Suspeita.

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Meus pais estavam decididos a encurtarem aquela viagem. Tínhamos nos preparado para ficar 3 semanas na ilha, mas diante das circunstâncias, minha mãe previa retornar para Nova York antes mesmo de completar 10 dias. Para isso, tínhamos que esperar novos hóspedes chegarem na embarcação. As nossas joias ainda não haviam sido encontradas. Eu particularmente não estava me importando muito com isso. Nunca fui uma pessoa materialista, mas meus pais estavam furiosos e já não estavam mais aproveitando suas férias.

Naquele momento eu estava na sala do gerente do hotel com um dos policiais encarregados do furto. Ele havia me chamado para fazer algumas perguntas. Eu estava sendo interrogada?

- Senhorita Hastings, sente-se, por favor. - disse o policial, que estava ao meu lado, em frente a mesa do gerente. - Bom, eu preciso que a senhorita seja extremamente sincera comigo.

- E por que eu não seria?

- Algumas testemunhas avistaram uma funcionária entrando com você no elevador no momento da tempestade. Nesse ponto, as câmeras de segurança já haviam sido desligadas.

Eles estavam desconfiando de Billie. Até aquele momento, isso jamais tinha passado na minha cabeça. Pelo pouco que eu entendia do direito, por conta da minha mãe, naquele ponto ela deveria ser a maior suspeita. Eu me sentia culpada de ter deixado ela me levar até o quarto.

- Não sei o que suas testemunhas viram, mas uma funcionária do hotel apenas me ajudou a entrar no elevador, pois eu estava um pouco embriagada. Isso é crime?

- Não, senhorita Hastings, queremos apenas saber se você tem algo mais a nos dizer para ajudar sua família. O fato de terem desativado as câmeras indicam que o suspeito é um funcionário. Você não está sendo interrogada aqui.

- Se não estou sendo interrogada, gostaria de sair, por gentileza.

O gerente e o policial se entreolharam enquanto eu me levantava. Eu sabia que não era obrigada a responder aquelas perguntas. Eu precisava encontrar Billie imediatamente.

- Senhorita Hastings. - o gerente do hotel chamou minha atenção quando eu já estava na porta. - Caso esteja indo a procura da senhorita Eilish, ninguém a viu no hotel durante todo o dia. Assim como o seu irmão. Ela não apareceu para o trabalho.

Aquilo fez a minha pressão sanguínea cair por alguns instantes. Ela definitivamente era uma suspeita e de alguma forma eles sabiam que tínhamos certa intimidade, já que supôs que eu iria a sua procura.

- Não sei do que está falando. - disse e saí.

Por mais que eu não tivesse certeza de nada, por mais que eu não a conhecesse a fundo, me pareceu errado ajudar a incriminá-la sem evidências concretas. Eu não queria aceitar.

Fiquei repassando a noite passada na minha cabeça por diversas vezes. Entramos no quarto, ela cuidou de mim e depois saiu. Eu não ouvi nada, o cofre possui dispositivo de som. Mas eu não posso ignorar o fato de que eu estava bêbada e apaguei em questão de segundos. Ela não previu me levar ao quarto aquela noite. Ela seria capaz disso?

Não, Billie. Por favor, não.
                                         ***

Tive uma ideia que confesso ser indubitavelmente mirabolante. Naquela madrugada eu decidi que iria até o quarto onde Billie dormia. Era difícil fazer qualquer coisa naquele hotel sem ser vista por no mínimo por uma ou duas pessoas, já que os beberrões ficavam de pé praticamente toda madrugada. Passei horas estudando a estrutura do hotel aquela tarde, até achar um jeito de chegar nos apartamentos dos funcionários pelos fundos. Eu estava exausta. Aquele hotel era imenso.

Esperei a madrugada chegar, coloquei meu velho moletom da NYU e deixei o capuz sobre minha cabeça. Andei discretamente até chegar no corredor dos quartos dos funcionários. Estava vazio. Para minha sorte, a maioria dos funcionários estavam aparentemente dormindo.

Tentei me lembrar da posição da janela do quarto da Billie onde a vi há alguns dias. Pelos meus cálculos seria o quarto 203, e eu estava parada bem a sua frente. Coloquei minhas luvas, com o intuito de não deixar impressões digitais ali e tentei abrir, mas obviamente estava trancado. Naquele momento as cenas que eu via em filmes teria de funcionar, eu oficialmente tentaria abrir uma porta com um grampo de cabelo.

Posicionei meu ouvido na porta para ouvir melhor o som da fechadura enquanto inseria o grampo na abertura e manuseava com cuidado, até achar o encaixe. Preciso de um desconto, faço faculdade de literatura e não de engenharia.

Passei longos minutos tentando abrir a porta, com extremo receio de alguém aparecer no corredor, até ouvir um pequeno estalo. Girei a maçaneta aos poucos, torcendo para ter dado certo. Para minha surpresa, eu consegui.

- Isso! - comemorei sozinha com um pequeno pulo.

Entrei em seu quarto e acendi a luz. Era um quarto pequeno. Tinha uma cama de solteiro, uma cômoda, um violão, algumas roupas espalhadas, um grande espelho, um colchão no chão, uma mesinha com notebook e diversas colagens de bandas pelas paredes. Era realmente a cara da Billie. Apesar de toda a situação, por algum motivo era bom conhecer um pouco do seu mundo.

Nitidamente os policiais ainda não tinham conseguido um mandado para vasculhar ali, ou seja, não tinham provas suficientes para isso.

Passei alguns segundos observando o quarto, tocando nos objetos em cima da cômoda, e até senti o cheiro do seu moletom que estava na cama. Em cima da mesinha do notebook tinham diversas letras que eu supus serem de músicas que ela escrevia. Eram realmente lindas.

Eu não sabia bem o que eu pretendia encontrar ali. Se Billie tivesse feito aquilo, ela certamente não deixaria as joias em seu quarto. Mas eu esperava ao menos buscar algumas pistas de onde ela poderia estar ou se ela seria capaz de fazer aquilo.

Seu notebook obviamente tinha senha para acesso. Tentei por diversas vezes, sem sucesso. Após mais algumas tentativas frustradas, desisti e me recostei na cadeira giratória que eu estava sentada.

Ao girar pelo quarto, visualizei um porta-retrato na pequena mesinha que ficava ao lado da cama. Na foto estava Billie e Finneas ainda pequenos e sua mãe ao meio. Peguei o objeto para ver melhor. Eles estavam nitidamente felizes. Olhei o verso do porta retrato e tinha uma data: 15/04/2010.

Coloquei essa numeração como senha no seu notebook e imediatamente foi desbloqueado.

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora