveja em um canto, caixas de pizza e algumas cadeiras. Na parede tinha um jogo de dardos e diversos rabiscos.

Tinha sido uma péssima ideia ir até a cabana. Mas pelo menos agora eu poderia descartar a possibilidade de Billie estar aqui. Comecei a caminhar em direção a porta para sair e já estava prestes a fechar, quando ouvi um barulho vindo de dentro da cabana.

Aquilo era impossível, eu tinha acabado de olhar tudo ali dentro. Entrei novamente. Não tinha nada anormal ali.

Comecei a andar apontando a lanterna do meu celular para todos os cantos novamente, e nada. Até que em um dos meus passos, pisei em uma madeira barulhenta no piso, dando a impressão de que estava solta. Estava abaixo do tapete.

Retirei o tapete e iluminei com a lanterna. Pude ver uma pequena fechadura.

Aquilo era uma passagem. Pensei duas vezes antes de abri-la, mas a vontade de descobrir o que estava acontecendo me convenceu rapidamente.

Puxei a fechadura, exibindo uma passagem subterrânea e escura no chão. Era uma longa escada da madeira. Olhei por alguns segundos e me levantei. Pensei, pensei tanto que ja estava fazendo buracos no chão.

Eu decidi entrar.

Coloquei os pés na escada e dei o primeiro passo. Continuei descendo e descendo até encontrar o chão. Estava tudo escuro.

Antes que eu pudesse colocar os dois pés no chão, ouvi uma voz atrás de mim e engoli o seco. Eu imediatamente fiquei estática e todo o meu corpo estremeceu.

- Você não deveria ter vindo aqui.

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora